Difference between revisions of "Borges, Jorge Luís - Livros Proibidos"

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*'''Jorge Luis Borges'''<br />
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*'''Jorge Luis Borges''' (Buenos Aires, 1899 — Genebra, 1986)<br />
Buenos Aires, 1899 — Genebra, 1986)<br />
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'''Jorge''' Francisco Isidoro '''Luis Borges''' Acevedo foi um escritor, poeta, tradutor, crítico literário e ensaísta argentino.<br />
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'''Jorge''' Francisco Isidoro '''Luis Borges''' Acevedo foi um escritor, poeta, tradutor, crítico literário e ensaísta argentino.<br />
 
*'''Livro Proibido'''<br />
 
'''História Universal da Infâmia, Jorge Luís Borges'''<br />
 
'''''Historia Universal da Infâmia''''' (1935) Livro divertido e inteligente. São contos do começo da década de 1930 em que o autor coloca-se no lugar do leitor, criando releituras de obras alheias que refletem a habilidade distintiva de Borges em fundir elementos filosóficos e literários de maneira única.
 
  
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*Livro Proibido '''História Universal da Infâmia'''<br />
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'''''Historia Universal da Infâmia''''' (1935) Livro divertido e inteligente. São contos do começo da década de 1930 em que o autor se coloca no lugar do leitor, criando releituras de obras alheias que refletem a habilidade distintiva de Borges em fundir elementos filosóficos e literários de maneira única.<br />
  
 
* Excerto 1<br />
 
* Excerto 1<br />
 
  Em 1517, o padre Bartolomé de las Casas teve muita pena dos índios que se extenuavam nos laboriosos infernos das minas de ouro das Antilhas e propôs ao imperador Carlos V a importação de negros, que se extenuavam nos laboriosos infernos das minas de ouro das Antilhas. A essa curiosa variação de um filantropo devemos factos infinitos: os blues de Handy, o êxito alcançado em Paris pelo pintor doutor oriental D. Pedro Figari, a boa prosa bravia do também oriental D. Vicente Rossi, o tamanho mitológico de Abraham Lincoln, os quinhentos mil mortos da Guerra de Secessão, os três mil e trezentos milhões gastos em pensões militares, (…).<br />
 
  Em 1517, o padre Bartolomé de las Casas teve muita pena dos índios que se extenuavam nos laboriosos infernos das minas de ouro das Antilhas e propôs ao imperador Carlos V a importação de negros, que se extenuavam nos laboriosos infernos das minas de ouro das Antilhas. A essa curiosa variação de um filantropo devemos factos infinitos: os blues de Handy, o êxito alcançado em Paris pelo pintor doutor oriental D. Pedro Figari, a boa prosa bravia do também oriental D. Vicente Rossi, o tamanho mitológico de Abraham Lincoln, os quinhentos mil mortos da Guerra de Secessão, os três mil e trezentos milhões gastos em pensões militares, (…).<br />
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* Excerto 2<br />
 
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  Nos princípios do século XIX (a data que nos interessa) as vastas plantações de algodão que havia nas margens eram cultivadas por negros, de sol a sol. Dormiam em barracas de madeira, sobre o piso de terra. Fora da relação mãe-filho, os parentescos eram convencionais e turvos. Tinham nomes, mas podiam prescindir dos apelidos. Não sabiam ler. A sua amolecida voz de falsete cantarolava um inglês de lentas vogais. Trabalhavam em filas, curvados sob o azorrague do capataz. Fugiam, e homens de fortes barbas saltavam sobre belos cavalos e cães próprios para caçar feras seguiam o seu rastro.<br />A um sedimento de esperanças irracionais e medos africanos tinham junto as palavras de Escritura: a sua fé, por conseguinte, era a de Cristo. Cantavam profundos e amontoados: Go down Moses. O Mississípi servia-lhes de magnífica imagem do sórdido Jordão.<br />Os proprietários dessa terra trabalhadora e desses bandos de negros eram ociosos e ávidos cavalheiros de cabeleira ao vento, que habitavam enormes casarões voltados para o rio – sempre com um pórtico pseudogrego de madeira de pinheiro-branco. Um bom escravo custava-lhes mil dólares e não durava muito. Alguns cometiam a ingratidão de adoecer e morrer. Havia que tirar desses bens instáveis o maior rendimento. <br />
 
  Nos princípios do século XIX (a data que nos interessa) as vastas plantações de algodão que havia nas margens eram cultivadas por negros, de sol a sol. Dormiam em barracas de madeira, sobre o piso de terra. Fora da relação mãe-filho, os parentescos eram convencionais e turvos. Tinham nomes, mas podiam prescindir dos apelidos. Não sabiam ler. A sua amolecida voz de falsete cantarolava um inglês de lentas vogais. Trabalhavam em filas, curvados sob o azorrague do capataz. Fugiam, e homens de fortes barbas saltavam sobre belos cavalos e cães próprios para caçar feras seguiam o seu rastro.<br />A um sedimento de esperanças irracionais e medos africanos tinham junto as palavras de Escritura: a sua fé, por conseguinte, era a de Cristo. Cantavam profundos e amontoados: Go down Moses. O Mississípi servia-lhes de magnífica imagem do sórdido Jordão.<br />Os proprietários dessa terra trabalhadora e desses bandos de negros eram ociosos e ávidos cavalheiros de cabeleira ao vento, que habitavam enormes casarões voltados para o rio – sempre com um pórtico pseudogrego de madeira de pinheiro-branco. Um bom escravo custava-lhes mil dólares e não durava muito. Alguns cometiam a ingratidão de adoecer e morrer. Havia que tirar desses bens instáveis o maior rendimento. <br />
  
* Excerto 3<br />  
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* Excerto 3<br />                                                               
                                                              
 
 
  Os cavalos roubados num estado e vendidos noutro foram somente uma digressão na carreira delinquente de Morell, mas representavam antecipadamente o método que agora lhe assegurava o seu bom lugar numa História Universal da Infâmia. Este método é único, não só pelas circunstâncias sui generis que o determinaram, mas pela abjecção que requere, pelo seu fatal manejo da esperança e pelo desenvolvimento gradual, semelhante à atroz evolução de um pesadelo. (…) Quanto ao número de homens, Morell chegou a comandar uns mil, todos ajuramentados. Duzentos formavam o Conselho Superior, que promulgava as ordens que os restantes oitocentos cumpriam. O risco recaía nos subalternos. No caso de rebelião, eram entregues à justiça ou arremessados ao rio volumoso de águas pesadas, com uma enorme pedra nos pés. Com frequência eram mulatos. A sua facinorosa missão era a seguinte:<br />
 
  Os cavalos roubados num estado e vendidos noutro foram somente uma digressão na carreira delinquente de Morell, mas representavam antecipadamente o método que agora lhe assegurava o seu bom lugar numa História Universal da Infâmia. Este método é único, não só pelas circunstâncias sui generis que o determinaram, mas pela abjecção que requere, pelo seu fatal manejo da esperança e pelo desenvolvimento gradual, semelhante à atroz evolução de um pesadelo. (…) Quanto ao número de homens, Morell chegou a comandar uns mil, todos ajuramentados. Duzentos formavam o Conselho Superior, que promulgava as ordens que os restantes oitocentos cumpriam. O risco recaía nos subalternos. No caso de rebelião, eram entregues à justiça ou arremessados ao rio volumoso de águas pesadas, com uma enorme pedra nos pés. Com frequência eram mulatos. A sua facinorosa missão era a seguinte:<br />
 
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* Para saber mais:
 
* Para saber mais:
 
https://www.companhiadasletras.com.br/livro/9788535920727/historia-universal-da-infamia-1935
 
https://www.companhiadasletras.com.br/livro/9788535920727/historia-universal-da-infamia-1935

Revision as of 13:49, 6 March 2024

Borgesfoto.jpg Historia-universal-da-infamia-1935.jpg

  • Jorge Luis Borges (Buenos Aires, 1899 — Genebra, 1986)
Jorge Francisco Isidoro Luis Borges Acevedo foi um escritor, poeta, tradutor, crítico literário e ensaísta argentino.
  • Livro Proibido História Universal da Infâmia
Historia Universal da Infâmia (1935) Livro divertido e inteligente. São contos do começo da década de 1930 em que o autor se coloca no lugar do leitor, criando releituras de obras alheias que refletem a habilidade distintiva de Borges em fundir elementos filosóficos e literários de maneira única.
  • Excerto 1
Em 1517, o padre Bartolomé de las Casas teve muita pena dos índios que se extenuavam nos laboriosos infernos das minas de ouro das Antilhas e propôs ao imperador Carlos V a importação de negros, que se extenuavam nos laboriosos infernos das minas de ouro das Antilhas. A essa curiosa variação de um filantropo devemos factos infinitos: os blues de Handy, o êxito alcançado em Paris pelo pintor doutor oriental D. Pedro Figari, a boa prosa bravia do também oriental D. Vicente Rossi, o tamanho mitológico de Abraham Lincoln, os quinhentos mil mortos da Guerra de Secessão, os três mil e trezentos milhões gastos em pensões militares, (…).
  • Excerto 2
Nos princípios do século XIX (a data que nos interessa) as vastas plantações de algodão que havia nas margens eram cultivadas por negros, de sol a sol. Dormiam em barracas de madeira, sobre o piso de terra. Fora da relação mãe-filho, os parentescos eram convencionais e turvos. Tinham nomes, mas podiam prescindir dos apelidos. Não sabiam ler. A sua amolecida voz de falsete cantarolava um inglês de lentas vogais. Trabalhavam em filas, curvados sob o azorrague do capataz. Fugiam, e homens de fortes barbas saltavam sobre belos cavalos e cães próprios para caçar feras seguiam o seu rastro.
A um sedimento de esperanças irracionais e medos africanos tinham junto as palavras de Escritura: a sua fé, por conseguinte, era a de Cristo. Cantavam profundos e amontoados: Go down Moses. O Mississípi servia-lhes de magnífica imagem do sórdido Jordão.
Os proprietários dessa terra trabalhadora e desses bandos de negros eram ociosos e ávidos cavalheiros de cabeleira ao vento, que habitavam enormes casarões voltados para o rio – sempre com um pórtico pseudogrego de madeira de pinheiro-branco. Um bom escravo custava-lhes mil dólares e não durava muito. Alguns cometiam a ingratidão de adoecer e morrer. Havia que tirar desses bens instáveis o maior rendimento.
  • Excerto 3
Os cavalos roubados num estado e vendidos noutro foram somente uma digressão na carreira delinquente de Morell, mas representavam antecipadamente o método que agora lhe assegurava o seu bom lugar numa História Universal da Infâmia. Este método é único, não só pelas circunstâncias sui generis que o determinaram, mas pela abjecção que requere, pelo seu fatal manejo da esperança e pelo desenvolvimento gradual, semelhante à atroz evolução de um pesadelo. (…) Quanto ao número de homens, Morell chegou a comandar uns mil, todos ajuramentados. Duzentos formavam o Conselho Superior, que promulgava as ordens que os restantes oitocentos cumpriam. O risco recaía nos subalternos. No caso de rebelião, eram entregues à justiça ou arremessados ao rio volumoso de águas pesadas, com uma enorme pedra nos pés. Com frequência eram mulatos. A sua facinorosa missão era a seguinte:
  • Para saber mais:

https://www.companhiadasletras.com.br/livro/9788535920727/historia-universal-da-infamia-1935 https://deusmelivro.com/critica/historia-universal-da-infamia-jorge-luis-borges-15-4-2015/

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