Difference between revisions of "Andrade, Eugénio - Livros Proibidos"

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*'''Eugénio de Andrade''', 1923-2005.<br />
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Poeta, escritor, tradutor, funcionário público / inspetor administrativo. Odiou a ditadura salazarista-marcelista, tendo dedicado textos a vários lutadores antifascistas, e afirmou-se como radicalmente antibelicista e como um cantor da liberdade. A liberdade de ver, de ouvir e de sentir, a liberdade de amar.<br />
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*Livro Proibido - '''Encontro - Antologia de Autores Modernos'''<br />
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No livro censurado '''Encontro - Antologia de Autores Modernos''' estão reproduzidos dois poemas do autor - '''''Urgentemente''''' e '''''Mar, Mar e Mar'''''.<br /><br />[[File:Encontro-Antologia-de-Autores-Modernos-censura-excerto.jpg|672px]]
  
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O título '''As Palavras Interditas''' [tem] um duplo sentido: o mais imediato que reenvia para o contexto censório da época; e outro mais profundo em que a associação da palavra ao interdito tem algo de sagrado, o que dá ao leitor uma escolha que nunca reduz o poema ao imediato, embora de modo algum complique a sua compreensão. E vem daqui a outra qualidade desta poesia, que é a sua capacidade de comunicar com o leitor, muitas vezes sem que este se aperceba do que se encontra para lá dessa aparente facilidade de expressão.(Pág. 11,12)<br />
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*'''''1. Urgentemente'''''<br />
https://recursos.portoeditora.pt/recurso?id=23830277
 
 
 
https://ubibliorum.ubi.pt/bitstream/10400.6/4323/1/umapalavrapreocupada.pdf
 
 
 
*'''Urgentemente'''<br />
 
 
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Este poema foi publicado originalmente no livro '''Até Amanhã ''' de 1951 e posteriormente no livro '''"Eugénio de Andrade Poesia e Prosa[ 1940-1979] I Vol."'''(pág.118) 
 
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No  poema '''“Sobre o Tejo”''', o poeta aponta especificamente para um conflito, a Guerra Colonial Portuguesa, que decorreu nas frentes de Moçambique, Guiné e Angola, entre 1961 e 1974. O texto concentra-se num soldado que, sendo anónimo, representa todo um universo de jovens recrutas, tantas vezes alheios às razões de um combate que não é o seu:<br />
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* Leituras de outros poemas socialmente interventivos publicados noutras obras suas:<br />
  
O poema captura bem a atmosfera de tristeza sentida na despedida dos barcos de guerra, novas naus que partiam ao vento da retórica imperial, carregadas de militares, e regressavam com muitos deles em caixões de pinho. Expressões como “triste (...) chuva”,
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*'''''2. Sobre o Tejo'''''<br />
“sílabas escuras”, “luz de desterro” ou “luz das fardas” contrastam flagrantemente com o Tejo
 
em tempo de paz, descrito como um “lugar de amor” e de desejo. Pela sua brevidade,
 
singeleza e rigor; pela quase ausência de referentes de localização (só é mencionado o Tejo);
 
pelo desespero amordaçado, ao sabor do ritmo lânguido, que quase nenhuma vírgula
 
intrometida sobressalta, o poema ganha o ânimo e a dimensão de um protesto não apenas
 
contra um conflito específico, mas contra toda e qualquer guerra
 
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*"Sobre o Tejo"<br />
 
 
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Que soldado tão triste esta chuva<br />
 
Que soldado tão triste esta chuva<br />
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É tempo de dizer adeus.<br />
 
É tempo de dizer adeus.<br />
 
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O poema '''Sobre o Tejo”'' publicado originalmente no livro '''Véspera de Água"''' e posteriormente no livro '''"Eugénio de Andrade Poesia e Prosa[ 1940-1979] II Vol."'''(pág.124) aponta especificamente para um conflito, a Guerra Colonial Portuguesa, que decorreu nas frentes de Moçambique, Guiné e Angola, entre 1961 e 1974. O texto concentra-se num soldado que, sendo anónimo, representa todo um universo de jovens recrutas, tantas vezes alheios às razões de um combate que não é o seu:<br />
 
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AS PALAVRAS INTERDITAS<br />
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*'''''3. As Palavras Interditas'''''<br />
 
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Os navios existem, e existe o teu rosto<br />
 
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encostado ao rosto dos navios.<br />
 
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um horizonte de cidades bombardeadas.<br />
 
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Publicado pela primeira vez no livro '''As Palavras Interditas''', cujo título nos remete para o seu duplo sentido: o mais imediato - o contexto censório da época e outro mais profundo, em que a associação das palavras  dá ao leitor uma escolha poética sem reduzir o poema ao seu sentido imediato e sem complicar a sua compreensão.<br />
 
   
 
   
Eugénio de Andrade, As Palavras Interditas, 1951 (1.ª edição)<br />
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'''Para saber mais:'''<br />
Edição utilizada: Poesia, Lisboa, Assírio & Alvim, 2017<br />
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https://ubibliorum.ubi.pt/bitstream/10400.6/4323/1/umapalavrapreocupada.pdf
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EugéniodeAndrade.JPG Palavras interditas.jpg Encontro-Antologia-de-Autores-Modernos-capa.jpg Encontro-Antologia-de-Autores-Modernos-censura.jpg

  • Eugénio de Andrade, 1923-2005.
Poeta, escritor, tradutor, funcionário público / inspetor administrativo. Odiou a ditadura salazarista-marcelista, tendo dedicado textos a vários lutadores antifascistas, e afirmou-se como radicalmente antibelicista e como um cantor da liberdade. A liberdade de ver, de ouvir e de sentir, a liberdade de amar.
  • Livro Proibido - Encontro - Antologia de Autores Modernos
No livro censurado Encontro - Antologia de Autores Modernos estão reproduzidos dois poemas do autor - Urgentemente e Mar, Mar e Mar.

Encontro-Antologia-de-Autores-Modernos-censura-excerto.jpg


  • 1. Urgentemente


É urgente o Amor,
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros,
e a luz impura até doer.
É urgente o amor,
É urgente permanecer.

Este poema foi publicado originalmente no livro Até Amanhã de 1951 e posteriormente no livro "Eugénio de Andrade Poesia e Prosa[ 1940-1979] I Vol."(pág.118)

  • Leituras de outros poemas socialmente interventivos publicados noutras obras suas:
  • 2. Sobre o Tejo


Que soldado tão triste esta chuva
sobre as sílabas escuras do Outono
sobre o Tejo as últimas barcas
sobre as barcas uma luz de desterro.

Já foi lugar de amor o Tejo a boca
as mãos foram já fogo de abelhas
não eram o corpo então dura e amarga
pedra do frio.

Sobre o Tejo cai a luz das fardas
É tempo de dizer adeus.

O poema Sobre o Tejo” publicado originalmente no livro Véspera de Água"' e posteriormente no livro "Eugénio de Andrade Poesia e Prosa[ 1940-1979] II Vol."(pág.124) aponta especificamente para um conflito, a Guerra Colonial Portuguesa, que decorreu nas frentes de Moçambique, Guiné e Angola, entre 1961 e 1974. O texto concentra-se num soldado que, sendo anónimo, representa todo um universo de jovens recrutas, tantas vezes alheios às razões de um combate que não é o seu:

  • 3. As Palavras Interditas


Os navios existem, e existe o teu rosto
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino flutuam nas cidades,
partem no vento, regressam nos rios.

Na areia branca, onde o tempo começa,
uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida, anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar.

Os hospitais cobrem-se de cinza.
Ondas de sombra quebram nas esquinas.
Amo-te… E entram pela janela
as primeiras luzes das colinas.

As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.

Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas mãos noturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.

E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.

Publicado pela primeira vez no livro As Palavras Interditas, cujo título nos remete para o seu duplo sentido: o mais imediato - o contexto censório da época e outro mais profundo, em que a associação das palavras dá ao leitor uma escolha poética sem reduzir o poema ao seu sentido imediato e sem complicar a sua compreensão.

Para saber mais:
https://ubibliorum.ubi.pt/bitstream/10400.6/4323/1/umapalavrapreocupada.pdf

https://recursos.portoeditora.pt/recurso?id=23830277



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