Difference between revisions of "Amado, Jorge - Livros Proibidos"

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Para Joselia, a censura contra a obra de Jorge Amado foi mais rígida em Portugal do que no Brasil, ainda que durante o Estado Novo de Vargas (1937-1945) praticamente tudo o que ele produziu fosse proibido. Ela contou que na ditadura militar (1964-1985) os livros não chegaram a ser censurados da mesma forma, mas seus leitores eram vistos pelo regime como pessoas "subversivas".
 
Para Joselia, a censura contra a obra de Jorge Amado foi mais rígida em Portugal do que no Brasil, ainda que durante o Estado Novo de Vargas (1937-1945) praticamente tudo o que ele produziu fosse proibido. Ela contou que na ditadura militar (1964-1985) os livros não chegaram a ser censurados da mesma forma, mas seus leitores eram vistos pelo regime como pessoas "subversivas".
  
 
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Capitães da areia, Jorge Amado
Sob a lua, num velho trapiche abandonado as crianças dormem.
Antigamente aqui era o mar. Nas grandes e negras pedras dos alicerces do trapiche as ondas ora se rebentavam fragorosas ora vinham sé bater mansamente. A água passava por baixo da ponte sob a qual muitas crianças repousam agora, iluminadas por uma réstia amarela de lua. Desta ponte saíram inúmeros veleiros carregados, alguns eram enormes e pintados de estranhas cores, para a aventura das travessias marítimas. Aqui vinham encher os porões e atracavam nesta ponte de tábuas hoje comidas. Antigamente diante do trapiche se estendia o mistério do mar oceano, as noites diante dele eram de um verde-escuro, quási negras, daquela cor misteriosa que é a cor do mar à noite.
Hoje a noite é alva em frente ao trapiche. É que na sua frente se estende agora o areal do cais do porto. Por baixo da ponte não há mais rumor de ondas. A areia invadiu tudo, fez o mar recuar de muitos metros. Aos poucos, lentamente, a areia foi conquistando a frente do trapiche. Não mais atracaram na sua ponte os veleiros que iam partir carregados. Não mais trabalharam ali os negros musculosos que vieram da escravatura. Não mais cantou na velha ponte uma canção, um marinheiro nostálgico. A areia se estendeu muito alva em frente ao trapiche. E nunca mais encheram de fardos, de sacos, de caixões, o imenso casarão. Ficou abandonado em meio ao areal, mancha negra na brancura do cais.


É aqui também que mora o chefe dos Capitães da Areia: Pedro Bala. Desde cedo foi chamado assim, desde seus cinco anos. Hoje tem 15 anos.
Há dez que vagabundeia nas ruas da Bahia. Nunca soube de sua mãe, seu pai morrera de um balaço.
Ele ficou sozinho e empregou anos em conhecer a cidade. Hoje sabe de todas as suas ruas e de todos os seus becos. Não há venda, quitanda, botequim que ele não conheça. Quando se incorporou aos Capitães da Areia (o cais recém-construído atraiu para as suas areias todas as crianças abandonadas da cidade) o chefe era Raimundo, o Caboclo, mulato avermelhado e forte.

Capitães da areia, Jorge Amado


RIO — "Romance cem por cento brasileiro de índole muito maliciosa". É assim que um censor português, durante o regime de Salazar, começou seu parecer em que aprovava a publicação de "Dona Flor e seus dois maridos", de Jorge Amado. O documento chamou atenção de pesquisadores por conta do tom de admiração do leitor-censor Estevão Martins pela obra do escritor baiano. Jorge Amado não era visto com bons olhos em Lisboa devido a sua relação com o Partido Comunista Brasileiro (PCB).

"Porém a beleza da prosa e a delicadeza com que são apresentadas as brejeirices forçam-nos a uma certa condescendência favorável na nossa apreciação. Uma vez ou outra aparece uma palavra obscena, o que aliás está muito em voga nos escritores da actualidade", registrou. Por fim, o censor defendeu a autorização para publicação da obra porque o produto é "volumoso e caro" e, portanto, não é acessível a "todos".

Enquanto realizava sua pesquisa em Portugal, Joselia encontrou uma série de documentos e arquivos, como fotografias e recortes de jornais a respeito do escritor. Ela viu que, no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, várias obras de Jorge Amado foram censuradas, como "São Jorge dos Ilhéus", em 1951, considerado um livro que explora as "desigualdades sociais, com vista aos triunfos comunistas". E ainda "Terras do sem-fim", no mesmo ano; "Capitães da Areia", em 1952; "Os subterrâneos da liberdade", em 1956; e "ABC de Castro Alves", em 1957.

Para Joselia, a censura contra a obra de Jorge Amado foi mais rígida em Portugal do que no Brasil, ainda que durante o Estado Novo de Vargas (1937-1945) praticamente tudo o que ele produziu fosse proibido. Ela contou que na ditadura militar (1964-1985) os livros não chegaram a ser censurados da mesma forma, mas seus leitores eram vistos pelo regime como pessoas "subversivas".

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