Afonso, José - Obras Proibidas

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  • José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos (Zeca Afonso)

Antifascista, foi expulso de professor do ensino público e perseguido pela PIDE.
A sua canção "Grândola Vila Morena" foi uma das senhas usada pelos Capitães de Abril para dar início à Revolução. Na década de 60, viveu no Algarve, onde no seu grupo de amigos, figuravam autores como António Ramos Rosa, Luiza Neto Jorge ou Fiama Hasse Pais Brandão, que procuravam o mesmo caminho que Zeca: o de uma contestação que conseguisse vencer o poder político pelo poder da palavra.
Em 1963, terminou o curso de Filosofia com uma tese sobre Jean-Paul Sartre. No plano pessoal, conhece a algarvia Zélia Afonso, com quem casaria.
Este terá sido o seu período mais fértil em baladas de intervencão que o caracterizaram enquanto cantautor,sendo "Os Vampiros” e “Menino do Bairro Negro” os primeiros grandes temas de contestação política e social.
Entretanto, em 1964 lança os livros “Cantares" (1964) e “Baladas e Canções” que foram vítimas da censura. Nestes livros, figuram temas como “Canção Longe”, “Canto da Primavera” ou “Ó Vila de Olhão”, “Minha Mãe” e “Os Bravos”.
Zeca Afonso emigraria com Zélia para Moçambique,onde, procurou sempre opor-se ao colonialismo. “Menina dos Olhos Tristes” é uma composição que reflete este descontentamento, pugnando sempre pela livre determinação das então colónias portuguesas.

"Cantares"

  • Cantar Alentejano


Chamava-se Catarina O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer

Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou

Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou

Aquela pomba tão branca
Todos a querem p'ra si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti

Aquela andorinha negra
Bate as asas p'ra voar
Ó Alentejo esquecido
Inda um dia hás-de cantar

  • “Os Bravos”


Eu fui à terra do bravo
Bravo meu bem
Para ver se embravecia
Cada vez fiquei mais manso
Bravo meu bem
Para a tua companhia

Eu fui à terra do bravo
Bravo meu bem
Com o meu vestido vermelho
O que eu vi de lá mais bravo
Bravo meu bem
Foi um mansinho coelho

As ondas do mar são brancas
Bravo meu bem
E no meio amarelas
Coitadinho de quem nasce
Bravo meu bem
P'ra morrer no meio delas

Cantares, José Afonso

  • "Cantar de Novo"

“A Morte Saiu à Rua”
A morte
Saiu à rua
Num dia assim
Naquele
Lugar seu nome
P’ra qualquer fim.

Uma
Gota rubra so-
bre a calçada
Cai

E um rio
De sangue
Dum
Peito aberto
Sai


O vento
Que dá nas canas
Do caniçal

E a foice
Duma ceifeira
De Portugal

E o som
Da bigorna
Como
Um clarim do céu

Vão di-
zendo em toda a parte
O pintor morreu

Teu sangue,
Pintor, reclama
Outra morte
Igual

Só olho
Por olho e
Dente por dente
Vale

À lei assassina
À morte
Que te matou

Teu corpo
Pertence à terra
Que te abraçou

Aqui
Te afirmamos
Dente por dente
Assim

Que um dia
Rirá melhor
Quem rirá por fim

Na curva
Da estrada
Há covas feitas
No chão

E em todas
Florirão rosas
Duma nação

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