Afonso, José - Obras Proibidas

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Pequeno texto sobre zeca censurado e copiar para aqui os poemas/canções escolhidos

Mantém, no seu grupo de amigos, uma série de autores, como António Ramos Rosa ou Luiza Neto Jorge, que procuravam o mesmo caminho que Zeca: o de uma contestação que conseguisse levar de vencida o poder da pólvora com o poder da palavra. Continua ativo na Tuna Académica até meados da década, em que procura um caminho mais a solo, sem a guitarra coimbrã tão presente, pouco tempo depois de terminar o seu curso, em 1963, com uma tese sobre a filosofia de Jean-Paul Sartre. No plano pessoal, conhece a algarvia Zélia Afonso, com quem casaria.

A música de intervenção que tanto o caraterizou nasce, precisamente, neste período, fértil em baladas inspiradas pelas vivências e pelas convivências coimbrãs. Um dos seus principais colaboradores seria um estudante de medicina à data, o guitarrista Rui Pato. Com ele, grava dezenas de temas e viaja pelo país em diferentes festividades, nomeadamente aqueles que procuravam assumir uma postura anti-regime. Zeca dedicava-se à composição lírica, deixando os arranjos e a parte musical a cargo de Pato. “Os Vampiros” e “Menino do Bairro Negro” são os primeiros grandes temas de contestação que o cantautor desenhou, juntando-se ao contributo de Correia de Oliveira que adaptou o célebre poema de Manuel Alegre “Trova do Vento que Passa”.

Entretanto, lançara “Cantares de José Afonso” (1964) e “Baladas e Canções” (do mesmo ano, pautada por tons mais contemplativos mas interrogativos da sua realidade). Aqui, ficaram temas como “Canção Longe”, “Canto da Primavera” ou “Ó Vila de Olhão” no ouvido, juntando-se aos já apresentados “Minha Mãe” e “Os Bravos”. Zeca emigraria com Zélia para Moçambique, onde daria aulas e onde reencontraria os seus filhos. Procura, através da música e do próprio teatro – chega a colaborar com um grupo local -, dar resposta aos desafios impostos pela sociedade, procurando opor-se ao colonialismo (“Menina dos Olhos Tristes” é uma composição que reflete este descontentamento, que é amadurecido pela Guerra Colonial que deflagrava e da qual Zeca acabou por escapar). Joana juntar-se-ia à família em 1965, sendo filha do casal, assim como se juntaria Pedro, mas nem isso o impediria de pugnar pela livre determinação das então colónias portuguesas.


  • Cantar Alentejano



Chamava-se Catarina o Alentejo a viu nascer
Chamava-se Catarina o Alentejo a viu nascer
Serranas viram na em vida
Baleizão a viu morrer
Serranas viram na em vida
Baleizão a viu morrer


Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr
Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou


Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou


Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou
Aquela pomba tão branca
Todos a querem p'ra si
Aquela pomba tão branca
Todos a querem p'ra si ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti


Aquela andorinha negra
Bate as asas p'ra voar
Aquela andorinha negra
Bate as asas p'ra voar ó Alentejo esquecido
'Inda um dia hás-de cantar
Ó Alentejo esquecido
'Inda um dia hás-de cantar

Fonte: LyricFind

Leitura – Cantares, José Afonso

“Os Bravos”

Eu fui à terra do bravo
Bravo meu bem
Para ver se embravecia
Cada vez fiquei mais manso
Bravo meu bem
Para a tua companhia

Eu fui à terra do bravo
Bravo meu bem
Com o meu vestido vermelho
O que eu vi de lá mais bravo
Bravo meu bem
Foi um mansinho coelho

As ondas do mar são brancas
Bravo meu bem
E no meio amarelas
Coitadinho de quem nasce
Bravo meu bem
P'ra morrer no meio delas

Cantares, José Afonso

Leitura - Cantar de Novo, José Afonso

“A Morte Saiu à Rua”
A morte
Saiu à rua
Num dia assim
Naquele
Lugar seu nome
P’ra qualquer fim.

Uma
Gota rubra so-
bre a calçada
Cai

E um rio
De sangue
Dum
Peito aberto
Sai


O vento
Que dá nas canas
Do caniçal

E a foice
Duma ceifeira
De Portugal



E o som
Da bigorna
Como
Um clarim do céu

Vão di-
zendo em toda a parte
O pintor morreu


Teu sangue,
Pintor, reclama
Outra morte
Igual

Só olho
Por olho e
Dente por dente
Vale

À lei assassina
À morte
Que te matou

Teu corpo
Pertence à terra
Que te abraçou


Aqui
Te afirmamos
Dente por dente
Assim

Que um dia
Rirá melhor
Quem rirá por fim

Na curva
Da estrada
Há covas feitas
No chão

E em todas
Florirão rosas
Duma nação


Cantar de Novo, José Afonso