Difference between revisions of "Afonso, José - Obras Proibidas"

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"Cantares"'''
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'''"Cantares"'''<br />
 
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*Cantar Alentejano<br />
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*1.'''Cantar Alentejano'''<br />
 
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Chamava-se Catarina
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Chamava-se Catarina<br />
 
O Alentejo a viu nascer<br />
 
O Alentejo a viu nascer<br />
 
Serranas viram-na em vida<br />
 
Serranas viram-na em vida<br />
 
Baleizão a viu morrer<br />
 
Baleizão a viu morrer<br />
 
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Ceifeiras na manhã fria<br />
 
Ceifeiras na manhã fria<br />
 
Flores na campa lhe vão pôr<br />
 
Flores na campa lhe vão pôr<br />
 
Ficou vermelha a campina<br />
 
Ficou vermelha a campina<br />
 
Do sangue que então brotou<br />
 
Do sangue que então brotou<br />
 
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Acalma o furor campina<br />
 
Acalma o furor campina<br />
 
Que o teu pranto não findou<br />
 
Que o teu pranto não findou<br />
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*“Os Bravos”<br />
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*2.'''“Os Bravos”'''<br />
 
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Eu fui à terra do bravo<br />
 
Eu fui à terra do bravo<br />
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P'ra morrer no meio delas<br />
 
P'ra morrer no meio delas<br />
 
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Cantares, José Afonso<br />
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'''Cantar de Novo''', José Afonso
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*1.'''“A Morte Saiu à Rua”'''pág. 23-24-25<br />
*'''"Cantar de Novo"'''pág. 23-24-25<br /> Reboleira dez 70
 
 
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'''“A Morte Saiu à Rua”'''<br />
 
 
A morte<br />
 
A morte<br />
 
Saiu à rua<br />
 
Saiu à rua<br />
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Lugar seu nome<br />
 
Lugar seu nome<br />
 
P’ra qualquer fim.<br />
 
P’ra qualquer fim.<br />
 
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Uma<br />  
 
Uma<br />  
 
Gota rubra so-<br />
 
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Peito aberto<br />  
 
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Sai<br />
 
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O vento<br />  
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'''“Canção de Embalar”'''<br />
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*'''2.“Canção de Embalar”'''<br />
 
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Dorme meu menino a estrela d'alva<br />
 
Dorme meu menino a estrela d'alva<br />
 
Já a procurei e não a vi<br />
 
Já a procurei e não a vi<br />
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Outra que eu souber será pra ti<br />
 
Outra que eu souber será pra ti<br />
 
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Outra que eu souber na noite escura<br />
 
Outra que eu souber na noite escura<br />
 
Sobre o teu sorriso de encantar<br />
 
Sobre o teu sorriso de encantar<br />
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Trovas e cantigas de embalar<br />
 
Trovas e cantigas de embalar<br />
 
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Trovas e cantigas muito belas<br />
 
Trovas e cantigas muito belas<br />
 
Afina a garganta meu cantor<br />
 
Afina a garganta meu cantor<br />
 
Quando a luz se apaga nas janelas<br />
 
Quando a luz se apaga nas janelas<br />
 
Perde a estrela d'alva o seu fulgor<br />
 
Perde a estrela d'alva o seu fulgor<br />
 
 
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Perde a estrela d'alva pequenina<br />
 
Perde a estrela d'alva pequenina<br />
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Deixa-a vir também adormecer<br />
 
Deixa-a vir também adormecer<br />
 
                                
 
                                
 
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*'''3. “Natal dos Mendigos”'''<br />
 
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*'''“Natal dos Mendigos”'''<br />
 
 
 
 
Vamos cantar as janeiras<br />
 
Vamos cantar as janeiras<br />
 
Vamos cantar as janeiras<br />
 
Vamos cantar as janeiras<br />
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Só se lembra dos caminhos velhos<br />
 
Só se lembra dos caminhos velhos<br />
 
Quem tem saudades da terra<br />
 
Quem tem saudades da terra<br />
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Quem tem a candeia acesa<br />
 +
Quem tem a candeia acesa<br />
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Rabanadas pão e vinho novo<br />
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Matava a fome à pobreza<br />
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Já nos cansa esta lonjura<br />
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Já nos cansa esta lonjura<br />
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Só se lembra dos caminhos velhos<br />
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Quem anda à noite à ventura<br />
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'''4. “Canto Jovem”'''<br />
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Somos filhos da madrugada<br />
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Pelas praias do mar nos vamos<br />
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À procura de quem nos traga<br />
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Verde oliva de flor nos ramos<br />
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Navegámos de vaga em vaga<br />
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Não soubemos de dor nem mágoa<br />
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Pelas praias do mar nos vamos<br />
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À procura da manhã clara<br />
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Lá do cima duma montanha<br />
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Acendemos uma fogueira<br />
 +
Para não se apagar a chama<br />
 +
Que dá vida na noite inteira<br />
 +
Mensageira pomba chamada<br />
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Companheira da madrugada<br />
 +
Quando a noite vier que venha<br />
 +
Cá do cima duma montanha<br />
 +
<br />
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Onde o vento cortou amarras<br />
 +
Largaremos pela noite fora<br />
 +
Onde há sempre uma boa estrela<br />
 +
Noite e dia ao romper da aurora<br />
 +
Vira a proa minha galera<br />
 +
Que a vitória já não espera<br />
 +
Fresca brisa moira encantada<br />
 +
Vira a proa da minha barca<br />
  
Quem tem a candeia acesa
+
                        
Quem tem a candeia acesa
+
*'''4.“Vampiros”'''<br />
Rabanadas pão e vinho novo
+
<br />
Matava a fome à pobreza
+
No céu cinzento<br />
 
+
Sob o astro mudo<br />
Já nos cansa esta lonjura
+
Batendo as asas<br />
Já nos cansa esta lonjura
+
Pela noite calada<br />
Só se lembra dos caminhos velhos
+
Vêm em bandos<br />
Quem anda à noite à ventura
+
Com pés de veludo<br />
                       Cantar de Novo, José Afonso
+
Chupar o sangue<br />
 
+
Fresco da manada<br />
“Canto Jovem”
+
<br />
 
+
Se alguém se engana<br />
Somos filhos da madrugada
+
Com seu ar sisudo<br />
Pelas praias do mar nos vamos
+
E lhes franqueia<br />
À procura de quem nos traga
+
As portas à chegada<br />
Verde oliva de flor nos ramos
+
Eles comem tudo,<br />
Navegámos de vaga em vaga
+
Eles comem tudo<br />
Não soubemos de dor nem mágoa
+
Eles comem tudo<br />
Pelas praias do mar nos vamos
+
E não deixam nada<br />
À procura da manhã clara
+
<br />
 
+
A toda a parte<br />
Lá do cima duma montanha
+
Chegam os vampiros<br />
Acendemos uma fogueira
+
Poisam nos prédios<br />
Para não se apagar a chama
+
Poisam nas calçadas<br />
Que dá vida na noite inteira
+
Trazem no ventre<br />
Mensageira pomba chamada
+
Despojos antigos<br />
Companheira da madrugada
+
Mas nada os prende<br />
Quando a noite vier que venha
+
Às vidas acabadas<br />
Cá do cima duma montanha
+
<br />
 
+
São os mordomos<br />
Onde o vento cortou amarras
+
Do universo todo<br />
Largaremos pela noite fora
+
Senhores à força<br />
Onde há sempre uma boa estrela
+
Mandadores sem lei<br />
Noite e dia ao romper da aurora
+
Enchem as tulhas<br />
Vira a proa minha galera
+
Bebem vinho novo<br />
Que a vitória já não espera
+
Dançam a ronda<br />
Fresca brisa moira encantada
+
No pinhal do rei<br />
Vira a proa da minha barca
+
<br />
 
+
Eles comem tudo<br />
                      Cantar de Novo, José Afonso
+
Eles comem tudo<br />
“Vampiros”
+
Eles comem tudo<br />
No céu cinzento  
+
E não deixam nada<br />
Sob o astro mudo
+
<br />
Batendo as asas  
+
No chão do medo<br />
Pela noite calada
+
Tombam os vencidos<br />
Vêm em bandos  
+
Ouvem-se os gritos<br />
Com pés de veludo
+
Na noite abafada<br />
Chupar o sangue  
+
Jazem nos fossos<br />
Fresco da manada
+
Vítimas de um credo<br />
 
+
E não se esgota<br />
Se alguém se engana  
+
O sangue da manada<br />
Com seu ar sisudo
+
<br />
E lhes franqueia  
+
Se alguém se engana<br />
As portas à chegada
+
Com seu ar sisudo<br />
Eles comem tudo,  
+
E lhes franqueia<br />
Eles comem tudo
+
As portas à chegada<br />
Eles comem tudo  
+
Eles comem tudo<br />
E não deixam nada
+
Eles comem tudo<br />
 
+
Eles comem tudo<br />
A toda a parte  
+
E não deixam nada<br />
Chegam os vampiros
+
Eles comem tudo<br />
Poisam nos prédios
+
Eles comem tudo<br />
Poisam nas calçadas
+
Eles comem tudo<br />
Trazem no ventre
+
E não deixam nada<br />
Despojos antigos
+
<br />                     
Mas nada os prende  
+
'''“Ó Vila de Olhão”'''<br />
Às vidas acabadas
+
<br />
 
+
Ó vila de Olhão<br />
São os mordomos
+
Da Restauração<br />
Do universo todo
+
Madrinha do povo<br />
Senhores à força
+
Madrasta é que não<br />
Mandadores sem lei
+
<br />
Enchem as tulhas
+
Com papas e bolos<br />
Bebem vinho novo
+
Engana o burlão<br />
Dançam a ronda
+
Os que de lá são<br />
No pinhal do rei
+
E os que pra lá vão<br />
 
+
<br />
Eles comem tudo
+
Ó flor da trapeira<br />
Eles comem tudo
+
Ó rosa em botão<br />
Eles comem tudo  
+
Tuas cantoneiras<br />
E não deixam nada
+
Bem bonitas são<br />
 
+
<br />
No chão do medo  
+
Larga ó pescador<br />
Tombam os vencidos
+
O que tens na mão<br />
Ouvem-se os gritos  
+
Que o peixe que levas<br />
Na noite abafada
+
É do teu patrão<br />
Jazem nos fossos  
+
<br />
Vítimas de um credo
+
Limpa o teu suor<br />
E não se esgota  
+
No camisolão<br />
O sangue da manada
+
Que o peixe que levas<br />
 
+
É do cais de Olhão<br />
Se alguém se engana
+
<br />
Com seu ar sisudo
+
Vem o mandarim<br />
E lhes franqueia
+
Vem o capitão<br />
As portas à chegada
+
Paga o pagador<br />
Eles comem tudo
+
Não paga o ladrão<br />
Eles comem tudo
+
<br />
Eles comem tudo  
+
Ó vila de Olhão<br />
E não deixam nada
+
Da Restauração<br />
Eles comem tudo
+
Madrinha do povo<br />
Eles comem tudo
+
Madrasta é que não<br />
Eles comem tudo  
+
<br />
E não deixam nada
+
Quem te pôs assim<br />
                      Cantar de Novo, José Afonso
+
Mar feito num cão<br />
“Ó Vila de Olhão”
+
Foi o tubarão<br />
 
+
Foi o tubarão<br />
Ó vila de Olhão
+
Foi o tubarão<br />
Da Restauração
+
<br />
Madrinha do povo
+
Mulher empregada<br />
Madrasta é que não
+
Diz o povo vão<br />
 
+
Que aquela empreitada<br />
Com papas e bolos
+
Não dá nada não<br />
Engana o burlão
+
<br />
Os que de lá são
+
Ó vila de Olhão<br />
E os que pra lá vão
+
Da Restauração<br />
 
+
Madrinha do povo<br />
Ó flor da trapeira
+
Madrasta é que não<br />
Ó rosa em botão
+
Madrasta é que não<br />
Tuas cantoneiras
+
                   
Bem bonitas são
 
 
 
Larga ó pescador
 
O que tens na mão
 
Que o peixe que levas
 
É do teu patrão
 
 
 
Limpa o teu suor
 
No camisolão
 
Que o peixe que levas
 
É do cais de Olhão
 
 
 
Vem o mandarim
 
Vem o capitão
 
Paga o pagador
 
Não paga o ladrão
 
 
 
 
 
Ó vila de Olhão
 
Da Restauração
 
Madrinha do povo
 
Madrasta é que não
 
 
 
Quem te pôs assim
 
Mar feito num cão
 
Foi o tubarão
 
Foi o tubarão
 
Foi o tubarão
 
 
 
Mulher empregada
 
Diz o povo vão
 
Que aquela empreitada
 
Não dá nada não
 
 
 
Ó vila de Olhão
 
Da Restauração
 
Madrinha do povo
 
Madrasta é que não
 
Madrasta é que não
 
                      Cantar de Novo, José Afonso
 
  
  
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Fresca brisa moira encantada
 
Fresca brisa moira encantada
 
Vira a proa da minha barca
 
Vira a proa da minha barca
 
                      Cantar de Novo, José Afonso
 
“Vampiros”
 
No céu cinzento
 
Sob o astro mudo
 
Batendo as asas
 
Pela noite calada
 
Vêm em bandos
 
Com pés de veludo
 
Chupar o sangue
 
Fresco da manada
 
 
Se alguém se engana
 
Com seu ar sisudo
 
E lhes franqueia
 
As portas à chegada
 
Eles comem tudo,
 
Eles comem tudo
 
Eles comem tudo
 
E não deixam nada
 
 
A toda a parte
 
Chegam os vampiros
 
Poisam nos prédios
 
Poisam nas calçadas
 
Trazem no ventre
 
Despojos antigos
 
Mas nada os prende
 
Às vidas acabadas
 
 
São os mordomos
 
Do universo todo
 
Senhores à força
 
Mandadores sem lei
 
Enchem as tulhas
 
Bebem vinho novo
 
Dançam a ronda
 
No pinhal do rei
 
 
Eles comem tudo
 
Eles comem tudo
 
Eles comem tudo
 
E não deixam nada
 
 
No chão do medo
 
Tombam os vencidos
 
Ouvem-se os gritos
 
Na noite abafada
 
Jazem nos fossos
 
Vítimas de um credo
 
E não se esgota
 
O sangue da manada
 
 
Se alguém se engana
 
Com seu ar sisudo
 
E lhes franqueia
 
As portas à chegada
 
Eles comem tudo
 
Eles comem tudo
 
Eles comem tudo
 
E não deixam nada
 
Eles comem tudo
 
Eles comem tudo
 
Eles comem tudo
 
E não deixam nada
 
                      Cantar de Novo, José Afonso
 
“Ó Vila de Olhão”
 
 
Ó vila de Olhão
 
Da Restauração
 
Madrinha do povo
 
Madrasta é que não
 
 
Com papas e bolos
 
Engana o burlão
 
Os que de lá são
 
E os que pra lá vão
 
 
Ó flor da trapeira
 
Ó rosa em botão
 
Tuas cantoneiras
 
Bem bonitas são
 
 
Larga ó pescador
 
O que tens na mão
 
Que o peixe que levas
 
É do teu patrão
 
 
Limpa o teu suor
 
No camisolão
 
Que o peixe que levas
 
É do cais de Olhão
 
 
Vem o mandarim
 
Vem o capitão
 
Paga o pagador
 
Não paga o ladrão
 
 
 
Ó vila de Olhão
 
Da Restauração
 
Madrinha do povo
 
Madrasta é que não
 
 
Quem te pôs assim
 
Mar feito num cão
 
Foi o tubarão
 
Foi o tubarão
 
Foi o tubarão
 
 
Mulher empregada
 
Diz o povo vão
 
Que aquela empreitada
 
Não dá nada não
 
 
Ó vila de Olhão
 
Da Restauração
 
Madrinha do povo
 
Madrasta é que não
 
Madrasta é que não
 
                      Cantar de Novo, José Afonso
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Traz outro amigo também”
 
 
Amigo
 
Maior que o pensamento
 
Por essa estrada amigo vem
 
Não percas tempo que o vento
 
É meu amigo também
 
 
Em terras
 
Em todas as fronteiras
 
Seja benvindo quem vier por bem
 
Se alguém houver que não queira
 
Trá-lo contigo também
 
 
Aqueles
 
Aqueles que ficaram
 
(Em toda a parte
 
Todo o mundo tem)
 
Em sonhos me visitaram
 
Traz outro amigo também
 
                      Cantar de Novo, José Afonso
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Grândola, Vila Morena”
 
 
Grândola vila morena
 
Terra da fraternidade
 
O povo é quem mais ordena
 
Dentro de ti, ó cidade
 
 
Em cada esquina, um amigo
 
Em cada rosto, igualdade
 
Grândola vila morena
 
Terra da fraternidade
 
 
À sombra duma azinheira
 
Que já não sabia a idade
 
Jurei ter por companheira
 
Grândola, a tua vontade
 
                              Cantar de Novo, José Afonso
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Vejam Bem”
 
 
Vejam bem
 
Que não há
 
Só gaivotas
 
Em terra
 
Quando um homem
 
Se põe
 
A pensar
 
 
Quem lá vem
 
Dorme à noite
 
Ao relento
 
Na areia
 
Dorme à noite
 
Ao relento
 
Do mar
 
 
E se houver
 
Uma praça
 
De gente
 
Madura
 
E uma estátua
 
De febre
 
A arder
 
 
Anda alguém
 
Pela noite
 
De breu
 
À procura
 
E não há
 
Quem lhe queira
 
Valer
 
 
Vejam bem
 
Daquele homem
 
A fraca
 
Figura
 
Desbravando
 
Os caminhos
 
Do pão
 
 
E se houver
 
Uma praça
 
De gente
 
Madura
 
Ninguém vem
 
Levantá-lo
 
Do chão
 
 
Vejam bem
 
Que não há
 
Só gaivotas
 
Em terra
 
Quando um homem
 
Se põe
 
A pensar
 
 
Amigo
 
Maior que o pensamento
 
Por essa estrada amigo vem
 
Não percas tempo que o vento
 
É meu amigo também
 
 
Em terras
 
Em todas as fronteiras
 
Seja benvindo quem vier por bem
 
Se alguém houver que não queira
 
Trá-lo contigo também
 
 
Aqueles
 
Aqueles que ficaram
 
(Em toda a parte
 
Todo o mundo tem)
 
Em sonhos me visitaram
 
Traz outro amigo também
 
                      Cantar de Novo, José Afonso
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Grândola, Vila Morena”
 
 
Grândola vila morena
 
Terra da fraternidade
 
O povo é quem mais ordena
 
Dentro de ti, ó cidade
 
 
Em cada esquina, um amigo
 
Em cada rosto, igualdade
 
Grândola vila morena
 
Terra da fraternidade
 
 
À sombra duma azinheira
 
Que já não sabia a idade
 
Jurei ter por companheira
 
Grândola, a tua vontade
 
                              Cantar de Novo, José Afonso
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Vejam Bem”
 
 
Vejam bem
 
Que não há
 
Só gaivotas
 
Em terra
 
Quando um homem
 
Se põe
 
A pensar
 
 
Quem lá vem
 
Dorme à noite
 
Ao relento
 
Na areia
 
Dorme à noite
 
Ao relento
 
Do mar
 
 
E se houver
 
Uma praça
 
De gente
 
Madura
 
E uma estátua
 
De febre
 
A arder
 
 
Anda alguém
 
Pela noite
 
De breu
 
À procura
 
E não há
 
Quem lhe queira
 
Valer
 
 
Vejam bem
 
Daquele homem
 
A fraca
 
Figura
 
Desbravando
 
Os caminhos
 
Do pão
 
 
E se houver
 
Uma praça
 
De gente
 
Madura
 
Ninguém vem
 
Levantá-lo
 
Do chão
 
 
Vejam bem
 
Que não há
 
Só gaivotas
 
Em terra
 
Quando um homem
 
Se põe
 
A pensar
 
                  Cantar de Novo, José Afonso
 
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Revision as of 12:38, 15 February 2024

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  • José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos (Zeca Afonso)


"Cantares"

  • 1.Cantar Alentejano


Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer

Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou

Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou

Aquela pomba tão branca
Todos a querem p'ra si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti

Aquela andorinha negra
Bate as asas p'ra voar
Ó Alentejo esquecido
Inda um dia hás-de cantar

  • 2.“Os Bravos”


Eu fui à terra do bravo
Bravo meu bem
Para ver se embravecia
Cada vez fiquei mais manso
Bravo meu bem
Para a tua companhia

Eu fui à terra do bravo
Bravo meu bem
Com o meu vestido vermelho
O que eu vi de lá mais bravo
Bravo meu bem
Foi um mansinho coelho

As ondas do mar são brancas
Bravo meu bem
E no meio amarelas
Coitadinho de quem nasce
Bravo meu bem
P'ra morrer no meio delas


Cantar de Novo, José Afonso

"Cantar de Novo"

  • 1.“A Morte Saiu à Rua”pág. 23-24-25


A morte
Saiu à rua
Num dia assim
Naquele
Lugar seu nome
P’ra qualquer fim.

Uma
Gota rubra so-
bre a calçada
Cai

E um rio
De sangue
Dum
Peito aberto
Sai

O vento
Que dá nas canas
Do caniçal

E a foice
Duma ceifeira
De Portugal

E o som
Da bigorna
Como
Um clarim do céu

Vão di-
zendo em toda a parte
O pintor morreu

Teu sangue,
Pintor, reclama
Outra morte
Igual

Só olho
Por olho e
Dente por dente
Vale

À lei assassina
À morte
Que te matou

Teu corpo
Pertence à terra
Que te abraçou

Aqui
Te afirmamos
Dente por dente
Assim

Que um dia
Rirá melhor
Quem rirá por fim

Na curva
Da estrada
Há covas feitas
No chão

E em todas
Florirão rosas
Duma nação

  • 2.“Canção de Embalar”


Dorme meu menino a estrela d'alva
Já a procurei e não a vi
Se ela não vier de madrugada
Outra que eu souber será pra ti

Outra que eu souber na noite escura
Sobre o teu sorriso de encantar
Ouvirás cantando nas alturas
Trovas e cantigas de embalar

Trovas e cantigas muito belas
Afina a garganta meu cantor
Quando a luz se apaga nas janelas
Perde a estrela d'alva o seu fulgor

Perde a estrela d'alva pequenina
Se outra não vier para a render
Dorme quinda à noite é uma menina
Deixa-a vir também adormecer

  • 3. “Natal dos Mendigos”


Vamos cantar as janeiras
Vamos cantar as janeiras
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas solteiras

Vamos cantar orvalhadas
Vamos cantar orvalhadas
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas casadas

Vira o vento e muda a sorte
Vira o vento e muda a sorte
Por aqueles olivais perdidos
Foi-se embora o vento norte

Muita neve cai na serra
Muita neve cai na serra
Só se lembra dos caminhos velhos
Quem tem saudades da terra

Quem tem a candeia acesa
Quem tem a candeia acesa
Rabanadas pão e vinho novo
Matava a fome à pobreza

Já nos cansa esta lonjura
Já nos cansa esta lonjura
Só se lembra dos caminhos velhos
Quem anda à noite à ventura

4. “Canto Jovem”

Somos filhos da madrugada
Pelas praias do mar nos vamos
À procura de quem nos traga
Verde oliva de flor nos ramos
Navegámos de vaga em vaga
Não soubemos de dor nem mágoa
Pelas praias do mar nos vamos
À procura da manhã clara

Lá do cima duma montanha
Acendemos uma fogueira
Para não se apagar a chama
Que dá vida na noite inteira
Mensageira pomba chamada
Companheira da madrugada
Quando a noite vier que venha
Cá do cima duma montanha

Onde o vento cortou amarras
Largaremos pela noite fora
Onde há sempre uma boa estrela
Noite e dia ao romper da aurora
Vira a proa minha galera
Que a vitória já não espera
Fresca brisa moira encantada
Vira a proa da minha barca


  • 4.“Vampiros”


No céu cinzento
Sob o astro mudo
Batendo as asas
Pela noite calada
Vêm em bandos
Com pés de veludo
Chupar o sangue
Fresco da manada

Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo,
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada

A toda a parte
Chegam os vampiros
Poisam nos prédios
Poisam nas calçadas
Trazem no ventre
Despojos antigos
Mas nada os prende
Às vidas acabadas

São os mordomos
Do universo todo
Senhores à força
Mandadores sem lei
Enchem as tulhas
Bebem vinho novo
Dançam a ronda
No pinhal do rei

Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada

No chão do medo
Tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos
Na noite abafada
Jazem nos fossos
Vítimas de um credo
E não se esgota
O sangue da manada

Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada

“Ó Vila de Olhão”

Ó vila de Olhão
Da Restauração
Madrinha do povo
Madrasta é que não

Com papas e bolos
Engana o burlão
Os que de lá são
E os que pra lá vão

Ó flor da trapeira
Ó rosa em botão
Tuas cantoneiras
Bem bonitas são

Larga ó pescador
O que tens na mão
Que o peixe que levas
É do teu patrão

Limpa o teu suor
No camisolão
Que o peixe que levas
É do cais de Olhão

Vem o mandarim
Vem o capitão
Paga o pagador
Não paga o ladrão

Ó vila de Olhão
Da Restauração
Madrinha do povo
Madrasta é que não

Quem te pôs assim
Mar feito num cão
Foi o tubarão
Foi o tubarão
Foi o tubarão

Mulher empregada
Diz o povo vão
Que aquela empreitada
Não dá nada não

Ó vila de Olhão
Da Restauração
Madrinha do povo
Madrasta é que não
Madrasta é que não






“Traz outro amigo também”Te afirmamos
Dente por dente
Assim

Que um dia
Rirá melhor
Quem rirá por fim

Na curva
Da estrada
Há covas feitas
No chão

E em todas
Florirão rosas
Duma nação

“Canção de Embalar”


Dorme meu menino a estrela d'alva Já a procurei e não a vi Se ela não vier de madrugada Outra que eu souber será pra ti


Outra que eu souber na noite escura Sobre o teu sorriso de encantar Ouvirás cantando nas alturas Trovas e cantigas de embalar


Trovas e cantigas muito belas Afina a garganta meu cantor Quando a luz se apaga nas janelas Perde a estrela d'alva o seu fulgor


Perde a estrela d'alva pequenina Se outra não vier para a render Dorme quinda à noite é uma menina Deixa-a vir também adormecer

                                Cantar de Novo, José Afonso





“Natal dos Mendigos” Vamos cantar as janeiras Vamos cantar as janeiras Por esses quintais adentro vamos Às raparigas solteiras

Vamos cantar orvalhadas Vamos cantar orvalhadas Por esses quintais adentro vamos Às raparigas casadas

Vira o vento e muda a sorte Vira o vento e muda a sorte Por aqueles olivais perdidos Foi-se embora o vento norte

Muita neve cai na serra Muita neve cai na serra Só se lembra dos caminhos velhos Quem tem saudades da terra

Quem tem a candeia acesa Quem tem a candeia acesa Rabanadas pão e vinho novo Matava a fome à pobreza

Já nos cansa esta lonjura Já nos cansa esta lonjura Só se lembra dos caminhos velhos Quem anda à noite à ventura

                     Cantar de Novo, José Afonso

“Canto Jovem”

Somos filhos da madrugada Pelas praias do mar nos vamos À procura de quem nos traga Verde oliva de flor nos ramos Navegámos de vaga em vaga Não soubemos de dor nem mágoa Pelas praias do mar nos vamos À procura da manhã clara

Lá do cima duma montanha Acendemos uma fogueira Para não se apagar a chama Que dá vida na noite inteira Mensageira pomba chamada Companheira da madrugada Quando a noite vier que venha Cá do cima duma montanha

Onde o vento cortou amarras Largaremos pela noite fora Onde há sempre uma boa estrela Noite e dia ao romper da aurora Vira a proa minha galera Que a vitória já não espera Fresca brisa moira encantada Vira a proa da minha barca