Difference between revisions of "Afonso, José - Obras Proibidas"

From Wikipédia de Autores Algarvios
Jump to: navigation, search
Line 8: Line 8:
 
Este terá sido o seu período mais fértil em baladas de intervencão que o caracterizaram enquanto cantautor,sendo '''"Os Vampiros”''' e '''“Menino do Bairro Negro”''' os primeiros grandes temas de contestação política e social.<br />
 
Este terá sido o seu período mais fértil em baladas de intervencão que o caracterizaram enquanto cantautor,sendo '''"Os Vampiros”''' e '''“Menino do Bairro Negro”''' os primeiros grandes temas de contestação política e social.<br />
 
Entretanto, em 1964 lança os livros '''“Cantares"''' (1964) e '''“Baladas e Canções”''' que foram vítimas da censura. Nestes livros, figuram temas como '''“Canção Longe”, “Canto da Primavera” ou “Ó Vila de Olhão”, “Minha Mãe” e “Os Bravos”'''.<br />  
 
Entretanto, em 1964 lança os livros '''“Cantares"''' (1964) e '''“Baladas e Canções”''' que foram vítimas da censura. Nestes livros, figuram temas como '''“Canção Longe”, “Canto da Primavera” ou “Ó Vila de Olhão”, “Minha Mãe” e “Os Bravos”'''.<br />  
<br />
 
 
Zeca Afonso emigraria com Zélia para Moçambique,onde, procurou sempre opor-se ao colonialismo. “Menina dos Olhos Tristes” é uma composição que reflete este descontentamento, pugnando sempre pela livre determinação das então colónias portuguesas.<br />
 
Zeca Afonso emigraria com Zélia para Moçambique,onde, procurou sempre opor-se ao colonialismo. “Menina dos Olhos Tristes” é uma composição que reflete este descontentamento, pugnando sempre pela livre determinação das então colónias portuguesas.<br />
  
 
'''
 
'''
 
"Cantares"'''
 
"Cantares"'''
 
 
<br />
 
<br />
 
*Cantar Alentejano<br />
 
*Cantar Alentejano<br />
<br />
 
 
<br />
 
<br />
 
Chamava-se Catarina
 
Chamava-se Catarina
Line 28: Line 25:
 
Ficou vermelha a campina<br />
 
Ficou vermelha a campina<br />
 
Do sangue que então brotou<br />
 
Do sangue que então brotou<br />
<br />
 
 
<br />
 
<br />
 
Acalma o furor campina<br />
 
Acalma o furor campina<br />
Line 34: Line 30:
 
Quem viu morrer Catarina<br />
 
Quem viu morrer Catarina<br />
 
Não perdoa a quem matou<br />
 
Não perdoa a quem matou<br />
<br />
 
 
<br />
 
<br />
 
Aquela pomba tão branca<br />
 
Aquela pomba tão branca<br />
Line 40: Line 35:
 
Ó Alentejo queimado<br />
 
Ó Alentejo queimado<br />
 
Ninguém se lembra de ti<br />
 
Ninguém se lembra de ti<br />
<br />
 
 
<br />
 
<br />
 
Aquela andorinha negra<br />
 
Aquela andorinha negra<br />
Line 76: Line 70:
 
'''"Cantar de Novo"'''
 
'''"Cantar de Novo"'''
  
<br />
 
<br />
 
 
“A Morte Saiu à Rua”<br />
 
“A Morte Saiu à Rua”<br />
 
A morte<br />
 
A morte<br />
Line 105: Line 97:
 
Duma ceifeira<br />  
 
Duma ceifeira<br />  
 
De Portugal<br />
 
De Portugal<br />
<br />
 
<br />
 
 
<br />
 
<br />
 
E o som<br />  
 
E o som<br />  
Line 116: Line 106:
 
zendo em toda a parte<br />
 
zendo em toda a parte<br />
 
O pintor morreu<br />
 
O pintor morreu<br />
<br />
 
 
<br />
 
<br />
 
Teu sangue,<br />  
 
Teu sangue,<br />  
Line 135: Line 124:
 
Pertence à terra<br />
 
Pertence à terra<br />
 
Que te abraçou<br />
 
Que te abraçou<br />
<br />
 
 
<br />
 
<br />
 
Aqui<br />
 
Aqui<br />

Revision as of 16:59, 25 January 2024

Joseafonso.pngZecaafonso58 59 faro.jpg

  • José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos (Zeca Afonso)

Antifascista, foi expulso de professor do ensino público e perseguido pela PIDE.
A sua canção "Grândola Vila Morena" foi uma das senhas usada pelos Capitães de Abril para dar início à Revolução. Na década de 60, viveu no Algarve, onde no seu grupo de amigos, figuravam autores como António Ramos Rosa, Luiza Neto Jorge ou Fiama Hasse Pais Brandão, que procuravam o mesmo caminho que Zeca: o de uma contestação que conseguisse vencer o poder político pelo poder da palavra.
Em 1963, terminou o curso de Filosofia com uma tese sobre Jean-Paul Sartre. No plano pessoal, conhece a algarvia Zélia Afonso, com quem casaria.
Este terá sido o seu período mais fértil em baladas de intervencão que o caracterizaram enquanto cantautor,sendo "Os Vampiros” e “Menino do Bairro Negro” os primeiros grandes temas de contestação política e social.
Entretanto, em 1964 lança os livros “Cantares" (1964) e “Baladas e Canções” que foram vítimas da censura. Nestes livros, figuram temas como “Canção Longe”, “Canto da Primavera” ou “Ó Vila de Olhão”, “Minha Mãe” e “Os Bravos”.
Zeca Afonso emigraria com Zélia para Moçambique,onde, procurou sempre opor-se ao colonialismo. “Menina dos Olhos Tristes” é uma composição que reflete este descontentamento, pugnando sempre pela livre determinação das então colónias portuguesas.

"Cantares"

  • Cantar Alentejano


Chamava-se Catarina O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer


Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou

Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou

Aquela pomba tão branca
Todos a querem p'ra si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti

Aquela andorinha negra
Bate as asas p'ra voar
Ó Alentejo esquecido
Inda um dia hás-de cantar

“Os Bravos”

Eu fui à terra do bravo
Bravo meu bem
Para ver se embravecia
Cada vez fiquei mais manso
Bravo meu bem
Para a tua companhia

Eu fui à terra do bravo
Bravo meu bem
Com o meu vestido vermelho
O que eu vi de lá mais bravo
Bravo meu bem
Foi um mansinho coelho

As ondas do mar são brancas
Bravo meu bem
E no meio amarelas
Coitadinho de quem nasce
Bravo meu bem
P'ra morrer no meio delas

Cantares, José Afonso

"Cantar de Novo"

“A Morte Saiu à Rua”
A morte
Saiu à rua
Num dia assim
Naquele
Lugar seu nome
P’ra qualquer fim.

Uma
Gota rubra so-
bre a calçada
Cai

E um rio
De sangue
Dum
Peito aberto
Sai


O vento
Que dá nas canas
Do caniçal

E a foice
Duma ceifeira
De Portugal

E o som
Da bigorna
Como
Um clarim do céu

Vão di-
zendo em toda a parte
O pintor morreu

Teu sangue,
Pintor, reclama
Outra morte
Igual

Só olho
Por olho e
Dente por dente
Vale

À lei assassina
À morte
Que te matou

Teu corpo
Pertence à terra
Que te abraçou

Aqui
Te afirmamos
Dente por dente
Assim

Que um dia
Rirá melhor
Quem rirá por fim

Na curva
Da estrada
Há covas feitas
No chão

E em todas
Florirão rosas
Duma nação