Magalhães, Joaquim - Pretérito imperfeito

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Prefácio do livro "Pretérito Imperfeito" com o título Em jeito de auto-apresentação

Nasci no Porto. No Porto cresci e estudei as primeiras letras, as segundas e as universitárias. Tive, desde sempre, o vício dos livros.
Fui professor provisório, no Porto, e do ensino particular, em Espinho e Sernache do Bonjardim.
Fiz o estágio profissional no Liceu Normal de Coimbra e Exame de Estado no Liceu Normal de Lisboa. Em Coimbra, participei na amizade dos poetas da "Presença". Participei também na tentativa cívica do Movimento de Renovação Democrática de 1932.
Em Faro, onde me naturalizaram algarvio, fiz o percurso profissional, no Liceu João de Deus, depois de me ter efetivado no do Funchal.
Fora do ensino, participei ativamente, nas atividades culturais, literárias, associativas, assistenciais de Faro e do Algarve.
Fiz centenas de conferências.
Tive a sorte imensa de ter ajudado a dar a conhecer a poesia popular do grande António Aleixo.
Fui colaborador da imprensa regional e da rádio nacional.
Tenho alguns pequenos trabalhos publicados sobre João de Deus, Emiliano da Costa, Bernardo de Passos, Teixeira Gomes.
Os meus concidadãos de Faro e Tavira deram-me medalha de ouro de mérito municipal.
Os colegas de Faro e o Município atribuíram o meu nome a uma Escola C+S.
Também me foi atribuída a Condecoração da Comenda da Ordem do Infante D. Henrique.
Mesmo antes disso já procurara, sempre, seguir "o talante de bem fazer", do meu patrono atual.
Como lema tenho procurado seguir o preceito: "quem não vive para servir, não serve para viver". É uma mania como outra qualquer, ○ que procurei exprimir na quadrinha seguinte:

"Cada um é como é,
e, por isso eu sou assim,
dei todo o meu tempo aos outros,
fiquei sem tempo para mim."

SAUDADES

Se eu pudesse voltar a ser menino,
o mesmo bebé loiro que já fui!...
Se eu pudesse voltar a ser menino,
quando tinha sete anos
e chorava
desconsoladamente
porque não queria ficar na escola
e tinha medo
da professora que era feia
como as bruxas dos contos...

Eu não gostava
dos outros meninos que lá estavam
e não me conheciam
e lá por dentro se riam
do meu choro desolado...
Esse primeiro dia de escola
para sempre ficou assinalado.

Em casa tinha fama de prodígio
a fama que os papás e as mamãs
inventam para os filhos de sete anos!
Eu já sabia ler,
fazia contas
e até pintava as letras menos mal
Estas provas da minha sapiência
tão precoce e admirável
eram mostradas às visitas
que aplaudiam
e sorriam

com sorrisos falsamente espontâneos
à minha precocidade.
tal qual como fariam
ao verem a habilidade
de um gato a rebolar-se pelo chão
atrás de algum novelo de algodão.

Então envergonhava-me
de ser assim esperto
e prometia

nunca mais me prestar a exibições
que eram o orgulho da família.
Mas mesmo assim,
talvez por isso mesmo,
quem pudesse voltar a ser menino
○ mesmo bebé loiro que já fui!...


In: Magalhães, Joaquim. Pretérito Imperfeito, Algarve em Foco Editora, 1996 P.67 e 68.