Leituras de Joaquim Magalhães - Apresentação (JM)

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Projeto de Promoção da Leitura e de Interpretações Artísticas de Poemas

Lídia Jorge:
- Joaquim Magalhães pós de lado a criação literária própria para se entregar à leitura e ao estudo dos grandes autores. Houve nele um ator que levou os outros a entenderem teatro, um poeta que em vez de escrever e publicar poesia, leu poesia e fez outros serem poetas.
-António Aleixo (a homenagear o
Dr. Joaquim Magalhães):
Não há nenhum milionário
que seja feliz como eu
Tenho como secretário
um professor do liceu.
-Joaquim Magalhães (quadra ao jeito
aleixiano):
Cada um é como é,
e, por isso, eu sou assim,
dei todo o meu tempo aos outros,
fiquei sem tempo para mim.
  • O Projeto de Promoção da Leitura e de Interpretações Artísticas nasce como uma iniciativa cultural e pedagógica, integrada no Tributo a Joaquim Magalhães, professor, humanista e promotor das letras algarvias.

Inspirado no exemplo de Joaquim Magalhães — cuja ação educativa e cultural incentivou gerações de leitores e escritores — o projeto pretende valorizar a leitura expressiva, a interpretação criativa e o encontro entre literatura e arte.

As atividades incluem leituras em voz alta, performances poéticas e interpretações artísticas de poemas, tanto da autoria de Joaquim Magalhães como de autores por ele apoiados e divulgados, reforçando assim a sua missão de abrir caminhos à palavra e à imaginação.

Mais do que uma homenagem, este projeto constitui um exercício vivo de continuidade cultural, no qual alunos e professores se tornam mediadores da poesia, redescobrindo a força humanizadora da literatura e a sua capacidade de inspirar novas formas de expressão artística.


  • JOAQUIM MAGALHÃES

Joaquim da Rocha Peixoto Magalhães (1909–1999) foi uma figura central na cultura algarvia do século XX. Natural do Porto, estabeleceu-se em Faro em 1933, onde se dedicou ao ensino, à promoção da cultura e à valorização da literatura regional. Foi professor e reitor do Liceu de Faro, além de ter sido um dos fundadores do Círculo Cultural do Algarve e colaborador da Aliança Francesa de Faro. A sua obra inclui estudos sobre figuras como António Aleixo, Manuel Teixeira Gomes e João de Deus.

Magalhães escreveu prefácios e proferiu conferências que contribuíram significativamente para a promoção da literatura algarvia. Um exemplo notável é o prefácio intitulado "Explicação Indispensável", escrito para a obra de António Aleixo. Neste texto, Magalhães apresenta Aleixo como um poeta popular autodidata, destacando a sua capacidade de expressar a realidade social e política do Algarve com uma linguagem simples e direta. Ele reconhece a importância da obra de Aleixo como um reflexo da cultura popular e da identidade algarvia.
Além disso, Magalhães proferiu conferências sobre figuras literárias algarvias, como João de Deus e Manuel Teixeira Gomes, contribuindo para o aprofundamento do conhecimento sobre a literatura regional. Essas conferências foram importantes para contextualizar as obras desses autores e para promover a sua leitura e apreciação.

Joaquim da Rocha Peixoto Magalhães desempenhou um papel crucial na valorização da literatura algarvia, não apenas através da sua própria obra, mas também pelo apoio a outros escritores e poetas da região. Os seus prefácios e conferências foram instrumentos fundamentais para o reconhecimento e divulgação da literatura regional, deixando um legado duradouro na cultura do Algarve.
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  • Pretérito Imperfeito

Pretérito imperfeito
de uma vida,
mais ou menos vivida
sem rumo nem jeito,
à espera de mim,
do que eu me suponho,
ou do que eu me sonho
capaz e não faço.
Ata-me um cansaço
das coisas, de mim,
cansaço sem fim,
tão forte e subtil
que nunca consigo
passar dos projetos
que esboço num sonho
de revelação.
Se digo que sim,
que me descobri
capaz de fazer,
a vida diz não
e páro cansado.
Já resignado,
a não vir a ser
aquilo que, em sonho,
mil vezes sonhado,
eu sou e não sou.
É mais forte a vida
que o sonho sonhado;
ai vida sem vida
que me tens atado!

In: Magalhães, Joaquim. Pretérito Imperfeito, Algarve em Foco Editora, 1996 P.57

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- Para ouvir João Quintela a recitar clique em: https://contarte-audio.blogspot.com/2020/01/joaquim-magalhaes.html


O facto de nos termos habituado, nas aulas de história, a ouvir falar de Portugal e do Algarve, reinos do monarca português, contribui decerto para que não estranhemos as designações : revista algarvia, escritores algarvios, poesia algarvia, assaz frequentes no Algarve e aceitáveis nas restantes províncias do país. Tanto mais que não está fora dos nossos hábitos falar ou escrever dos escritores minhotos ou durienses ou dos artistas transmontanos ou ribatejanos com a mesma precisa ideia de diferenciação com que empregamos as expressões similares respeitantes a algarvios. Será que no quadro da paisagem humana de Portugal existe, na realidade, um tipo psicológico algarvio bem diferenciado do comum dos naturais das outras províncias portuguesas? possível que um estudo aprofundado e bem documentado deste tema chegasse a curiosas conclusões. E talvez que, numa análise da produção poética algarvia, se pudesse encontrar bons elementos para esclarecer e, quiçá, responder àquela pregunta. Mesmo sem pretensões de regionalismo literário ou de bairrismo provincial, unia simples observação superficial permite apontar, em todos os líricos nascidos no Algarve, qualquer coisa de comum e caracteristicamente algarvia. Não nos referimos ao amor da terra natal, por demais evidente e natural em todos eles, como fator essencial desta observação. A sugestão dos temas regionais é lógica e significativa. Mas, sem que o busquem, por preocupação de originalidade, é evidente, entre os artistas algarvios, um certo espírito de independência intelectual que os não deixa serem seguidores deste ou daquele estilo ou moda literária. Recorde-se como João Deus, por exemplo, escapou ao contágio ultrarromântico sem ter ido tampouco nas águas do realismo. A essa independência de espírito, verificável também ao individualismo dos contemporâneos, acresce, nos poetas algarvios, —e isso é característica comum — a presença do Algarve, que se manifesta, em todos, pelo amor da claridade, da luz e da cor que se respiram no ambiente e na paisagem da província e que, sem que talvez dêem por isso, lhes iluminam as melhores composições de todos eles. Isso faz que, não sendo o Algarve uma terra de pintores, sejam os poetas os grandes pintores da região. Bernardo de Passos, João Lúcio, Cândido Guerreiro, Emiliano da Costa, para só citar os que se têm destacado, mais do que poetas, são os poetas-pintores da província natal. No último citado, até, como característica de modo predominante. Mas basta, como primeiro apontamento.

Joaquim Magalhães