Leituras de Joaquim Magalhães - Apresentação (JM)
Projeto de Promoção da Leitura e de Interpretações Artísticas de Poemas
Lídia Jorge:
- Joaquim Magalhães pós de lado a criação literária própria para se entregar à leitura e ao estudo dos grandes autores. Houve nele um ator que levou os outros a entenderem teatro, um poeta que em vez de escrever e publicar poesia, leu poesia e fez outros serem poetas.
-António Aleixo (a homenagear o Dr. Joaquim Magalhães):
Não há nenhum milionário
que seja feliz como eu
Tenho como secretário
um professor do liceu.
-Joaquim Magalhães (quadra ao jeito alexiano):
Cada um é como é,
e, por isso, eu sou assim,
dei todo o meu tempo aos outros,
fiquei sem tempo para mim.
APRESENTAÇÃO
JOAQUIM MAGALHÃES
Joaquim da Rocha Peixoto Magalhães (1909–1999) foi uma figura central na cultura algarvia do século XX. Natural do Porto, estabeleceu-se em Faro em 1933, onde se dedicou ao ensino, à promoção da cultura e à valorização da literatura regional. Foi professor e reitor do Liceu de Faro, além de ter sido um dos fundadores do Círculo Cultural do Algarve e colaborador da Aliança Francesa de Faro. A sua obra inclui estudos sobre figuras como António Aleixo, Manuel Teixeira Gomes e João de Deus.
Magalhães escreveu prefácios e proferiu conferências que contribuíram significativamente para a promoção da literatura algarvia. Um exemplo notável é o prefácio intitulado "Explicação Indispensável", escrito para a obra de António Aleixo. Neste texto, Magalhães apresenta Aleixo como um poeta popular autodidata, destacando a sua capacidade de expressar a realidade social e política do Algarve com uma linguagem simples e direta. Ele reconhece a importância da obra de Aleixo como um reflexo da cultura popular e da identidade algarvia.
Além disso, Magalhães proferiu conferências sobre figuras literárias algarvias, como João de Deus e Manuel Teixeira Gomes, contribuindo para o aprofundamento do conhecimento sobre a literatura regional. Essas conferências foram importantes para contextualizar as obras desses autores e para promover a sua leitura e apreciação.
Joaquim da Rocha Peixoto Magalhães desempenhou um papel crucial na valorização da literatura algarvia, não apenas através da sua própria obra, mas também pelo apoio a outros escritores e poetas da região. Os seus prefácios e conferências foram instrumentos fundamentais para o reconhecimento e divulgação da literatura regional, deixando um legado duradouro na cultura do Algarve.
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Explicação do projeto
- Pretérito Imperfeito
Pretérito imperfeito
de uma vida,
mais ou menos vivida
sem rumo nem jeito,
à espera de mim,
do que eu me suponho,
ou do que eu me sonho
capaz e não faço.
Ata-me um cansaço
das coisas, de mim,
cansaço sem fim,
tão forte e subtil
que nunca consigo
passar dos projetos
que esboço num sonho
de revelação.
Se digo que sim,
que me descobri
capaz de fazer,
a vida diz não
e páro cansado.
Já resignado,
a não vir a ser
aquilo que, em sonho,
mil vezes sonhado,
eu sou e não sou.
É mais forte a vida
que o sonho sonhado;
ai vida sem vida
que me tens atado!
In: Magalhães, Joaquim. Pretérito Imperfeito, Algarve em Foco Editora, 1996 P.57
- Para ouvir João Quintela a recitar clique em: https://contarte-audio.blogspot.com/2020/01/joaquim-magalhaes.html