Teatro

From Wikipédia de Autores Algarvios
Revision as of 21:59, 6 November 2024 by Admin (talk | contribs)

Jump to: navigation, search

À laia de introdução à obra dramática de Luís de Camões:
O Teatro de Camões (breve explicação):
[ https://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0821117_2011_cap.4.pdf]

I - El-Rei Seleuco

Personagens:

Moço, Mordomo (dono da casa), Martins, Ambrósio, escudeiro, representador, El-Rei Seleuco, Rainha Estratónica (sua mulher), Antíoco (príncipe), Leocádio (pajem de Antíoco), Moça, Porteiro, Alexandre (músico), restantes músicos, Frolalta (criada da Rainha), físico, Sancho (criado do físico) e Estácio da Fonseca.


O tema de El-Rei Seleuco é extraído da história e já anteriormente fora tratado por Plutarco na sua obra Vida de Demétrio.A jovem esposa do velho rei Seleuco é também desejada pelo filho deste, Antíoco. Para evitar uma crise dinástica e, dado que aquela também ama Antíoco, o velho rei cede heroicamente a sua mulher ao filho.

Nesta peça, e de acordo com Isabel Pascoal, na introdução à sua obra Poesia Lírica de Luís de Camões, assiste-se a "um predomínio dos aspetos psicológicos e sentimentais, pois omite-se a cedência do reino por Seleuco, insistindo-se apenas na cedência da esposa", afastando-se Camões, neste aspeto, da sua fonte - Vida de Demétrio, de Plutarco.
À anedota histórica juntou momentos de farsa, como as pretensões falhadas dum Porteiro junto de uma Moça de câmara, as tentativas ridículas de versificação pelo Porteiro ou o diálogo castelhano entre o Físico e o seu Moço.

A peça está enquadrada por um prólogo e um epílogo em prosa, inteiramente desligados do contexto da peça e que descrevem pormenorizadamente o costume de representar autos em pátios de casas particulares lisboetas.
In:
https://www.infopedia.pt/artigos/$el-rei-seleuco

Excerto

Camoes Julio-Dantas AutoDeElReiSeleuco1.pngCamoes Julio-Dantas AutoDeElReiSeleucop2.pngCamoes Julio-Dantas AutoDeElReiSeleucop15 .png

Camoes Julio-Dantas AutoDeElReiSeleucop16.pngCamoes Julio-Dantas AutoDeElReiSeleucop17.pngCamoes Julio-Dantas AutoDeElReiSeleucop18.pngCamoes Julio-Dantas AutoDeElReiSeleucop19 .png


MARTIM, vendo rir LANÇAROTE
Que salgado moço, este! — Anda cá. — Zombaste de mim?

ROMÃO, a LANÇAROTE
Como te chamas tu?

LANÇAROTE
Eu nunca me chamo.

MARTIM
Donde és natural?

LANÇAROTE
Donde quer que me acho.

MARTIM
Pergunto-te onde nasceste.

LANÇAROTE
Nas mãos das parteiras.

ROMÃO
Em que terra?

LANÇAROTE
Toda a terra é uma; e mais, eu nasci em casa assobradada, varrida daquela hora, que não havia palmo de terra nela.

MARTIM
Bem varrido de vergonha que tu me pareces. Dize: de quem és filho?

LANÇAROTE
Eu?

MARTIM
É para ver com que disparate respondes.

LANÇAROTE
A falar verdade, parece-me a mim que sou filho de um meu tio.

ROMÃO
De teu tio?

MARTIM
E isso como?

LANÇAROTE
Como? Isto, senhor, é adivinhação que vossas mercês não entendem. Meu pai era clérigo; os clérigos sempre chamam aos filhos, sobrinhos; e daqui me ficou a mim ser filho de meu tio.

MARTIM, rindo
Ora te digo que és gracioso.

LANÇAROTE
E ainda vossas mercês me não ouviram uma trova. Faço-as tão bem como o Chiado.

ROMÃO
Tu?

LANÇAROTE
E canto-as à viola.

MARTIM, dando-lhe uma viola que está sobre um tamborete
Ora assenta-te aqui. — Vamos lá ouvir uma trova, enquanto não chegam as figuras do Auto.

LANÇAROTE, tomando a viola
Aí vai uma, feita à moça Briolanja, minha dama. — Assoem vossas mercês os engenhos, senão não entendem nada.

Cantando:
Por amor de vós, Briolanja,
Ando eu morto,
Pesar de meu avô torto...

ROMÃO
Mas que culpa tem teu avô dos desfavores de tua dama?

LANÇAROTE
Pois, senhor, se eu houver de pesar dalguém, não pesarei antes dos meus parentes que dos alheios? — Ora ouçam vossas mercês a volta.

Cantando:
Vossos olhos tão daninhos
Me trataram de feição,
Que não há em meu coração
Nem um trapo para atar dois reis de cominhos.
Meu bem, ando sem focinhos,
Por vós morto,
Pesar de meu avô torto...

In:
- https://ia800206.us.archive.org/8/items/autodeelreise00dant/autodeelreise00dant.pdf

II - Auto dos Anfitriões

Da autoria de Luís de Camões, publicada em 1587, juntamente com Filodemo, Anfitriões é composta à semelhança da comédia de Plauto Amphitruo, embora numa adaptação livre, na qual a introdução de novas personagens atrasa o desenrolar da intriga principal e acrescenta momentos de farsa, mais ao estilo vicentino.

Personagens:

Anfitrião, Almena (sua mulher), Sósia (seu servo), Brómia (criada de Almena), Belferrão (patrão), Aurélio (primo de Alcmena), o servo de Aurélio, Júpiter e Mercúrio (deuses).

Desejando Almena, mulher de Anfitrião e aproveitando a ausência do marido, que se encontrava na guerra, Júpiter disfarça-se de Anfitrião, a conselho do mensageiro Mercúrio, seu servo, que por sua vez se disfarça de Sósia, servo de Anfitrião. Com este disfarce, Júpiter faz crer a Alcmena que tinha regressado da batalha. Deste encontro vai nascer um filho "Hércules", acontecimento que vai constituir o final da comédia.
É evidente que o regresso do verdadeiro Anfitrião vai criar uma série de equívocos que o autor transforma em alguns episódios dramáticos, protagonizados por Alcmena, mas principalmente em cenas cómicas.
O clímax da peça regista-se no momento em que Anfitrião descobre o embuste, mas é obrigado a calar o seu "ciúme conjugal", na medida em que não se atreve e enfrentar um ser divino (Júpiter).
In: https://www.infopedia.pt
Excerto 1

Auto chamado dos Enfatriões, feito por Luís de Camões, em o qual entram as figuras seguintes: Enfatrião; Almena sua mulher; Sósia seu moço; Brómia sua criada; Belferrão patrão; Aurélio primo dela com seu moço; Júpiter e Mercúrio; e entra logo Almena saudosa do marido que é na guerra, e diz:

Almena

Ah, senhor Anfitrião,
onde está todo meu bem,
pois meus olhos vos não veem
falarei com o coração
que dentro da alma vos tem.
Ausentes duas vontades,
qual corre mais perigos,
qual sofre mais crueldades:
se vós entre os inimigos
se eu entre as saudades?

Que a ventura que vos traz
tão longe da vossa terra
tantos desconcertos faz
que se vos levou à guerra
não me quis deixar em paz.
Brómia, quem com vida ter
da vida já desespera
que lhe poderás dizer?

Brómia

Que nunca se viu prazer
senão quando não se espera.

E portanto, não devia
de ter triste a fantasia
porque, vossa mercê creia,
que o prazer sempre salteia
quem dele mais desconfia.
Eu tenho no coração
do senhor Anfitrião
venha hoje alguma nova.
Não receba alteração,
que a verdadeira afeição
na longa ausência se prova.

Almena

Dizei logo a Feliseu
que chegue muito apressado
ao cais e busque meio
de saber se algum recado
do porto pérsico veio.
E mais lhe haveis de dizer,
isto vos dou por ofício,
de alguma nova saber
enquanto eu vou fazer
aos deuses sacrifício.

Excerto 2

Júpiter

Tu não vês que esta mulher
se preza de virtuosa?

Mercúrio

Senhor, tudo pode ser,
que pera muito quem quer
Sempre afeição é manhosa.
Seu marido está ausente
na guerra, longe daqui.
Tu, que és Júpiter potente,
tomarás sua forma em ti,
que o farás mui facilmente.

E eu me transformarei
na de Sósia, criado seu,
e ao arraial me irei
onde logo saberei
como se a batalha deu.
E assim poderás entrar
em lugar de seu marido,
e para que sejas crido
poderás também contar
quanto eu lá tiver sabido.


In: http://www.cet-e-quinhentos.com/autores