Teatro
À laia de introdução à obra dramática de Luís de Camões:
[O Teatro de Camões (breve explicação) https://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0821117_2011_cap.4.pdf]
I - El-Rei Seleuco
Personagens:
Moço, Mordomo (dono da casa), Martins, Ambrósio, escudeiro, representador, El-Rei Seleuco, Rainha Estratónica (sua mulher), Antíoco (príncipe), Leocádio (pajem de Antíoco), Moça, Porteiro, Alexandre (músico), restantes músicos, Frolalta (criada da Rainha), físico, Sancho (criado do físico) e Estácio da Fonseca.
O tema de El-Rei Seleuco é extraído da história e já anteriormente fora tratado por Plutarco na sua obra Vida de Demétrio. A jovem esposa do velho rei Seleuco é também desejada pelo filho deste, Antíoco. Para evitar uma crise dinástica e, dado que aquela também ama Antíoco, o velho rei cede heroicamente a sua mulher ao filho.
Nesta peça, e de acordo com Isabel Pascoal, na introdução à sua obra Poesia Lírica de Luís de Camões, assiste-se a "um predomínio dos aspetos psicológicos e sentimentais, pois omite-se a cedência do reino por Seleuco, insistindo-se apenas na cedência da esposa", afastando-se Camões, neste aspeto, da sua fonte - Vida de Demétrio, de Plutarco. À anedota histórica juntou momentos de farsa, como as pretensões falhadas dum Porteiro junto de uma Moça de câmara, as tentativas ridículas de versificação pelo Porteiro ou o diálogo castelhano entre o Físico e o seu Moço.
A peça está enquadrada por um prólogo e um epílogo em prosa, inteiramente desligados do contexto da peça e que descrevem pormenorizadamente o costume de representar autos em pátios de casas particulares lisboetas. In: https://www.infopedia.pt/artigos/$el-rei-seleuco
II - Excerto
In:
- https://ia800206.us.archive.org/8/items/autodeelreise00dant/autodeelreise00dant.pdf
Auto chamado dos Enfatriões, feito por Luís de Camões, em o qual entram as feguras seguintes: Enfatrião; Almena sua molher; Sósia seu moço; Brómia sua criada; Belferrão patrão; Aurélio primo dela com seu moço; Júpiter e Mercúrio; e entra logo Almena saudosa do marido que é na guerra, e diz:
Ah, senhor Anfatrião,086c
onde está todo meu bem,
pois meus olhos vos nam vem
falarei c’o coração
que dentro n’alma vos tem.5
Ausentes duas vontades,
qual corre mores perigos,
qual sofre mais crueldades:
se vós antre os enemigos
se eu antre as saudades?10
Que a ventura que vos traz
tam longe da vossa terra
tantos desconcertos faz
que se vos levou à guerra
nam me quis leixar em paz.15
Brómia, quem com vida ter
da vida já desespera
que lhe poderás dizer?
Brómia
Que nunca se viu prazer senão quando nam se espera.20 E portanto, nam devia de ter triste a fantesia porque, vossa mercê crea, que o prazer sempre saltea quem dele mais desconfia.25 Eu tenho no coração do senhor Anfatrião venha hoje algũa nova. Nam receba alteração, que a verdadeira afeição30 na longa ausência se prova. Almena
Dizei logo a Feliseu086d que chegue muito apressado ao cais e busque meio de saber se algum recado35 do porto pérsico veio. E mais lhe haveis de dizer, isto vos dou por ofício, dalgũa nova saber enquanto eu vou fazer40 aos deoses sacrefício.