Horta, Maria Teresa - Livros Proibidos
https://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/LivrosQueForamNoticia/LivrosQueForamNoticia_NovasCartasPortuguesas7.htm
- Maria Teresa Horta (1937-)
Maria Teresa de Mascarenhas Horta Barros escritora, jornalista e poetisa portuguesa é uma das autoras do livro Novas Cartas Portuguesas, pelo qual foi processada e julgada em 1972, ao lado de Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa.
- Livro proibido Minha Senhora de Mim
Minha Senhora de Mim foi o nono livro de poesia que Maria Teresa Horta publicou. À época da sua publicação, a autora já contava com o olhar atento da PIDE. Aliás, na ficha desta polícia política, que se encontra na Torre do Tombo, já se encontra um documento em que se pede informações sobre a autora, que data do início de 1967:
RELATÓRIO
ASSUNTO:
– Interessa obter a identidade completa de MARIA TERESA HORTA que consta ser escritora. Sugere-se a consulta à Conservatória da Propriedade Literária – Biblioteca Nacional de Lisboa. Número do Bilhete de Identidade se possível.
In:[1]
- Poema 1 - PONTO DE HONRA
Não sou escrava
de lamento
nem tento ferida
de enfeite
nem uso a raiva
que tenho
como um alfange
no peito
Não talho o sangue
nas pedras
nem uso palavras
de ódio
e não quero anéis
de aceite
para enfeitar os meus olhos
- Poema 2 - MINHA SENHORA DE MIM
Comigo me desavim
minha senhora
de mim
sem ser dor ou ser cansaço
nem o corpo que disfarço
Comigo me desavim
minha senhora
de mim
nunca dizendo comigo
o amigo nos meus braços
Comigo me desavim
minha senhora
de mim
recusando o que é desfeito
no interior do meu peito
- Poema 3 - VIOLÊNCIA
Ó secreta violência
dos meus sentidos domados
em mim parto
e em mim esqueço
senhora de meu
silêncio
com tantos quartos fechados
Anoitece e desguarneço
despeço aquilo que
faço
Ó semelhança firmeza
mulher doente de afagos
- Poema 4 - EMIGRANTE
Não vou negar meu amor
que não te afasto
e evito
nem que vacilo
e resisto
a negar-me ao teu encontro
que construo e que desisto
Meu amigo
e meu amado
emigrante do que eu sinto
- Poema 5 - POEMA SOBRE O ENREDO
Enredada estou de mim
nesta febre em que me vejo
já que enredada de ti
não se cura o meu desejo
que nem me pus de curar
este fogo do teu corpo
nem me pus de enganar
esta sede que provoco
pois logo desenredada
eu sei que me enredaria
neste vício de enredar
o meu espasmo em teu orgasmo
por sua vez enredado na branda rede dos dias
- Poema 6 -AMARGURA
Vem amargura teu peito
balaustrada nos meus
dedos
Vem noite com seus enfeites
a penetrar-te os
cabelos
Vem dor guiada na boca
em direcção
dos teus ombros
marinheiro de teu corpo
a conduzir o meu gozo
Nota 1: O livro Novas Cartas Portuguesas costuma estar catalogado com a notação CDU de "821.134.3-6", que indica obras de literatura portuguesa escritas em prosa epistolar. É pois uma obra de ficção, mas aborda com muita realidade e muita critica social a opressão das mulheres na sociedade portuguesa. Assim nesta wiki optamos por com esta obra colocar as páginas das 3 Marias nas categorias de Romance e de Não ficção.
Nota 2: Também colocamos esta Maria Teresa Horta em Autores Algarvios Censurados. Clique nessa categoria para saber a razão de tal atribuição.