Reed, John - Livros Proibidos

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John "Jack" Silas Reed foi um jornalista e ativista norte-americano, famoso pelo seu livro Dez dias que abalaram o Mundo, em que relata em primeira-mão os acontecimentos que constituíram a Revolução de Outubro em que os bolcheviques tomaram o poder na Rússia.


Os Dez Dias que Abalaram o Mundo

  • Excerto 1
OS BASTIDORES 
Em fins de setembro de 1917, um professor de sociologia que percorria a Rússia veio visitar-me em Petrogrado. Os homens de negócios e os intelectuais haviam-lhe garantido que a revolução começara a declinar. O professor acreditou em tais informações e escreveu um artigo sustentando essa opinião. Entretanto, continuou a viajar pelo país, visitando cidades industriais e pequenas aldeias do interior. Com assombro, verificou então que a revolução parecia entrar em nova fase de desenvolvimento.
Entre os operários das fábricas e os camponeses pobres ouvia-se frequentemente falar de "todas as terras aos camponeses" e "todas as fábricas aos trabalhadores". Se o professor tivesse visitado as trincheiras, verificaria, também, que os soldados só falavam em paz...
O homem ficou aturdido, mas não havia razão para tal. Ambas as observações eram corretas. Na Rússia, as classes dominantes tornavam-se cada vez mais conservadoras, e as massas populares, cada vez mais radicais.
  • Excerto 2
APROXIMA-SE A TEMPESTADE 
Esperando tornar-se o ditador da Rússia, em setembro, o General Kornilov marchou sobre Petrogrado. Por trás dele, aparecia o punho armado da burguesia, procurando descaradamente esmagar a revolução. Alguns ministros socialistas estavam, também, ligados à conspiração. Sobre o próprio Kerenski pesavam sérias suspeitas. Savinkov foi chamado pelo comité central de seu partido, o Partido Socialista Revolucionário, para explicar sua atitude. Negando-se à explicação, foi expulso. Alguns generais e ministros seus aliados foram depostos.
Após a queda do gabinete, Kerenski tentou formar novo governo com a participação dos cadetes, o partido da burguesia.
  • Excerto 3
ÀS VÉSPERAS 
Nas relações entre um governo fraco e um povo em revolta, há certos momentos em que qualquer ação das autoridades só consegue exasperar as massas e cada recuo ou prova de fraqueza apenas tem como resultado aumentar seu desprezo.
O plano de evacuar Petrogrado desencadeou uma tormenta. Quando Kerenski afirmou que não pensava em tal coisa, ergueram-se protestos e ditos zombeteiros.
"Pressionado pela revolução", gritava o Rabótchi Put, "o Governo Provisório de burgueses pretende livrar-se do aperto, afirmando mentirosamente que nunca pensou em fugir de Petrogrado, e que não quer entregar a capital... "

Em Khárkov, surgiu uma organização de trinta mil mineiros, que adotou o preâmbulo dos estatutos da IWW* . "Não há nada de comum entre a classe trabalhadora e a classe exploradora."

  • Excerto 4
ÀS VÉSPERAS 
Em seguida, foi dissolvido o Soviete de Kaluga, no qual os bolcheviques, depois de terem conquistado a maioria, resolveram decretar a liberdade de alguns presos políticos. Com a aprovação do representante do governo, a Duma Municipal enviou tropas reacionárias a Minsk e bombardeou com a artilharia a sede do soviete. Os bolcheviques renderam-se. Mas, no momento em que abandonavam o edifício, foram atacados pelos cossacos, que investiram contra eles gritando: — É isso que precisamos fazer com todos os outros sovietes bolcheviques, inclusive os de Petrogrado e de Moscovo! — Esse facto levantou em toda a Rússia uma violenta onda de indignação. 
  • Excerto 5
O AUTOR E SUA OBRA 
Combateu nas barricadas. A sua arma era o lápis, tal como a do ferreiro, lutando a seu lado, talvez fosse o martelo.
Mesmo examinada do ponto de vista jornalístico, a atividade de John Reed foi admirável. Os acontecimentos de uma semana, que os seus colegas considerariam simples lutas episódicas entre os partidos russos, ou incidentes pouco importantes da guerra, foram para John Reed dias que abalaram o mundo.
Qualquer outro repórter norte-americano, no seu lugar, teria enviado aos jornais pequenas informações lacónicas, sensacionalistas, sem base, sem explicações, mas cheias de lances dramáticos e horripilantes.
John Reed, o jornalista, não se limitou apenas à descrição diária dos acontecimentos. Compreendeu a responsabilidade do seu testemunho perante a história, e, por isso, procurou documentar cada fase da luta, reproduzindo os discursos por inteiro, registando-lhe as decisões. Buscou saber por que motivos as tentativas de acordo fracassaram. Traçou, rapidamente, o perfil dos deputados nos congressos. Disse por quantos votos esta ou aquela proposta foi rejeitada, dando importância enorme a pequeninos pormenores que outros, por certo, julgariam supérfluos.

John Reed compreendeu, nitidamente, que não bastava saber quem venceria nessas jornadas de outubro, pois estavam em jogo questões que iriam deixar vestígios profundos e indeléveis na vida da humanidade. Se esses dez dias nada tivessem resolvido, se não houvessem modificado a estrutura do mundo, a obra de Reed, com todas as minúcias objetivas, informações sobre as propostas em votação, sobre os locais onde se passaram os acontecimentos, com as descrições das personagens, etc, mesmo assim seria ainda de enorme interesse, porque nela palpita o entusiasmo apaixonado de um cronista que considera esses dez dias como um período histórico de importância eterna, imortal. Eis por que nenhum pormenor de sua obra é supérfluo e, antes, todos eles são complementos indispensáveis, sem os quais seria impossível reproduzir fielmente o movimento dos atores e o brilho dos combates. Graças justamente a tais minudências é que as suas informações adquirem valor inestimável e se tornam expressão magnífica do mais puro jornalismo clássico.

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Nota: este livro, que também é um relato/reportagem da revolução (russa) bolchevique de 1917, é normalmente catalogado em literatura, mas também lhe é atribuída a notação CDU (Classificação Decimal Universal) de 323.27(47+57), isto é, política e direitos humanos. Por tudo isto nesta wiki esta página está nas categorias abaixo.