Cabral, Alexandre - Livros Proibidos

From Wikipédia de Autores Algarvios
Revision as of 16:34, 6 February 2024 by Admin (talk | contribs)

Jump to: navigation, search

Cabral, Alexandre capa-e-censura.png Cabralfoto.jpg


Alexandre Cabral

Alexandre Cabral de seu verdadeiro nome José dos Santos Cabral, natural de Lisboa (17-10-1917 – 21-11-1996).
Formou-se em Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras de Lisboa. Teve um papel de relevo na formação da Sociedade Portuguesa de Escritores e colaborou em inúmeras publicações periódicas.
Em 1936, foi Director do periódico juvenil A Voz da Mocidade, extinto ao nono número, por ordem dos serviços de censura.
Militante comunista desde a juventude, foi preso três vezes, em 1952, 1963 e 1964, acusado de crimes contra a segurança do Estado, mas nunca julgado, a última das quais no regresso de uma viagem a Cuba, de que resultou um livro: Um Português em Cuba, só publicado em 1969.
Em 1959, assinou, com outros oposicionistas, um documento, datado de 18 de Março, em que se pedia a Salazar que, por ocasião da sua última lição em Coimbra, «se verifique também o seu afastamento da vida política».
Em Maio de 1972, foi um dos subscritores de um manifesto intitulado «A Situação Política Portuguesa e o Fracasso do Reformismo», apreendido pela DGS, e, por isso, interrogado.
Em 1973, fez parte da comissão nacional do III Congresso da Oposição Democrática, realizado em Aveiro.
Artisticamente, inseriu-se na corrente neo-realista e dedicou-se à investigação histórico-literária. Colaborou em diversos jornais e revistas, como Democracia do Sul, República, O Comércio do Porto, Vértice e Seara Nova.
Estreou-se com “Cinzas da Nossa Alma”, (1937). Publicou contos e romances de feição neo-realista, como “Contos Sombrios”, (1938), “O Sol Nascerá Um Dia”, (1942), “Contos da Europa e da África”, (1947), “Fonte da Telha”, (1949), “Terra Quente”, (1953), “Malta Brava”, (1955), “Histórias do Zaire”, (1956), e “Margem Norte” , (1961). Merecem referência os estudos que consagrado à vida e obra de Camilo Castelo Branco, entre os quais: “Estudos Camilianos”, (1978), “Escritos Diversos de Camilo Castelo Branco, (1979), e “Dicionário de Camilo Castelo Branco”, (1989).
https://ruascomhistoria.wordpress.com/2015/11/24/alexandre-cabral-um-escritor-na-toponimia-de-massama-atraves-de-uma-proposta-minha-dirigida-a-junta-de-freguesia-para-uma-arteria-da-entao-unidade-residencial-de-tercena-10/


Cabral, Alexandre excerto-da-censura .png

O Sol Nascerá um Dia, Alexandre Cabral

  • Excerto 1
Foi num dia de Natal. O Pai Noel, apesar do burgo ser pobríssimo, apareceu também por ali com o saco recheado. Ao Paulo, deixou-lhe uma meningite que o rapou em três dias. A mãe abria casas em coletes. Ganhava vinte e cinco tostões em cada peça. Tivera-o de um hóspede que abalara antes mesmo do parto. Ao filho da peixeira, o aleijadinho, dera-lhe pelas mãos paternas uma sova que o ia matando. À Maria, que estava grávida outra vez, Papá Noel trouxera-lhe a nova de que o homem fora despedido da Companhia por roubar uns canos de chumbo.Foi um autêntico bodo.
  • Excerto 2
- Bandido! A lei tem de ser inexorável. Mas porquê? Porque somos vadios! E porque é que somos vadios?… Além disso, lembra-te que a tua vida tem, a este respeito, muitos pontos de contacto com a minha – mas a verdade é que jamais conhecemos o benefício da lei ou daquilo que a representa, quando somos ou quando fomos bons. A lei ou essa coisa que vocês inventaram para nos trazer de rédea curta e para o vosso sossego lembra-se que existimos, precisamente no momento em que se lembra que pecamos.
  • Excerto 3
“Desempregado!”
Que antagonismo entre estes dois aspectos da vida de um indivíduo: empregado – desempregado.
O empregado recebe ao fim do mês o ordenado, magro embora. Em contra-partida vê no prato da balança os dias preenchidos por essa obrigação. Levanta-se da cama, come apressadamente, mete ao caminho mais curto, pois vai já na hora do patrão. Pelo dia fora, se sai, leva os passos contados, do escritório ou da loja ao destino e volta.
E o desempregado?
Este, mãos nos bolsos, não tem assalariadas as pernas. Caminham ao acaso, em todos os sentidos, consoante o capricho do momento; não procuram as travessas que encurtam distâncias; metem-se, pelo contrário, às ruas longas que se afastam sempre do ponto de partida, no prazer de alargar a roda da caminhada, de tomar conta, o pobre diabo, de toda a cidade. Tem um dia inteiro ao seu dispor para essa conquista – um dia, um mês, um ano, quase toda a vida. O desempregado goza a liberdade, aspira a pulmões cheios o ar das manhãs, disfruta as sombras das tardinhas. Passa fome e não ganha salário.