Afonso, José - Obras Proibidas
- José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos (Zeca Afonso)
"Cantares"
- Cantar Alentejano
Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer
Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou
Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou
Aquela pomba tão branca
Todos a querem p'ra si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti
Aquela andorinha negra
Bate as asas p'ra voar
Ó Alentejo esquecido
Inda um dia hás-de cantar
- “Os Bravos”
Eu fui à terra do bravo
Bravo meu bem
Para ver se embravecia
Cada vez fiquei mais manso
Bravo meu bem
Para a tua companhia
Eu fui à terra do bravo
Bravo meu bem
Com o meu vestido vermelho
O que eu vi de lá mais bravo
Bravo meu bem
Foi um mansinho coelho
As ondas do mar são brancas
Bravo meu bem
E no meio amarelas
Coitadinho de quem nasce
Bravo meu bem
P'ra morrer no meio delas
Cantares, José Afonso
- "Cantar de Novo"pág. 23-24-25
Reboleira dez 70
“A Morte Saiu à Rua”
A morte
Saiu à rua
Num dia assim
Naquele
Lugar seu nome
P’ra qualquer fim.
Uma
Gota rubra so-
bre a calçada
Cai
E um rio
De sangue
Dum
Peito aberto
Sai
O vento
Que dá nas canas
Do caniçal
E a foice
Duma ceifeira
De Portugal
E o som
Da bigorna
Como
Um clarim do céu
Vão di-
zendo em toda a parte
O pintor morreu
Teu sangue,
Pintor, reclama
Outra morte
Igual
Só olho
Por olho e
Dente por dente
Vale
À lei assassina
À morte
Que te matou
Teu corpo
Pertence à terra
Que te abraçou
Aqui
Te afirmamos
Dente por dente
Assim
Que um dia
Rirá melhor
Quem rirá por fim
Na curva
Da estrada
Há covas feitas
No chão
E em todas
Florirão rosas
Duma nação
“Canção de Embalar”
Dorme meu menino a estrela d'alva
Já a procurei e não a vi
Se ela não vier de madrugada
Outra que eu souber será pra ti
Outra que eu souber na noite escura
Sobre o teu sorriso de encantar
Ouvirás cantando nas alturas
Trovas e cantigas de embalar
Trovas e cantigas muito belas
Afina a garganta meu cantor
Quando a luz se apaga nas janelas
Perde a estrela d'alva o seu fulgor
Perde a estrela d'alva pequenina
Se outra não vier para a render
Dorme quinda à noite é uma menina
Deixa-a vir também adormecer
Cantar de Novo, José Afonso
“Natal dos Mendigos”
Vamos cantar as janeiras
Vamos cantar as janeiras
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas solteiras
Vamos cantar orvalhadas
Vamos cantar orvalhadas
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas casadas
Vira o vento e muda a sorte
Vira o vento e muda a sorte
Por aqueles olivais perdidos
Foi-se embora o vento norte
Muita neve cai na serra
Muita neve cai na serra
Só se lembra dos caminhos velhos
Quem tem saudades da terra
Quem tem a candeia acesa Quem tem a candeia acesa Rabanadas pão e vinho novo Matava a fome à pobreza
Já nos cansa esta lonjura Já nos cansa esta lonjura Só se lembra dos caminhos velhos Quem anda à noite à ventura
Cantar de Novo, José Afonso
“Canto Jovem”
Somos filhos da madrugada Pelas praias do mar nos vamos À procura de quem nos traga Verde oliva de flor nos ramos Navegámos de vaga em vaga Não soubemos de dor nem mágoa Pelas praias do mar nos vamos À procura da manhã clara
Lá do cima duma montanha Acendemos uma fogueira Para não se apagar a chama Que dá vida na noite inteira Mensageira pomba chamada Companheira da madrugada Quando a noite vier que venha Cá do cima duma montanha
Onde o vento cortou amarras Largaremos pela noite fora Onde há sempre uma boa estrela Noite e dia ao romper da aurora Vira a proa minha galera Que a vitória já não espera Fresca brisa moira encantada Vira a proa da minha barca
Cantar de Novo, José Afonso
“Vampiros” No céu cinzento Sob o astro mudo Batendo as asas Pela noite calada Vêm em bandos Com pés de veludo Chupar o sangue Fresco da manada
Se alguém se engana Com seu ar sisudo E lhes franqueia As portas à chegada Eles comem tudo, Eles comem tudo Eles comem tudo E não deixam nada
A toda a parte Chegam os vampiros Poisam nos prédios Poisam nas calçadas Trazem no ventre Despojos antigos Mas nada os prende Às vidas acabadas
São os mordomos Do universo todo Senhores à força Mandadores sem lei Enchem as tulhas Bebem vinho novo Dançam a ronda No pinhal do rei
Eles comem tudo Eles comem tudo Eles comem tudo E não deixam nada
No chão do medo Tombam os vencidos Ouvem-se os gritos Na noite abafada Jazem nos fossos Vítimas de um credo E não se esgota O sangue da manada
Se alguém se engana Com seu ar sisudo E lhes franqueia As portas à chegada Eles comem tudo Eles comem tudo Eles comem tudo E não deixam nada Eles comem tudo Eles comem tudo Eles comem tudo E não deixam nada
Cantar de Novo, José Afonso
“Ó Vila de Olhão”
Ó vila de Olhão Da Restauração Madrinha do povo Madrasta é que não
Com papas e bolos Engana o burlão Os que de lá são E os que pra lá vão
Ó flor da trapeira Ó rosa em botão Tuas cantoneiras Bem bonitas são
Larga ó pescador O que tens na mão Que o peixe que levas É do teu patrão
Limpa o teu suor No camisolão Que o peixe que levas É do cais de Olhão
Vem o mandarim Vem o capitão Paga o pagador Não paga o ladrão
Ó vila de Olhão
Da Restauração
Madrinha do povo
Madrasta é que não
Quem te pôs assim Mar feito num cão Foi o tubarão Foi o tubarão Foi o tubarão
Mulher empregada Diz o povo vão Que aquela empreitada Não dá nada não
Ó vila de Olhão Da Restauração Madrinha do povo Madrasta é que não Madrasta é que não
Cantar de Novo, José Afonso
“Traz outro amigo também”Te afirmamos
Dente por dente
Assim
Que um dia
Rirá melhor
Quem rirá por fim
Na curva
Da estrada
Há covas feitas
No chão
E em todas
Florirão rosas
Duma nação
“Canção de Embalar”
Dorme meu menino a estrela d'alva
Já a procurei e não a vi
Se ela não vier de madrugada
Outra que eu souber será pra ti
Outra que eu souber na noite escura
Sobre o teu sorriso de encantar
Ouvirás cantando nas alturas
Trovas e cantigas de embalar
Trovas e cantigas muito belas
Afina a garganta meu cantor
Quando a luz se apaga nas janelas
Perde a estrela d'alva o seu fulgor
Perde a estrela d'alva pequenina
Se outra não vier para a render
Dorme quinda à noite é uma menina
Deixa-a vir também adormecer
Cantar de Novo, José Afonso
“Natal dos Mendigos” Vamos cantar as janeiras Vamos cantar as janeiras Por esses quintais adentro vamos Às raparigas solteiras
Vamos cantar orvalhadas Vamos cantar orvalhadas Por esses quintais adentro vamos Às raparigas casadas
Vira o vento e muda a sorte Vira o vento e muda a sorte Por aqueles olivais perdidos Foi-se embora o vento norte
Muita neve cai na serra Muita neve cai na serra Só se lembra dos caminhos velhos Quem tem saudades da terra
Quem tem a candeia acesa Quem tem a candeia acesa Rabanadas pão e vinho novo Matava a fome à pobreza
Já nos cansa esta lonjura Já nos cansa esta lonjura Só se lembra dos caminhos velhos Quem anda à noite à ventura
Cantar de Novo, José Afonso
“Canto Jovem”
Somos filhos da madrugada Pelas praias do mar nos vamos À procura de quem nos traga Verde oliva de flor nos ramos Navegámos de vaga em vaga Não soubemos de dor nem mágoa Pelas praias do mar nos vamos À procura da manhã clara
Lá do cima duma montanha Acendemos uma fogueira Para não se apagar a chama Que dá vida na noite inteira Mensageira pomba chamada Companheira da madrugada Quando a noite vier que venha Cá do cima duma montanha
Onde o vento cortou amarras Largaremos pela noite fora Onde há sempre uma boa estrela Noite e dia ao romper da aurora Vira a proa minha galera Que a vitória já não espera Fresca brisa moira encantada Vira a proa da minha barca
Cantar de Novo, José Afonso
“Vampiros” No céu cinzento Sob o astro mudo Batendo as asas Pela noite calada Vêm em bandos Com pés de veludo Chupar o sangue Fresco da manada
Se alguém se engana Com seu ar sisudo E lhes franqueia As portas à chegada Eles comem tudo, Eles comem tudo Eles comem tudo E não deixam nada
A toda a parte Chegam os vampiros Poisam nos prédios Poisam nas calçadas Trazem no ventre Despojos antigos Mas nada os prende Às vidas acabadas
São os mordomos Do universo todo Senhores à força Mandadores sem lei Enchem as tulhas Bebem vinho novo Dançam a ronda No pinhal do rei
Eles comem tudo Eles comem tudo Eles comem tudo E não deixam nada
No chão do medo Tombam os vencidos Ouvem-se os gritos Na noite abafada Jazem nos fossos Vítimas de um credo E não se esgota O sangue da manada
Se alguém se engana Com seu ar sisudo E lhes franqueia As portas à chegada Eles comem tudo Eles comem tudo Eles comem tudo E não deixam nada Eles comem tudo Eles comem tudo Eles comem tudo E não deixam nada
Cantar de Novo, José Afonso
“Ó Vila de Olhão”
Ó vila de Olhão Da Restauração Madrinha do povo Madrasta é que não
Com papas e bolos Engana o burlão Os que de lá são E os que pra lá vão
Ó flor da trapeira Ó rosa em botão Tuas cantoneiras Bem bonitas são
Larga ó pescador O que tens na mão Que o peixe que levas É do teu patrão
Limpa o teu suor No camisolão Que o peixe que levas É do cais de Olhão
Vem o mandarim Vem o capitão Paga o pagador Não paga o ladrão
Ó vila de Olhão
Da Restauração
Madrinha do povo
Madrasta é que não
Quem te pôs assim Mar feito num cão Foi o tubarão Foi o tubarão Foi o tubarão
Mulher empregada Diz o povo vão Que aquela empreitada Não dá nada não
Ó vila de Olhão Da Restauração Madrinha do povo Madrasta é que não Madrasta é que não
Cantar de Novo, José Afonso
“Traz outro amigo também”
Amigo Maior que o pensamento Por essa estrada amigo vem Não percas tempo que o vento É meu amigo também
Em terras Em todas as fronteiras Seja benvindo quem vier por bem Se alguém houver que não queira Trá-lo contigo também
Aqueles Aqueles que ficaram (Em toda a parte Todo o mundo tem) Em sonhos me visitaram Traz outro amigo também
Cantar de Novo, José Afonso
“Grândola, Vila Morena”
Grândola vila morena Terra da fraternidade O povo é quem mais ordena Dentro de ti, ó cidade
Em cada esquina, um amigo Em cada rosto, igualdade Grândola vila morena Terra da fraternidade
À sombra duma azinheira Que já não sabia a idade Jurei ter por companheira Grândola, a tua vontade
Cantar de Novo, José Afonso
“Vejam Bem”
Vejam bem Que não há Só gaivotas Em terra Quando um homem Se põe A pensar
Quem lá vem Dorme à noite Ao relento Na areia Dorme à noite Ao relento Do mar
E se houver Uma praça De gente Madura E uma estátua De febre A arder
Anda alguém Pela noite De breu À procura E não há Quem lhe queira Valer
Vejam bem Daquele homem A fraca Figura Desbravando Os caminhos Do pão
E se houver Uma praça De gente Madura Ninguém vem Levantá-lo Do chão
Vejam bem Que não há Só gaivotas Em terra Quando um homem Se põe A pensar
Amigo Maior que o pensamento Por essa estrada amigo vem Não percas tempo que o vento É meu amigo também
Em terras Em todas as fronteiras Seja benvindo quem vier por bem Se alguém houver que não queira Trá-lo contigo também
Aqueles Aqueles que ficaram (Em toda a parte Todo o mundo tem) Em sonhos me visitaram Traz outro amigo também
Cantar de Novo, José Afonso
“Grândola, Vila Morena”
Grândola vila morena Terra da fraternidade O povo é quem mais ordena Dentro de ti, ó cidade
Em cada esquina, um amigo Em cada rosto, igualdade Grândola vila morena Terra da fraternidade
À sombra duma azinheira Que já não sabia a idade Jurei ter por companheira Grândola, a tua vontade
Cantar de Novo, José Afonso
“Vejam Bem”
Vejam bem Que não há Só gaivotas Em terra Quando um homem Se põe A pensar
Quem lá vem Dorme à noite Ao relento Na areia Dorme à noite Ao relento Do mar
E se houver Uma praça De gente Madura E uma estátua De febre A arder
Anda alguém Pela noite De breu À procura E não há Quem lhe queira Valer
Vejam bem Daquele homem A fraca Figura Desbravando Os caminhos Do pão
E se houver Uma praça De gente Madura Ninguém vem Levantá-lo Do chão
Vejam bem Que não há Só gaivotas Em terra Quando um homem Se põe A pensar
Cantar de Novo, José Afonso
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