Correia, Natália - Livros Proibidos

From Wikipédia de Autores Algarvios
Revision as of 12:56, 26 January 2024 by Admin (talk | contribs)

Jump to: navigation, search
  • Comunicação
  • A Feiticeira Cotovia

Cantei uma ária para te dar um teto
Bodas naturais de flor e de insecto
Que pousa na flor e fica casado

Passou um amante no voo directo
Dum corpo para a sua constelação
Com pena de ti roubei-lhe o trajecto
E pus-te uma pomba invisível na mão

Mas pela espiral da antiga insónia
Girou a voluta do crime secreto
De seres cortesã numa Babilónia
Que fechas à chave para ficar mais perto

E pelos abismos do teu ventre orgíaco
Errou o remorso da raça cobarde
Que nos abortou no círio elegíaco
Da nossa perdida Sodoma que arde



Inquisidor

São seios como venenos
São pernas com meias pretas
São os postais obscenos
Que fechamos nas gavetas

São as vigílias eróticas
Com que o demo nos assalta
São solteironas neuróticas
E o amante que lhes falta

São os truques insolentes
Dum prestidigitador…

Comunicação


  • A Feiticeira Cotovia


Ser navegador… Ser navegador
Não é termos sido é sermos ainda
É irmos a Vénus ou seja onde for
Espetar os cornos onde o espaço finda

É haver Camões como uma recolta
É haver Gil Vicente como um desafio
A esse Encoberto que nunca mais volta
Porque é o pretexto do nosso vazio

É Vasco da Gama mas sem biografia
Que sem biografia a lenda é o impulso
Da raça que cumpre a mitologia
De qualquer viagem que lhe forme o pulso

É ignorar que houve Aljubarrota
Porque Aljubarrota é ignorar
Perder a memória como uma gaivota
Ideia dum barco escrita no ar

É a liberdade como uma coroa
Florindo a inocência que na nossa fonte
Sendo como os bichos quer amar à toa
Sendo como os astros quer brilhar na fronte

Comunicação