Carlos, Papiano - Livros Proibidos
Leitura – Estrada Nova, Papiniano Carlos
Libertação
A liberdade ficava para lá do arame farpado e do meu corpo fétido, podre, roído de chagas, cheio de pús, com olhos cegos de tanta escuridão!
As sentinelas cinzentas espiavam.
Mas que importavam as sentinelas?
Mal me cabia na boca roxa a língua cortada, grossa, sarrosa, quando por ela anunciei que era LIVRE, e o meu grito espantoso pôs um arrepio na nuca de todos os tiranos.
Pasmaram as sentinelas e o meu cadáver tombou na terra. Estrada Nova, Papiniano Carlos
Abertura
Eu venho para cantar a epopeia dos homens sofredores, a glória dos músculos na batalha dolorosa, o canto dos malhos esmagando as bigornas, o esforço do semeador possuindo a terra, eu venho para anunciar os grandes dias redentores.
Por isso eu trago nos lábios a palavra fraterna e a esperança iluminada, eu canto as dores e a sua redenção próxima. A glória do homem em todo o seu esplendor a cantarão um dia os poetas novíssimos que virão depois de mim.
Eu anuncio a madrugada evidente e os dias necessários que tudo solverão como é justo. E os meus versos são a esperança mesma dos homens e o meu olhar a madrugada pressentida a guiá-los. Estrada Nova, Papiniano Carlos