Afonso, José - Obras Proibidas
- José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos (Zeca Afonso)
Antifascista, foi expulso de professor do ensino público e perseguido pela PIDE.
A sua canção "Grândola Vila Morena" foi uma das senhas usadas pelos militares revoltosos (Capitães de Abril) para dar início à Revolução de Abril (ou Revolução dos Cravos - 25/4/1974), que repôs a democracia em Portugal.
Na década de 60, viveu no Algarve, onde no seu grupo de amigos, figuravam autores como António Ramos Rosa, Luiza Neto Jorge ou Fiama Hasse Pais Brandão, que procuravam o mesmo caminho que Zeca: o de uma contestação que conseguisse vencer o poder político pelo poder da palavra.
Em 1963 terminou o curso de Filosofia com uma tese sobre Jean-Paul Sartre. No plano pessoal, conhece a algarvia Zélia Afonso, com quem casaria.
Este terá sido o seu período mais fértil em baladas de intervencão que o caracterizaram enquanto cantautor,sendo "Os Vampiros” e “Menino do Bairro Negro” os primeiros grandes temas de contestação política e social.
Entretanto, em 1964 lança os livros “Cantares" (1964) e “Baladas e Canções” que foram vítimas da censura. Nestes livros, figuram temas como “Canção Longe”, “Canto da Primavera” ou “Ó Vila de Olhão”, “Minha Mãe” e “Os Bravos”.
Zeca Afonso emigraria com Zélia para Moçambique,onde, procurando opor-se ao colonialismo. “Menina dos Olhos Tristes” é uma composição que reflete este descontentamento, pugnando sempre pela livre determinação das então colónias portuguesas.
- Cantar Alentejano
Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer
Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou
Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou
Aquela pomba tão branca
Todos a querem p'ra si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti
Aquela andorinha negra
Bate as asas p'ra voar
Ó Alentejo esquecido
Inda um dia hás-de cantar
Leitura – Cantares, José Afonso
“Os Bravos”
Eu fui à terra do bravo
Bravo meu bem
Para ver se embravecia
Cada vez fiquei mais manso
Bravo meu bem
Para a tua companhia
Eu fui à terra do bravo
Bravo meu bem
Com o meu vestido vermelho
O que eu vi de lá mais bravo
Bravo meu bem
Foi um mansinho coelho
As ondas do mar são brancas
Bravo meu bem
E no meio amarelas
Coitadinho de quem nasce
Bravo meu bem
P'ra morrer no meio delas
Cantares, José Afonso
Leitura - Cantar de Novo, José Afonso
“A Morte Saiu à Rua”
A morte
Saiu à rua
Num dia assim
Naquele
Lugar seu nome
P’ra qualquer fim.
Uma
Gota rubra so-
bre a calçada
Cai
E um rio
De sangue
Dum
Peito aberto
Sai
O vento
Que dá nas canas
Do caniçal
E a foice
Duma ceifeira
De Portugal
E o som
Da bigorna
Como
Um clarim do céu
Vão di-
zendo em toda a parte
O pintor morreu
Teu sangue,
Pintor, reclama
Outra morte
Igual
Só olho
Por olho e
Dente por dente
Vale
À lei assassina
À morte
Que te matou
Teu corpo
Pertence à terra
Que te abraçou
Aqui
Te afirmamos
Dente por dente
Assim
Que um dia
Rirá melhor
Quem rirá por fim
Na curva
Da estrada
Há covas feitas
No chão
E em todas
Florirão rosas
Duma nação
Cantar de Novo, José Afonso