Tóssan e o Professor Magalhães

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António Fernando dos Santos, mais conhecido por Tóssan
Vila Real de Santo António, 1918 - Lisboa, 1991.

Pintor. Ilustrador. Caricaturista. Cenógrafo. Decorador. Gráfico. Poeta.  

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  • Adeus, Tossan


Eu sabia, todos os seus sabiam que a sua resistência de vida ia sendo vencida. E foi. No dia 11 deste cálido mês de Agosto [1991]. Em Lisboa. No Hospital de Santa Maria. Do que sentimos, todos os que o conhecíamos, estimávamos e admirávamos, não vale falar. As palavras tornam-se inúteis para exprimir desgostos. Não abusemos delas.
E agora que você partiu, o nosso adeus não pode ser só uma maneira bonita de despedida. Tem que ser mais. Tem que ser uma comunicação à gente da sua terra, da nossa terra. Comunicação de uma proposta de lembrança da sua qualidade maior, das suas capacidades artísticas. E que os seus patrícios, Tossan, não o conheciam. Ouviam falar de um humorista que aparecia, de longe a longe de muito longe a longe na televisão. De um humorista que brincava, no convívio com os que os estimavam, com ditos, jeitos, gestos, desenhos que deliciavam...
Mas quem sabe que os seus desenhos para os livros para crianças do Leonel Neves, outro algarvio, que o Algarve ignora, são uma maravilha? Quem sabe que esses desenhos, de linhas de uma sobriedade ímpar, representam humanos sentimentos nas figuras de animais. Os seus cavalos, os seus cães, os seus elefantes, as suas aves são como pessoas vivas a rirem-se connosco, a chorarem, a falarem com os leitores, os espectadores dos seus bonecos.
Não, ninguém sabe, ou repara nisso. Um ou outro lembra-se de si, aqui eu, Faro, quando você era estudante no Liceu. Outros sabem que participou no TEUC. Outros, muitos, ficaram com os retratos - sim - retratos, desenhados por si nos livros de final de curso.
As caricaturas - retratos de Tossan nesses, livros de lembranças que grande exposição que davam!
Pouca gente sabe que não aceitou o convite da Amélia Rey Colaço. Horários pesados, com horas marcadas, a cumprir, coisas difíceis, para não dizer, impossíveis, para pessoas como o Tossan.
Já é mais sabido quanto o seu patrício António Aleixo, seu companheiro no Sanatório de Coimbra, lhe ficou a dever. O estímulo que lhe deu no convívio com ele.
Por mim tive a sorte de publicar versos dele. A você ficou a sorte de o ter levado a ditar-lhe o "Auto do Curandeiro". O Dr. Armando Gonçalves foi outro dos que o ajudaram. Claro que normalmente fica na sombra a Manuela, sua mulher, candidata a santa, por o ter aturado a si, que foi um homem muito difícil fora do convívio à vista; a Manuela, sua mulher que também ajudou o Aleixo, apoiando-o a si, o mais que pôde; a Manuela que era (e é) sobrinha do Dr. Armando; e por isso tinha acesso ao Sanatório de que o tio era responsável...
P.S. Aqui interrompi a carta. E o tempo passou. Meses e meses. Agora, que sua mulher já lhe foi fazer companhia e que vou ter oportunidade de um correio azul para lhe levar estas notícias, receba-as com uma piada das suas, pelo atraso.

Magalhães


  • Tal e coisa...

Quando ela me apareceu
vinha tal qual
como prometeu
E na intimidade
da solidão
ficamos enraizados
a trocarmos amor
E tal e coisa...
E coisa e tal...
Mais prá esquerda
mais prá direita
e continuamos
entre as fendas do silêncio
e porque tira e porque deixa
e tal e coisa e coisa e tal
ela já não dizia coisa com coisa
e eu tal e qual tal e coisa
tal como ela e eu tal qual

Ouvir-.png - 2021 -Clique aqui para ouvir este poema pela voz de Ilda Silva.

  • Amor descalço

(Dedicado à Manuela)

Ela ia minada de beleza
E eu, pé-ante-pé, seguia-a
como um íman preso
à memória que fica.
No entanto,
a indecisão se foi evaporando
até acender o meu espanto.
E para não me ouvir os passos
descalcei-me
E, descalço, ia no encantado encalço
do seu encanto.
De repente ela parou.
Fiquei mudo de atitudes!!!
E antes que eu falasse,
disse-me: Cale-se!
E eu calcei-me...

Ouvir-.png - 2021 -Clique aqui para ouvir este poema pela voz de Ilda Silva.

  • A Velha da Gata e a Gata da Velha

Uma velha tinha um gato
e o gato tinha uma velha
mas o gato que a velha tinha
tinha a tinha que tinha a velha.

E não era gato, era gata.

A velha da gata
de velha que era,
sofria da telha ou da pinha
e a gata da velha, de tão velha,
já era velhinha.

A velha, de velha, já andava de gatas
e a gata já andava de velhas.
Quando a velha andava de gatas
parecia a gata da velha,
e como a velha dobrava a espinha
a gata queria comer a espinha da velha.

Tudo pela gata ter tinha
e a velha sofrer da pinha.

Quando a gata chorava,
a velha miava.
Ficava sem se saber
qual era a gata ou qual era a velha
que debaixo da cama vinha,
em cima da cama estava,
debaixo da cama dormia,
e por cima ressonava.

A velha tinha fôlego de gata!
E junto à cabeceira
a gaita de foles estava.
Quando a velha gaiteia
tocava na velha gaita,
chorava a gata da velha
por causa dos foles da gaita.

A velha que tinha gôta
caiu no goto da gata
morrendo a gata de gôta,
ficando a velha gótica
sem gôta e sem gata.

Mas como ainda tinha tinha
e sobria da velha telha,
juntou-se a tinha na pinha
e morreu careca a velha

in https://arquivo.pt/wayback/20190830113103/http://beebgondomar.blogspot.com/2013/11/tossan.html

  • Notas Biográficas

Tóssan estudou em Faro no Liceu e na Escola Industrial (atual Escola Secundária Tomás Cabreira). Personalidade multifacetada espalhou a sua criatividade e arte por diversas áreas, desde a pintura passando pela caricatura até à poesia. Poderemos dizer que era um verdadeiro "renascentista". É de Tóssan o mais célebre retrato de Aleixo, de 1943, que Manuel Viegas Guerreiro popularizou junto dos estudantes dos liceus. Integrou o Teatro Lethes, dirigido pelo pai do pintor Carlos Porfírio, onde, pintou vários cenários. Pertenceu, também, desde 1947, ao Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC), onde foi cenógrafo e caracterizador.A sua primeira obra como ilustrador foi a capa do livro «O Teatro dos Estudantes de Coimbra no Brasil». Entre 1961 e 1964, orientou os trabalhos gráficos da Embaixada do Brasil em Lisboa, cuja Biblioteca Sala Brasil decorou. Na imprensa, foi um dos criadores do suplemento juvenil do Diário de Lisboa e colaborador do jornal humorístico O Bisnau. Foi o autor do cartão da tapeçaria do salão nobre da Procuradoria-Geral da República, em Lisboa. É de sua autoria o logótipo da Universidade do Algarve. O actor Mário Viegas, amigo de Tóssan, reuniu num documento, em 1992, poemas e textos de prosa inéditos para um espectáculo intitulado Tótó, que representou a solo, nesse ano.
in: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Fernando_dos_Santos


  • Bibliografia

-"Tóssan:Lógica zoológica, frutos e desfrutos, animalia, contos e descontos"
-"Tossan:Versos côncavo e com versos"
-"O homem que só queria ser Tóssan"
LivrosTossan.jpg

  • Veja mais sobre Tóssan nos seguintes links:

- 2018 - Artigo do jornal Barlavento onde Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé, na companhia de Jorge Silva, investigador da vida e obra de Tóssan, do editor João Paulo Cotrim, de familiares e amigos de Tóssan e de muitos interessados na obras deste singular artista algarvio, lançou ontem ao final da tarde o catálogo da exposição «o homem que só queria ser tóssan» e dois livros de poemas e contos de Tóssan.
- 2018 - Notícia do "Sul Informação" sobre o Festival Literário Internacional de Querença onde Tóssan foi um dos artistas em destaque.
- 2018 - Onde se pode ler o texto de Jorge Silva, Comissário da exposição Tóssan — A vida é engraçada mas eu levo-a sério
- 2018 - Artigo sobre a compilação da obra de Tóssan com reprodução de muitos dos seus desenhos
- 2018 - Texto do Público sobre Tóssan e a sua obra
- 2019 - Notícia da Autarquia de Loulé no lançamento de dois livros inéditos de Tóssan nos Claustros do Convento Espírito Santo, em Loulé Lógica Zoológica fritos e desfrutos, animália, contos e descontos e Tóssan versos côncavos e conversos, selecionados a partir do espólio literário de centenas de papéis, rabiscados ou passados à máquina quase todos inéditos, e o Catálogo da Exposição “O Homem que só queria ser Tóssan
- 2021 - Artigo de opinião de Guilherme d’Oliveira Martins onde recorda o autor :"Conheci Tóssan, António Fernando dos Santos, em Albufeira nos anos 1960 e sempre me deleitei com o traço fino e irónico dos seus desenhos e a personalidade das suas personagens."

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Veja mais sobre Tossan no Arquivo.pt
in https://arquivo.pt:

- 2005 - Texto de Luis Guerreiro sobre Tóssan
- 2016 -Encãotros e reencãotros Um divertido livro caído em esquecimento regressa às livrarias graças à editora Bruaá: Cão Pêndio, de Tóssan, é um pequeno tesouro felizmente saído do baú
- 2018 -Tóssan, o Magnífico Reitor Página sobre Tossan muito completa.
- 2004 - Recordação pessoal do Tóssan da autora do Blog Efémero.

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