Costa, Orlando da - Livros Proibidos
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Orlando da Costaescritor goês tagoreano, que nasceu em Moçambique, embora morasse em criança e jovem em Goa e mais tarde viesse para Portugal, o pai do primeiro-ministro português António Costa, e do jornalista Ricardo Costa.
Iniciou a sua carreira literária com a publicação de obras de poesia situadas no contexto de uma segunda geração neorrealista, A Estrada e a Voz (1951), Os Olhos sem Fronteira (1953) e Sete Odes do Canto Comum (1955), todos editados pela coleção “Cancioneiro Geral” e proibida a sua difusão pela PIDE. Nessas coletâneas, dá continuidade a uma poesia empenhada, de exortação fraterna e de esperança, evocando os “homens que a estrada juntou” e “que a estrada batizou” (Batismo), caminhando para um “horizonte (que) será de espigas” (“Vertente”). Afirmou-se, na década seguinte, no domínio da ficção com O Signo da Ira (1961) e Podem Chamar-me Eurídice (1964), romances de intenção social que seriam proibidos pela censura, sendo, ao primeiro romance, só levantada a sua proibição após ter recebido o Prémio Ricardo Malheiros, em 1962. As mesmas dificuldades seriam levantadas a Podem Chamar-me Eurídice, apenas amplamente difundido em 1974.
Foi preso três vezes pela Pide. Da última vez, permaneceu no cárcere em Caxias por cinco meses e uma semana, acusado de militar em defesa da paz”
Os seus livros de poesia, como A Estrada e a Voz, Os Olhos sem Fronteira e Sete Odes do Canto Comum circularam amiúde entre os amigos e os intelectuais, mas O Signo da Ira, totalmente passado em Goa (Prémio Ricardo Malheiros, Academia das Ciências de Lisboa, 1961), vendeu dez mil exemplares, apesar de a PIDE o ter proibido de circular. A mulher, em seus anseios, fragilidades e força, esteve sempre no centro da sua prosa, como em Podem Chamar-me Eurídice (outro dos seus livros que foram proibidos pela polícia política portuguesa) ou em Os Netos de Norton, livro que lhe valeu o Prémio Eça de Queiroz, da Câmara Municipal de Lisboa. Orlando converteu-se no sétimo autor português com mais livros proibidos pela censura do Estado Novo (cinco no total).
Sete Odes do Canto Comum, Orlando da Costa
Ode Quarta
Em cada instante de vida
Cabe a pátria do nosso amor
Cabe o rosto das papoilas na fome das raízes
O vento que ronda as margens mais sombrias
Que ronda e não chora nos teus olhos
O rosto das companheiras
Como se regressasses de uma noite indefesa
A serena esperança das manhãs
Eu bebo o vento despido nos teus olhos
E nele o sol bravio dos vinhedos
Bebo o vento despido nos teus olhos
Desgrenhado e rumoroso o vento das noites decepadas
Ao dorso magoado dos dias
Como se regressasse de uma noite indefesa
E no teu rosto amanhecesse de repente
A alegria dos homens e dos bichos
Eu bebo nos teus lábios as palavras
E nelas a firmeza da terra renovada
Bebo o vento despido nos teus olhos
E neles a sede que transforma os rios
Em cada instante de vida
Cabe a pátria do nosso amor
Cabe a linguagem dos homens
E o canto das aves que se encontram pressurosas
A linguagem dos homens nas máquinas de paz
Onde no esforço das madrugadas
Renascem as vozes do canto comum
Em cada instante de vida
Cabe a pátria do nosso amor