Neves, Leonel
Leonel Carlos Duarte Neves
Faro/20/061921 - Lagos/06/09/1996.
Escritor. Meteorologista.
- Canção da Fóia
No alto da serra
de Monchique não
há meta nem rota.
Acaba-se a Terra...
(A Terra é um pião
e a Fóia a carota.)
De longe é azul,
e ali terra seca,
deserta e parada.
A norte e a sul,
jardim e charneca
são terra, mais nada.
Serra de Monchique,
a mais linda que há
e mais fontes deu
- a quem suba e fique
na Fóia, dará
só pedras e céu.
Lá dormem as nuvens,
lá moram os ventos
e poisam estrelas;
lá, noite, tu vens
sem mãos nem unguentos,
sem frutos nem velas.
Mas de dia, quando
o sol traz com ele
os longes que viu,
o mar é tão grande
do alto daquele
mirante algarvio,
que lá vê a gente
a nau dos milagres
que é todo o Algarve e a
proa em São Vicente
e a bússola em Sagres...
(A Fóia é a gávea.)
in "Natural do Algarve"
- Notas biográficas
Nasceu em 20 de Junho de 1921, na cidade de Faro, filho de Carlos José Neves, e de Adriana da Conceição Duarte Neves.
Estudou em Faro até ao 6º ano do Liceu. A partir de 1937 passou a viver em Lisboa. Após terminar o ensino liceal, tentou entrar na Escola Naval, mas não foi admitido por falta de peso; obteve a licenciatura em Ciências Matemáticas na Universidade de Lisboa. Durante este período, juntamente com Mário de Azevedo, Joel Serrão, Rui Grássio, pertence à redacção do jornal Horizonte, da Universidade de Lisboa.
Pertenceu ao primeiro curso de meteorologistas portugueses, e ingressou no Serviço Meteorológico Nacional no seu início, em 1946. Depois de ingressar no Serviço Meteorológico Nacional, casa com Maria de Lourdes e, com os dois filhos, Ana Maria e João, parte para Santa Maria, nos Açores, onde ficou durante dois anos. Vai a Londres onde se especializa com o Prof. Dobson na medição do ozono e, de regresso aos Açores, realiza das primeiras medições ozonométricas quando o problema da camada de ozono ainda não era do conhecimento público.As suas actividades profissionais levam-no a Lourenço Marques (hoje, Maputo), Moçambique, onde exerce as funções de Inspector do Serviço Meteorológico, cargo que o leva a percorrer todo o território. O passo seguinte é Timor, em 1964, onde permanece dois anos e exerce as funções de Chefe do Serviço Meteorológico de Timor.
Durante a adolescência, começou a escrever para jornais e revistas no Algarve, tendo conseguido vários prémios nos Jogos Florais. O seu primeiro livro, Janela Aberta, foi bem recebido pela crítica, tendo sido elogiado por José Régio. Em 1986, A Universidade do Algarve fez uma 2ª edição prefaciada por David Mourão-Ferreira. Também escreveu letras para vários músicos, incluindo António Falé e António Mestre, tendo, com este último, elaborado várias canções e fados, que foram gravados por Amália Rodrigues e Luís Gois. Escreveu vários livros, especialmente para o público jovem, tendo trabalhado com António Fernando dos Santos (Tossan), que lhe ilustrou diversas obras. Participou, igualmente, na antologia De que são feitos os sonhos, e na obra coletiva Canções e histórias em Quatro Estações, com o conto Como é a primavera?. Foi sepultado no Cemitério do Alto de São João, em Lisboa.
A Câmara Municipal de Lagos deu, em 21 de Agosto de 2002, o seu nome numa rua da Freguesia de Santa Maria, no Concelho de Lagos.
Esta biografia foi adaptada dos vários blogues sobre o autor.
- Bibiografia
Janela aberta: poemas (1940)
Natural do Algarve 1ª edição (1968)
Natural do Algarve 2ª edição (1986), prefaciada por David Mourão-Ferreira, edição da Universidade do Algarve.
O elefante e a pulga: poemas para crianças (1976)
Amigos em todo o mundo: poemas para os jovens e o povo (1977)
Histórias de Zé Palão (1979)
Um cavalo da cor do arco-íris: romancinho (1980)
Bichos de trazer por casa: poemas para crianças (1981)
Uma dúzia de adivinhas (1981)
O soldadinho e a pomba (1981)
O mistério do quarto bem fechado (1985)
O cão, o gato e a árvore (1987)
Dois macaquinhos à solta (1987)
Ontem à noite (1989)
Memórias de Timor-Leste (1994)
Um Extraterrestre em Lisboa
Sete Contos de Espantar
Novas Histórias do José Palão
Adivinhas e contos para ler na cama
Pode saber mais sobre Leonel Neves nos seguintes links:
MINHA HOMENAGEM A LEONEL NEVES
(meu grande amigo... e primo)
CAL CÚBICA
Amigo, indefectível amigo,
amigo dos simples, das hortas, do milho
desabrochando deslumbramentos
a esvoaçar por cima de vales e serras
já cá andam as andorinhas
que tu desenhavas em palavras
sobrevoando os lugares
de teus olhos transparentes, azuis
olhando antigas casas onde ardiam
os folguedos da tua juventude
a voz serena da simplicidade das coisas chãs
na água fresca correndo no leito antiquíssimo
do rio das tuas memórias.
Já por cá andam as andorinhas
a desenhar as tuas palavras nos céus
a sobrevoar a cal cúbica das casas meridionais
da tua juventude
o milho verde das frescas hortas
as serras os montes e os vales
da mesma água antiquíssima do rio
por onde andaste
com a simplicidade dos teus olhos azuis
na frescura de folguedos juvenis
desabrochando deslumbramentos
que apenas ficaram… sabes
nos versos que escreveste.
Este poema já foi publicado no 1º volume de 5 POETAS DE LAGOS (Liliete Cardeira da Silva, Nídio Duarte, Cristiano Cerol, Pedro Magalhães e eu próprio), ed. do Grupo de Amigos De Lagos.
- blog sobre o autor Leonel Neves.
- 2021 -Exposição da Universidade do Algarve em homenagem a "Leonel Neves, Poeta 1921-2021"
- Blog onde se pode encontrar informação e poesias de >Leonel Neves.
- Poema Leonel Neves "O Gaio e o Papagaio"
- 1978 - Programa com o poeta Leonel Neves, que declama dois poemas de sua autoria.