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'''O Algarve''', embora não seja uma presença constante na obra de '''Luís de Camões''', surge em momentos chave de "Os Lusíadas", evocando tanto a história de conquistas militares quanto as paisagens marcantes da região. | '''O Algarve''', embora não seja uma presença constante na obra de '''Luís de Camões''', surge em momentos chave de "Os Lusíadas", evocando tanto a história de conquistas militares quanto as paisagens marcantes da região. | ||
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+ | Português de nação, como conquista | ||
+ | A terra dos Algarves, e já nela | ||
+ | Não acha que por armas lhe resista. | ||
+ | Com manha, esforço e com benigna estrela, | ||
+ | Vilas, castelos, toma à escala vista. | ||
+ | Vês Tavila tomada aos moradores, | ||
+ | Em vingança dos sete caçadores? | ||
Nas referências que o poeta faz '''ao Algarve''', encontramos um território de reconquista, de lutas heroicas e vitórias que ecoam pelo tempo. '''Silves, Tavira, o Sacro Promontório, e a Ribeira de Boina''' são apenas algumas das paisagens que ganham vida nas palavras de '''Camões''', unindo o mar, a história e a mitologia. Camões, ao narrar as façanhas de heróis como Vasco da Gama e os navegadores portugueses, faz do Algarve um ponto de partida não apenas para as aventuras dos descobrimentos, mas também para o nascimento de um império. | Nas referências que o poeta faz '''ao Algarve''', encontramos um território de reconquista, de lutas heroicas e vitórias que ecoam pelo tempo. '''Silves, Tavira, o Sacro Promontório, e a Ribeira de Boina''' são apenas algumas das paisagens que ganham vida nas palavras de '''Camões''', unindo o mar, a história e a mitologia. Camões, ao narrar as façanhas de heróis como Vasco da Gama e os navegadores portugueses, faz do Algarve um ponto de partida não apenas para as aventuras dos descobrimentos, mas também para o nascimento de um império. | ||
Revision as of 17:01, 28 January 2025
Camões e o Algarve: Ecos da História e da Poesia
O Algarve, embora não seja uma presença constante na obra de Luís de Camões, surge em momentos chave de "Os Lusíadas", evocando tanto a história de conquistas militares quanto as paisagens marcantes da região. ALGARVES: III.95.1; VIII.25.3. ALMADA (Antão Vasques
95 «Da terra dos Algarves, que lhe fora Em casamento dada, grande parte Recupera co braço, e deita fora O Mouro, mal querido já de Marte. Este de todo fez livre e senhora Lusitânia, com força e bélica arte, E acabou de oprimir a nação forte, Na terra que aos de Luso coube em sorte.
25 «Olha um Mestre que dece de Castela, Português de nação, como conquista A terra dos Algarves, e já nela Não acha que por armas lhe resista. Com manha, esforço e com benigna estrela, Vilas, castelos, toma à escala vista. Vês Tavila tomada aos moradores, Em vingança dos sete caçadores? Nas referências que o poeta faz ao Algarve, encontramos um território de reconquista, de lutas heroicas e vitórias que ecoam pelo tempo. Silves, Tavira, o Sacro Promontório, e a Ribeira de Boina são apenas algumas das paisagens que ganham vida nas palavras de Camões, unindo o mar, a história e a mitologia. Camões, ao narrar as façanhas de heróis como Vasco da Gama e os navegadores portugueses, faz do Algarve um ponto de partida não apenas para as aventuras dos descobrimentos, mas também para o nascimento de um império.
No Canto III, estrofe 86, Camões faz referência a Silves, cidade algarvia que, durante a Reconquista, foi tomada pelos cristãos com a ajuda de cruzados. Esta cidade, que outrora foi um importante bastião muçulmano, ganha destaque no poema como um símbolo das vitórias que moldaram o território português.
No Canto VIII, estrofe 25, o poeta menciona Tavira (Tavila), aludindo à sua conquista e à vingança dos "sete caçadores", reforçando o contexto de luta e recuperação das terras algarvias.
25 «Olha um Mestre que dece de Castela, Português de nação, como conquista A terra dos Algarves, e já nela Não acha que por armas lhe resista. Com manha, esforço e com benigna estrela, Vilas, castelos, toma à escala vista. Vês Tavila tomada aos moradores, Em vingança dos sete caçadores? canto8
TAVILA (Tavira): VIII.25.7. Já na estrofes 88 e 26 do Canto III, a cidade de Silves é novamente destacada, sublinhando a importância estratégica e histórica dessa cidade durante a luta contra os mouros.
86 «Despois que foi por Rei alevantado,
Havendo poucos anos que reinava,
A cidade de Silves tem cercado,
Cujos campos o Bárbaro lavrava.
Foi das valentes gentes ajudado
Da Germânica armada que passava,
De armas fortes e gente apercebida,
A recobrar Judeia já perdida.
88 «Mas a fermosa armada, que viera Por contraste de vento àquela parte, Sancho quis ajudar na guerra fera, Já que em serviço vai do santo Marte. Assi como a seu pai acontecera Quando tomou Lisboa, da mesma arte Do Germano ajudado, Silves toma E o bravo morador destrui e doma. Por fim, o Sacro Promontório (Cabo de São Vicente) aparece no Canto III, estrofe 74, ligando o Algarve à narrativa da presença de São Vicente, o santo padroeiro de Lisboa, cujos restos mortais foram trazidos para a cidade após a sua morte.
26 «Vês, com bélica astúcia ao Mouro ganha
Silves, que ele ganhou com força ingente:
É Dom Paio Correia, cuja manha
E grande esforço faz enveja à gente.
Mas não passes os três que em França e Espanha
Se fazem conhecer perpètuamente
Em desafios, justas e tornéus,
Nelas deixando públicos troféus.
Embora as referências ao Algarve em Camões sejam breves, elas sublinham a importância da região tanto na história de Portugal quanto na construção do imaginário nacional.
Camões e o Algarve: Ecos da História e da Poesia
O Algarve, embora não seja uma presença constante na obra de Luís de Camões, surge em momentos chave de "Os Lusíadas", evocando tanto a história de conquistas militares quanto as paisagens marcantes da região.
No Canto III, estrofe 86, Camões faz referência a Silves, cidade algarvia que, durante a Reconquista, foi tomada pelos cristãos com a ajuda de cruzados. Esta cidade, que outrora foi um importante bastião muçulmano, ganha destaque no poema como um símbolo das vitórias que moldaram o território português.
No Canto VIII, estrofe 25, o poeta menciona Tavira (Tavila), aludindo à sua conquista e à vingança dos "sete caçadores", reforçando o contexto de luta e recuperação das terras algarvias.
Já nas estrofes 88 e 26 do Canto III, a cidade de Silves é novamente destacada, sublinhando a importância estratégica e histórica dessa cidade durante a luta contra os mouros.
Por fim, o Sacro Promontório (Cabo de São Vicente) aparece no Canto III, estrofe 74, ligando o Algarve à narrativa da presença de São Vicente, o santo padroeiro de Lisboa, cujos restos mortais foram trazidos para a cidade após a sua morte.
Além das referências históricas, Camões também celebra a paisagem do Algarve de uma forma poética e nostálgica, como na sua evocação da Ribeira de Boina. Esta poesia descreve a beleza natural da região, ligando-a à memória afetiva do autor. A Ribeira de Boina, situada entre Monchique e Portimão, aparece nas suas obras como um local de reflexão e melancolia, onde a natureza e o sofrimento se encontram de forma simbólica. Ao referir-se a este rio, Camões não apenas evoca o ambiente físico, mas também sugere um espaço de introspecção e de conexão com a vida e com a história.