Difference between revisions of "Elegias escolhidas"

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Simónides, inventa novas artes;<br />
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não meças o passado co presente!<br />
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não meças o passado co presente!"<br />
 
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Elegia
Termo de origem grega (elegeía - "lamentação", "canto lúgubre") que designa uma composição poética lírica, em tom melancólico e terno.
(...) Quanto aos temas deste tipo de poesia, encontram-se exemplos de exaltações guerreiras ou patrióticas, de moralidades, com carácter reflexivo e doutrinário, e de narrativas. Relativamente a esta tipologia textual, pode encontrar-se referências à mitologia, ao amor, ao prazer, à juventude, à efemeridade e fragilidade da condição humana, entre outras.
No final da Idade Média e já por influência do Classicismo, a elegia é retomada por François Villon, Jorge Manrique, Petarca e Jacopo Sannazaro. Em Portugal, esta composição poética é cultivada por Sá de Miranda, Camões, Diogo Bernardes, António Ferreira e, mais tarde, pelos poetas da Arcádia Lusitana, por Bocage e pela Marquesa de Alorna.
In:
Infopédia https://www.infopedia.pt/$elegia

Elegia XI- O Poeta Simónides, falando

O Poeta Simónides, falando
co capitão Temístocles, um dia,
em cousas de ciência praticando,

üa arte singular lhe prometia,
que então compunha, com que lhe ensinasse
a se lembrar de tudo o que fazia;

onde tão sutis regras lhe mostrasse
que nunca lhe passasse da memória
em nenhum tempo as cousas que passasse.

Bem merecia, certo, fama e glória
quem dava regra contra o esquecimento
que enterra em si qualquer antiga história.

Mas o capitão claro, cujo intento
bem diferente estava, porque havia
as passadas lembranças por tormento;

"Ó ilustre Simónides! (dezia)
Pois tanto em teu engenho te confias
que mostras à memória nova via,

Se me desses üa arte que em meus dias
me não lembrasse nada do passado,
oh! quanto milhor obra me farias!"

Se este excelente dito ponderado
fosse por quem se visse estar ausente,
em longas esperanças degradado,

oh! como bradaria justamente:
"Simónides, inventa novas artes;
não meças o passado co presente!"

(...)

Para saber mais:

Destemido e aventureiro, Camões abraça o exílio em 1553, depois de ter ferido o arrieiro do rei. Deixa a pátria lusitana, enfrenta os mares navegados por Vasco da Gama até alcançar a Índia. Em Goa escreve uma elegia, um poema embrião dos Lusíadas.
Anos depois de ter iniciado carreira militar numa expedição a Ceuta, onde é ferido num olho durante uma batalha, Luís de Camões regressa à vida de soldado, desta vez em terras do Oriente. A 24 de março de 1553 deixa “a ocidental praia lusitana” e parte para a Índia na armada de Fernão Álvares Cabral. Porventura nesta viagem, encontra ou reencontra mais profundamente o sentido do trajeto histórico do capitão Vasco da Gama, que irá imortalizar com um poema épico de mil cento e uma estrofes.
Em Goa escreve a elegia “O poeta Simónides falando”, que o ensaísta Helder Macedo, especialista camoniano, diz ser “um embrião de alguns dos momentos culminantes dos Lusíadas”.
In:
https://ensina.rtp.pt/artigo/a-elegia-autobiografica-de-camoes/