Difference between revisions of "Nobre, Roberto"
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Revision as of 09:55, 18 May 2022
José Roberto Dias Nobre
S. Brás de Alportel, 27/03/1903 - Lisboa, 27/09/1969.
Escritor. Jornalista. Pintor. Ilustrador. Caricaturista. Crítico de arte e de cinema. Realizador.
Charlotin e Clarinha
- Equipa
Elenco: Dias Monteiro - Charlotin; Lia Lima - Tia Aspérrima, Clarinha
Equipa técnica:
- Argumento: Roberto Nobre
- Fotografia: Albert Durot
- Produção: Gharb Film
Produção Executiva: Roberto Nobre e Agostinho Fernandes
Realização: Roberto Nobre
Dados Técnicos: P/B | sem som | 35 mm |
- Excerto "Horizontes do Cinema" - Roberto Nobre, (1939)
As cenas, em relação umas às outras, ordenam-se também com um ritmo, para dar expressão à acção.
Duma maneira geral chama-se «cena» em cinema a todos os aspectos (enquadramentos) tirados no mesmo local com unidade de tempo. Se voltarmos ao mesmo local, mas registando factos passados antes ou depois, já a cena é considerada outra, e portanto numerada independentemente.
É claro que todas estas designações são arbitrárias e cada cineasta dá-lhes o significado que lhe apraz. Nós, para facilidade de exposição, convencionamos assim.
«ACÇÃO» NÃO É «ENTRECHO»
Reparemos que o ritmo de acção pode ser independente do desenvolvimento do entrecho (ritmo de ficcão).
A Sinfonia duma Capital, de Ruthmann, cbra prima como ritmo de acção, não tinha entrecho. Era apenas o desfiar sucessivo de factos banais surpreendidos na vida duma grande cidade, através das horas dum dia. Resultou uma maravilhosa demonstração de ritmo, quer de acção, quer de imagens, que só por si deslumbrava.
A Romanza Sentimental, essa obra prima também de ritmos de acção e de imagem, com que Einsenstein fez o seu tirocínio para o sonoro, não tinha, igualmente, entrecho. A acção não era mais que o voo nostálgico duma saudade através das quatro estações do ano. Nada mais simples nem mais difícil.
Sim, não podemos chamar entrecho ao motivo central destas películas (o decorrer das horas numa cidade ou duma saudade triste através do ano) se tomarmos por entrecho a ficção, o argumento dramático.
O ritmo de acção desempenha no cinema um papel capital, pois pode fazer-se, como vimos, um filme extraordinário apenas com esse ritmo e é ape mas ele que, muitas vezes, salva argumentos secun dários. Se não fora o seu felicíssimo ritmo de acção o Uma noite aconteceu..., de F. Capra não passaria duma banal comèdiazinha americana, uma historieta amena e fácil, passada durante uma viagem em au tocarro. Foi o ritmo de acção que dum entrecho banal fez um filme encantador - e tudo isto apenas com uma milionàriazinha que foge, um jornalista desempregado e uma camioneta de passageiros.
Para o ritmo de acção também os americanos acharam regras métricas, teorias escolásticas. Mas, se eles encontraram uma visível segurança e unidade no ritmo das imagens, já tal não sucede ao ritmo de acção, e, assim o caso de Uma noite aconteceu... tem acontecido raras vezes, depois.
É que o ritmo de acção é ainda muito menos me cânico e algébrico que o de imagens...
RELAÇÃO ENTRE OS RITMOS
Assim temos, em traço grosso, o seguinte: uma série de enquadramentos forma uma cena; uma série de cenas forma uma sequência uma série de sequências forma a acção dum filme.
Os enquadramentos colocados por ordem estética formam o ritmo de imagens e constituem uma cena; estas, colocadas por uma ordem emotiva, formam o ritmo duma sequência; a acção colocada por uma ordem lógica e imaginativa forma o ritmo de ficção. (pp. 46-47)
- Excerto "Crítica de Cinema, capítulo do Anuário Cinematográfico Português" - Roberto Nobre, (1946)
«Entre as críticas das várias Artes é a crítica de cinema aquela que, em geral, vejo fazer mais ligeiramente, e ela afigura-se-me tanto ou mais complexa que as outras. Não é isto apenas pelas específicas qualidades intelectuais do crítico, mas também pelas dificuldades práticas do próprio acto de crítica».
«Não basta ser sincero e impessoal, e ter uma cultura genérica. É necessário um amplo conhecimento material da “coisa” cinematográfica, complexa, multimoda e volúvel. Além da cultura artística, ela obriga a uma prolixa variedade de conhecimentos técnicos, verdadeiros segredos da alquimia dos estúdios e laboratórios, abrangendo especializações tão restritas que raros podem, em consciência, afirmar dominá-las a todas.»”.
- Notas Biográficas
Roberto Nobre era uma personalidade multidiversificada que operava em diversas áreas da cultura. Em 1919 começa a colaborar no periódico "Alma Lusitana" de Faro, fundando, em 1920, conjuntamente com outros cinéfilos, entre eles Leão Penedo, a produtora cinematográfica "Gharb-Film". Em 1922 conhece Ferreira de Castro, com quem aprofundará ao longo da vida uma sólida amizade. Entretanto vai colaborando como ilustrador nos periódicos Batalha e ABC. No ano da subida de Salazar ao poder, de quem foi opositor, em 1926, Roberto Nobre sai do Algarve e vai viver para Lisboa, onde se emprega na Singer exercendo a função de chefe dos serviços de publicidade. Nesta cidade inicia a sua colaboração como ilustrador na revista Civilização, fundada por Ferreira de Castro. Notabilizou-se como o maior crítico de cinema da sua geração em Portugal, combinando o domínio dos conhecimentos técnicos especializados com uma sólida cultura artística. Esta vertente crítica foi muitas vezes exercida na revista Seara Nova, onde, não raras vezes, exprimia ideias discordantes, contra o regime político vigente. É autor de «Horizontes do Cinema» o primeiro grande estudo teórico português sobre cinema e a sua estética, de «Singularidades do Cinema Português» e do «O Fundo: comentários à Lei do Fundo de Cinema», censurado pelo regime que proibiu a obra, retirando-a de circulação. Nos primórdios do sonoro e o advento do cine-clubismo, desempenhou um papel fundamental, particularmente em jornais ou em revistas. Destaca-se, igualmente, nos anos 40-50, do século passado, a intervenção nas Terças-Feiras Clássicas do cinema Tivoli, em Lisboa. Extraordinário pintor, renovou a expressão estética, inserindo-se na corrente futuro-expressionista, apesar da pouca obra conhecida, expondo individualmente em 1923 e 1924. Como ilustrador deixou a sua marca em diversas obras de Ferreira de Castro (A Volta ao Mundo, etc.). Colaborou em jornais e revistas publicando desenhos e ilustrações, entre os quais: A Batalha; Renovação (1925-1926); Civilização; O Diabo; O Sempre Fixe; Magazine Bertrand; ABC; Voga; A Choldra. Além destas áreas destacou-se também como caricaturista retratando Aurélio da Paz dos Reis, pioneiro do cinema em Portugal, os atores Adelina Abranches e Duarte Silva, ou Reinaldo Ferreira, Nascimento Fernandes, Jorge Brum do Canto e Manoel de Oliveira. Realizou, produziu e escreveu o argumento da farsa cómica "Charlotin e Clarinha", uma curta-metragem despretensiosa e irreverente, filmada em Olhão, onde sobressaem como pormenores técnicos a elevada qualidade da fotografia e a movimentação cénica perante a câmara a que se alia uma sátira de costumes da época, ironizando sobre o melodrama e o romantismo bacoco. Esta curta foi realizada em Olhão, entre 1923 e 1925, mas só foi conhecida em 1972, no Festival de Santarém.
- Bibliografia:
- Horizontes do Cinema (1939)
- O Fundo – Comentários ao Projecto da Nova Política de Cinema em Portugal (apreendido pela Censura) (1946)
- Singularidades do Cinema Português (1964)
- Cervantes ou Ontem e Hoje com Dom Quixote (publicada postumamente) (1972)
- Filmografia:
- Charlotin e Clarinha (1925) (com argumento e produção executiva de sua autoria)