Difference between revisions of "Camões e o Algarve"

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== '''Camões e o Algarve: Ecos da História e da Poesia''' ==
  
  
Presença no Algarve Antes do Exílio
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'''O Algarve''', embora não seja uma presença constante na obra de '''Luís de Camões''', surge em momentos chave de "Os Lusíadas", evocando tanto a história de conquistas militares quanto as paisagens marcantes da região.
  
Há relatos de que Camões passou pelo Algarve antes de partir para a África, particularmente em Portimão. Teófilo Braga menciona a Ribeira de Boina, que Camões teria descrito em versos.
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Nas referências que o poeta faz '''ao Algarve''', encontramos um território de reconquista, de lutas heroicas e vitórias que ecoam pelo tempo. '''Silves, Tavira, o Sacro Promontório, e a Ribeira de Boina''' são apenas algumas das paisagens que ganham vida nas palavras de '''Camões''', unindo o mar, a história e a mitologia. Camões, ao narrar as façanhas de heróis como Vasco da Gama e os navegadores portugueses, faz do Algarve um ponto de partida não apenas para as aventuras dos descobrimentos, mas também para o nascimento de um império.
Conclusão
 
O texto explora as ligações familiares, amorosas e sociais de Luís de Camões com o Algarve. Ele sugere que o poeta, além de descendente direto dos Gamas algarvios, manteve relações importantes com figuras influentes da região, como a família Barreto e os Castelo Branco. Apesar das incertezas documentais, o Algarve parece ter desempenhado um papel significativo na vida e na obra de Camões.
 
 
 
Luís Vaz de Camões terá estado refugiado no Algarve, mais concretamente na Quinta de Santo António, em Monchique, onde escreveu
 
 
 
um poema dedicado à ribeira de Boina:
 
 
 
 
 
Por meio de umas serras mui fragosas,
 
cercadas de silvestres arvoredos,
 
retumbando por ásperos penedos,
 
correm perenes águas deleitosas.
 
Na ribeira de Boina, assi chamada,
 
celebrada -
 
porque em prados
 
esmaltados
 
com frescura
 
de verdura,
 
assi se mostra amena, assi graciosa,
 
que excede a qualquer outra mais fermosa -
 
 
 
as correntes se vêem que, aceleradas,
 
as aves regalando e as boninas,
 
se vão a entrar nas águas neptuninas
 
por diversas ribeiras derivadas.
 
Com mil brancas conchinhas a áurea areia
 
bem se arreia;
 
voam aves;
 
mil suaves
 
passarinhos
 
nos raminhos
 
acordemente estão sempre cantando,
 
com doce acento os ares abrandando.
 
 
 
O doce rouxinol num ramo canta,
 
e de outro o pintassilgo lhe responde.
 
A perdiz de entre a mata, em que se esconde,
 
o caçador sentindo, se levanta;
 
voando vai ligeira mais que o vento,
 
vai buscando;
 
porém quando
 
vai fugindo,
 
retinindo
 
trás ela mais veloz a seta corre,
 
de que ferida logo cai e morre.
 
 
 
Aqui Progne, de um ramo em outro ramo,
 
co peito ensanguentado anda voando,
 
cibato para o ninho indo buscando;
 
a leda codorniz vem ao reclamo
 
do sagaz caçador, que a rede estende,
 
e pretende
 
com engenho
 
fazer dano
 
à coitada,
 
que enganada
 
duns esparzidos grãos de louro trigo,
 
nas mãos vai a cair de seu imigo.
 
 
 
Aqui soa a calhandra na parreira;
 
a rola geme; palra o estorninho;
 
sai a cândida pomba de seu ninho;
 
o tordo pousa em cima da oliveira.
 
Vão as doces abelhas sussurrando,
 
e apanhando
 
o rocio
 
fresco e frio
 
por o prado
 
de erva ornado,
 
com que o bravo licor fazem, que deu
 
à humana gente a indústria de Aristeu.
 
 
 
Aqui as uvas luzidas, penduradas
 
das pampinosas vides, resplandecem;
 
as frondíferas árvores se oferecem
 
com diferentes frutos carregadas;
 
os peixes n'água clara andam saltando
 
levantando
 
as pedrinhas,
 
e as conchinhas
 
rubicundas,
 
que as jucundas
 
ondas consigo trazem, crepitando
 
por a praia alva com ruído brando.
 
 
 
Aqui por entre as selvas se levantam
 
animais calidónios, e os veados
 
na fugida inda mal assegurados,
 
porque do som dos próprios pés se espantam.
 
Sai o coelho; a lebre sai manhosa
 
da frondosa
 
breve mata,
 
donde a cata
 
cão ligeiro.
 
Mas primeiro
 
que ela ao contrário férvido se entregue,
 
às vezes deixa em branco a quem a segue.
 
 
 
Luzem as brancas e purpúreas flores,
 
com que o brando Favónio a terra esmalta;
 
o fermoso Jacinto ali não falta,
 
lembrado dos antigos seus amores;
 
inda na flor se mostram esculpidos
 
os gemidos;
 
aqui Flora
 
sempre mora;
 
e com rosas
 
mais fermosas,
 
com lírios e boninas mil fragrantes,
 
alegra os seus amores inconstantes.
 
 
 
Aqui Narciso em líquido cristal
 
se namora de sua fermosura;
 
nele os pendentes ramos da espessura
 
debuxando-se estão ao natural.
 
Adónis, com que a linda Citereia
 
se recreia,
 
bem florido,
 
convertido
 
na bonina
 
que Ericina
 
por imagem deixou de qual seria
 
aquele por quem ela se perdia.
 
 
 
Lugar alegre, fresco, acomodado
 
para se deleitar qualquer amante,
 
a quem com sua ponta penetrante
 
o cego Amor tivesse derribado;
 
e para memorar ao som das águas
 
suas mágoas
 
amorosas,
 
as cheirosas
 
flores vendo,
 
escolhendo,
 
para fazer preciosas mil capelas,
 
e dar per grão penhor a Ninfas belas.
 
 
 
Eu delas, por penhor de meus amores,
 
uma capela à minha deusa dava;
 
que lhe queria bem, bem lhe mostrava
 
o bem-me-queres entre tantas flores;
 
porém, como se fora malmequeres,
 
os poderes
 
da crueldade
 
na beldade
 
bem mostrou.
 
Desprezou
 
a dádiva de flores; não por minha,
 
mas porque muitas mais ela em si tinha.
 

Latest revision as of 16:20, 24 February 2025

Camões e o Algarve1.jpg

Camões e o Algarve: Ecos da História e da Poesia

O Algarve, embora não seja uma presença constante na obra de Luís de Camões, surge em momentos chave de "Os Lusíadas", evocando tanto a história de conquistas militares quanto as paisagens marcantes da região.

Nas referências que o poeta faz ao Algarve, encontramos um território de reconquista, de lutas heroicas e vitórias que ecoam pelo tempo. Silves, Tavira, o Sacro Promontório, e a Ribeira de Boina são apenas algumas das paisagens que ganham vida nas palavras de Camões, unindo o mar, a história e a mitologia. Camões, ao narrar as façanhas de heróis como Vasco da Gama e os navegadores portugueses, faz do Algarve um ponto de partida não apenas para as aventuras dos descobrimentos, mas também para o nascimento de um império.