Difference between revisions of "Viegas, Lia"
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− | + | '''Lia Viegas''' licenciou-se em Direito na Universidade Clássica de Lisboa e exerceu notariado e advocacia em Macau, Angola e Lisboa, durante o fascismo, destacou-se como advogada de presos políticos nos Tribunais Plenários sendo das raras mulheres que durante o regime do Estado Novo, corajosamente, aceitou defender presos políticos. Mulher calorosa e de grande generosidade, ao longo da vida defendeu gratuitamente muitas dezenas de mulheres que necessitavam de apoio jurídico para fazer valer os seus direitos. Nos anos que se seguiram ao 25 de Abril de 1974, participou activamente nos movimentos de despenalização do aborto, quando este era ilegal e ocorria de forma clandestina, provocando a morte ou problemas de saúde graves em muitas mulheres. Enquanto activista feminista, Lia Viegas foi uma das fundadoras do Movimento de Libertação das Mulheres (MLM), teve actividade no Movimento Democrático das Mulheres (MDM) e, mais tarde, pertenceu à União das Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR). É autora do livro “A Constituição e a Condição da Mulher”, publicado um ano depois do 25 de Abril de 1974. Defensora dos direitos das mulheres. Um dos momentos mais marcantes do percurso de Lia Viegas foi a sua participação como advogada de defesa de Maria Antónia Palla num julgamento, em 1979. Esta jornalista enfrentou um processo-crime na sequência da transmissão pela RTP, em Maio de 1976, de um programa da sua autoria sobre o aborto e Lia Viegas aceitou defendê-la[3]. O processo contra a jornalista atravessou fronteiras, o julgamento gerou um forte movimento de solidariedade e Maria Antónia Palla foi absolvida, em Junho de 1979. Cedo se interessou pela Literatura, tendo escrito o seu primeiro poema aos 16 anos. Em 1954 foi incluída na Antologia Prémio Almeida Garrett, do Ateneu Comercial do Porto. Colaborou em diversos jornais e revista literárias, nomeadamente no suplemento Artes e Letras do Diário de Notícias. Em 1975 publicou uma monografia sobre A Constituição e a Condição da Mulher. Além da advocacia, da actividade política e como feminista, é autora de vários livros de poesia. Foi também colaboradora de diversos jornais e revistas, entre os quais o suplemento “Artes e Letras” do “Diário de Lisboa” e a revista “Mulheres” (títulos já desaparecidos).<br /> | |
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Latest revision as of 16:54, 14 December 2021
Marília Viegas (Lia)
Faro, 05/041931 - Faro, 27/12/2016.
Advogada. Poetisa. Lutadora antifascista e feminista. Ativista na defesa dos direitos das mulheres.
- PUXAR A REDE DA MEMÓRIA
Puxar a rede da memória
capturar os ainda vivos peixes e
atirá-los ao mar e
atirar ao ar os ainda vivos
pássaros marinhos e os
moluscos que vivos puderem mergulhar
inventariar os restos
haverá algas lodos e limos
haverá mortos exumados e por exumar
haverá trastes mobílias e velhas vestes
sapatos pequenos farrapos de retratos
estilhaços de espelhos de maquilhar
cosméticos e máscaras prontos a usar
Inventariar as minúsculas caixas de suspiros e ais
as pontinhas de escrita nos lenços de assoar
salvar as palavras ditas e não ditas
repertoriar as feridas os rasgões as suturas e cicatrizes
soltar as palavras mesmo as escritas
desapertar os nós alargar as cordas
abrir a boca da rede e
deixar que se esgote o manancial represo
os goles de mar e as bolhas de ar
deixar escorrer até que se exaure e desagregue
e sedimente e integre a pescaria
que ficou para trás
E a rede poderá voar
In: Árvore de Fogo
- A ESPADA ENXUTA
A espada enxuta
Na madrugada húmida
Onde chove onde choro
E trespassada alcanço
A pulso o horizonte
In, A Pulso o Horizonte
AI DE MIM MINHAS MÃOS REVOLVEM A TERRA QUE DÁ PÃO
Ai de mim minhas mãos revolvem a terra que dá pão
Estou comprometida desde o início
Voluntariamente enlaçada na cadeia de montagem
A compasso a horário a calendário
“Robot” manipulado com esforço
Ai de mim ouço
A passarada cujo destino é o céu
Dentro de mim rasgando cegamente
Os caminhos com se houvesse
Possível prometida permitida
Uma porta que desse
Para o infinito
In: Náufragos na Ilha
https://www.facebook.com/groups/205408572982640/permalink/205482012975296/ - CICLO DE POETAS ALGARVIOS
- Notas Biográficas
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Lia Viegas licenciou-se em Direito na Universidade Clássica de Lisboa e exerceu notariado e advocacia em Macau, Angola e Lisboa, durante o fascismo, destacou-se como advogada de presos políticos nos Tribunais Plenários sendo das raras mulheres que durante o regime do Estado Novo, corajosamente, aceitou defender presos políticos. Mulher calorosa e de grande generosidade, ao longo da vida defendeu gratuitamente muitas dezenas de mulheres que necessitavam de apoio jurídico para fazer valer os seus direitos. Nos anos que se seguiram ao 25 de Abril de 1974, participou activamente nos movimentos de despenalização do aborto, quando este era ilegal e ocorria de forma clandestina, provocando a morte ou problemas de saúde graves em muitas mulheres. Enquanto activista feminista, Lia Viegas foi uma das fundadoras do Movimento de Libertação das Mulheres (MLM), teve actividade no Movimento Democrático das Mulheres (MDM) e, mais tarde, pertenceu à União das Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR). É autora do livro “A Constituição e a Condição da Mulher”, publicado um ano depois do 25 de Abril de 1974. Defensora dos direitos das mulheres. Um dos momentos mais marcantes do percurso de Lia Viegas foi a sua participação como advogada de defesa de Maria Antónia Palla num julgamento, em 1979. Esta jornalista enfrentou um processo-crime na sequência da transmissão pela RTP, em Maio de 1976, de um programa da sua autoria sobre o aborto e Lia Viegas aceitou defendê-la[3]. O processo contra a jornalista atravessou fronteiras, o julgamento gerou um forte movimento de solidariedade e Maria Antónia Palla foi absolvida, em Junho de 1979. Cedo se interessou pela Literatura, tendo escrito o seu primeiro poema aos 16 anos. Em 1954 foi incluída na Antologia Prémio Almeida Garrett, do Ateneu Comercial do Porto. Colaborou em diversos jornais e revista literárias, nomeadamente no suplemento Artes e Letras do Diário de Notícias. Em 1975 publicou uma monografia sobre A Constituição e a Condição da Mulher. Além da advocacia, da actividade política e como feminista, é autora de vários livros de poesia. Foi também colaboradora de diversos jornais e revistas, entre os quais o suplemento “Artes e Letras” do “Diário de Lisboa” e a revista “Mulheres” (títulos já desaparecidos).
No dia 8 de Março de 1977, um grupo de mulheres entre as quais se encontravam Lia Viegas e Maria Antónia Palla, entregou ao Presidente da Assembleia da República, Vasco da Gama Fernandes, uma petição assinada por 5 mil pessoas, exigindo a despenalização do aborto. Arquivo A Capital.
- Bibliografia
A constituição e a condição da mulher 1977
Obras de poesia:
La Spirale de la rose
Náufragos na Ilha, Editora Soc. Expansão Cultural, 1971;
'A Pulso o Horizonte', Editora Ulmeiro, 1985;
Árvore de Fogo, Hugin Editores, 2001
- Pode saber mais sobre Lia Viegas nos seguintes links:
https://www.jornaltornado.pt/lia-viegas/
https://expresso.pt/sociedade/2016-12-28-Morreu-Lia-Viegas
https://www.sulinformacao.pt/2016/12/movimento-democratico-de-mulheres-lamenta-morte-de-lia-viegas/