Difference between revisions of "Correia, Natália - Livros Proibidos"

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Leitura – Comunicação, Natália Correia
 
  
A Feiticeira Cotovia
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*'''Comunicação'''
  
Cantei uma ária para te dar um teto
+
*'''A Feiticeira Cotovia'''
Versos duma rosa para o seu namorado
 
Bodas naturais de flor e de insecto
 
Que pousa na flor e fica casado
 
  
Passou um amante no voo directo
+
Cantei uma ária para te dar um teto<br />
Dum corpo para a sua constelação
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Bodas naturais de flor e de insecto<br />
Com pena de ti roubei-lhe o trajecto
+
Que pousa na flor e fica casado<br />
E pus-te uma pomba invisível na mão
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<br />
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Passou um amante no voo directo<br />
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Dum corpo para a sua constelação<br />
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Com pena de ti roubei-lhe o trajecto<br />
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E pus-te uma pomba invisível na mão<br />
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Mas pela espiral da antiga insónia<br />
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Girou a voluta do crime secreto<br />
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De seres cortesã numa Babilónia<br />
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Que fechas à chave para ficar mais perto<br />
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E pelos abismos do teu ventre orgíaco<br />
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Errou o remorso da raça cobarde<br />
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Que nos abortou no círio elegíaco<br />
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Da nossa perdida Sodoma que arde<br />
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Mas pela espiral da antiga insónia
 
Girou a voluta do crime secreto
 
De seres cortesã numa Babilónia
 
Que fechas à chave para ficar mais perto
 
  
E pelos abismos do teu ventre orgíaco
+
'''Inquisidor'''<br />
Errou o remorso da raça cobarde
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Que nos abortou no círio elegíaco
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São seios como venenos<br />
Da nossa perdida Sodoma que arde
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São pernas com meias pretas<br />
 
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São os postais obscenos<br />
Comunicação, Natália Correia
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Que fechamos nas gavetas<br />
 
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São as vigílias eróticas<br />
 
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Com que o demo nos assalta<br />
 
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São solteironas neuróticas<br />
 
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E o amante que lhes falta<br />
 
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São os truques insolentes<br />
 
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Dum prestidigitador…<br />
 
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'''Comunicação'''<br />
 
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Inquisidor
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*'''A Feiticeira Cotovia'''<br />
São seios como venenos
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São pernas com meias pretas
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Ser navegador… Ser navegador<br />
São os postais obscenos
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Não é termos sido é sermos ainda<br />
Que fechamos nas gavetas
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É irmos a Vénus ou seja onde for<br />
 
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Espetar os cornos onde o espaço finda<br />
São as vigílias eróticas
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Com que o demo nos assalta
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É haver Camões como uma recolta<br />
São solteironas neuróticas
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É haver Gil Vicente como um desafio<br />
E o amante que lhes falta
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A esse Encoberto que nunca mais volta<br />
 
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Porque é o pretexto do nosso vazio<br />
São os truques insolentes
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Dum prestidigitador…
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É Vasco da Gama mas sem biografia<br />
 
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Que sem biografia a lenda é o impulso<br />
Comunicação, Natália Correia
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Da raça que cumpre a mitologia<br />
 
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De qualquer viagem que lhe forme o pulso<br />
 
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É ignorar que houve Aljubarrota<br />
 
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Porque Aljubarrota é ignorar<br />
 
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Perder a memória como uma gaivota<br />
 
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Ideia dum barco escrita no ar<br />
 
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É a liberdade como uma coroa<br />
 
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Florindo a inocência que na nossa fonte<br />
 
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Sendo como os bichos quer amar à toa<br />
 
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Sendo como os astros quer brilhar na fronte<br />
 
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'''Comunicação'''
 
 
 
 
 
 
A Feiticeira Cotovia
 
 
 
Ser navegador… Ser navegador
 
Não é termos sido é sermos ainda
 
É irmos a Vénus ou seja onde for
 
Espetar os cornos onde o espaço finda
 
 
 
É haver Camões como uma recolta
 
É haver Gil Vicente como um desafio
 
A esse Encoberto que nunca mais volta
 
Porque é o pretexto do nosso vazio
 
 
 
É Vasco da Gama mas sem biografia
 
Que sem biografia a lenda é o impulso
 
Da raça que cumpre a mitologia
 
De qualquer viagem que lhe forme o pulso
 
 
 
É ignorar que houve Aljubarrota
 
Porque Aljubarrota é ignorar
 
Perder a memória como uma gaivota
 
Ideia dum barco escrita no ar
 
 
 
É a liberdade como uma coroa
 
Florindo a inocência que na nossa fonte
 
Sendo como os bichos quer amar à toa
 
Sendo como os astros quer brilhar na fronte
 
Comunicação, Natália Correia
 

Revision as of 12:56, 26 January 2024

  • Comunicação
  • A Feiticeira Cotovia

Cantei uma ária para te dar um teto
Bodas naturais de flor e de insecto
Que pousa na flor e fica casado

Passou um amante no voo directo
Dum corpo para a sua constelação
Com pena de ti roubei-lhe o trajecto
E pus-te uma pomba invisível na mão

Mas pela espiral da antiga insónia
Girou a voluta do crime secreto
De seres cortesã numa Babilónia
Que fechas à chave para ficar mais perto

E pelos abismos do teu ventre orgíaco
Errou o remorso da raça cobarde
Que nos abortou no círio elegíaco
Da nossa perdida Sodoma que arde



Inquisidor

São seios como venenos
São pernas com meias pretas
São os postais obscenos
Que fechamos nas gavetas

São as vigílias eróticas
Com que o demo nos assalta
São solteironas neuróticas
E o amante que lhes falta

São os truques insolentes
Dum prestidigitador…

Comunicação


  • A Feiticeira Cotovia


Ser navegador… Ser navegador
Não é termos sido é sermos ainda
É irmos a Vénus ou seja onde for
Espetar os cornos onde o espaço finda

É haver Camões como uma recolta
É haver Gil Vicente como um desafio
A esse Encoberto que nunca mais volta
Porque é o pretexto do nosso vazio

É Vasco da Gama mas sem biografia
Que sem biografia a lenda é o impulso
Da raça que cumpre a mitologia
De qualquer viagem que lhe forme o pulso

É ignorar que houve Aljubarrota
Porque Aljubarrota é ignorar
Perder a memória como uma gaivota
Ideia dum barco escrita no ar

É a liberdade como uma coroa
Florindo a inocência que na nossa fonte
Sendo como os bichos quer amar à toa
Sendo como os astros quer brilhar na fronte

Comunicação