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José Dias Sancho
São Brás de Alportel, 22/04/1898. Faro, 11/01/1929.
Advogado, poeta e ficcionista. Crítico Literário. Dramaturgo
- ESTRADA NOVA
De coisas do arco da velha se lembram os homens!
Pois naquela serra distante de ares lavados, e ribeiras, e fraguedos, certo dia apareceram engenheiros e construtores a deitar planos para uma estrada real.
Tiraram medidas, formaram conselho... E lá se foram, nas alimárias, pelo vale ao diante, — arautos da civilização naqueles descampados de cabeços e sobreiros.
Pararam a meio da encosta, numa casa trigueira e pobre, para matarem a sede.
Serviu-os uma moçoila morena, olhos de amora, peitos redondos, no melhor cucharro, que tinha.
Disseram-lhe uma chalaça, e largaram serro acima, as patas dos machos a tropearem nos calhaus.
Recortaram-se, por instantes, na crista do monte, e, quando se sumiram para as bandas do norte, já a tarde descia muito branda e muito triste.
A cachopa ficou, do braços pendidos, a sondar ainda o horizonte do oiro.
Perto, floresciam, vermelhas e agrestes, moitas fartas de sardinhetas.
Excerto atualizado do conto "Estrada Nova " de José Dias Sancho, publicado na revista "Ilustração portuguesa"
- Notas Biográficas
Muito precoce, desde adolescente que produzia poesia de grande qualidade e revelava o seu sentido de humor crítico, que igualmente se expressava na caricatura.
Aos dezasseis anos escrevia A Ceia dos Cábulas (paródia à Ceia dos Cardeais do Senhor Júlio Dantas), para uma festa do Liceu, onde manifestava já o gosto pela crítica satírica.
Aliás, anos mais tarde, voltaria à crítica da obra de Júlio Dantas no livro Ídolos de Barro (2º volume), sendo que no primeiro do mesmo título saiu em defesa do poeta António Nobre que havia sido alvo de ataques injustos por parte do Ídolo de Barro I Albino Forjaz de Sampaio.
Dias Sancho foi um dos fundadores do Correio do Sul, e colaborou em muitos jornais do Algarve, nomeadamente na Folha de Alte, na Vida Algarvia e na revista Costa de Oiro, de Lagos, onde, entre outros trabalhos, publicou o delicioso conto infantil "No Reino dos Bonecos".
Em Lisboa escreveu para o Diário de Notícias, Diário de Lisboa, o Século e A Situação, de que foi director. Enquanto estudante universitário colaborou no Académico, quinzenário defensor dos interesses académicos.
Frequentou a Faculdade de Direito, em Lisboa, onde se licenciou em 1926. Não exerceu advocacia e, quando faleceu, era Conservador do registo Civil de faro, depois de curtas permanências como oficial nomeado nos Registos Civis de Ourique e de São Brás de Alportel.
Casou com Maria Helena Pousão Pereira, falecida muito nova, filha do conhecido poeta algarvio Dr. João Lúcio, da qual teve urna filha, Maria Luísa, que vive em Lisboa e se dedica à poesia, ao desenho e à pintura.
In: Quem foi quem?: 200 algarvios do século XX / Glória Maria Marreiros.- 2ª ed.- Lisboa: Colibri, 2000.- pp. 443-444
- Bibliografia
Canções de Amor,(1916) colectânea de poesias;
Aos homens de Portugal (1919)
Serenata de Mefistófeles(1921) obra de poesia satírica, em quadras;
Ídolos de barro I (1920)
Ídolos de barro II (1922
Ritual do amor (1923)
Deus Pan, contos rústicos
El-Rei Bébé, dedicado a sua filha
Bezerros de OuroPublicação póstuma
Foi cofundador do jornal Correio do sul, e redator principal e diretor do jornal A situação.
- Veja mais sobre José Sias Sancho nos seguintes links:
- página da APOS com informação sobre José Dias Sancho e a sua obra
- 2020 - Texto do blogue "Farol da Nossa Terra" sobre José Dias Sancho"
- Pdf da revista Ilustração Portuguesa onde se pode ler o conto de José Dias Sancho " Estrada Nova".