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'''Francisco Manuel Palma-Dias'''<br />
Castro Marim, 1942<br />

 Poeta. Encenador. 

'''ANTELÓQUIO'''<br />
<br />
...haustas montanhas sossegadas onde enrolado em leite o sol renasce<br />
com templos de colmo e castelos de Espanhas nos cabelos<br />
salgada espera<br />
hispérido futuro eis a tua canga e o jugo dos teus bois.<br />
Hortos de laranja<br />
vinhos coruscantes<br />
e uma mesa sóbria debruada a esteva<br />
e grão a grão o granito dá azeite.<br />
Ocres rendas de birlo e de amêndoa, oiro<br />
na voz grave em filigrana<br />
mãos que escalpam um deus que se derrama e se incorpora<br />
a taliscas de pão, a estiva e broa pela popa e pela proa.<br />
Docemente<br />
torres de canela onde a besta se esgana, claro assento<br />
eis o menino, o vasto<br />
murmurando do largo<br />
um só apêlo luze<br />
perpassa na reixa<br />
o puro anseio orando<br />
cruzeiro do sul e de sempre<br />
dentro do teu centro eu me nutro e expando<br />
e vejo<br />
e escuto<br />
e escrevo apenas porque canto.<br />
<br />

Lembro as terras de infância o sossego do sal<br />
As águas lentas dos esteiros, a foz<br />
Do Guadiana<br />
O voo das francelhas do castelo<br />
Cometas e morcegos, gaviões do cair da noite no<br />
[crescer do Verão<br />
O porto-cais de madeira com a lua cheia<br />
... cheira a Japão e China<br />
A rio com os tamancos mouros<br />
A maresia<br />
A levante<br />
Com o sapal branco de gaivotas na tormenta<br />
[Terra marismeña]<br />
Piras de Sal <br />
Nortada (restêvas)<br />
Fadas e moiras<br />
Quimeras (relento)<br />
Lume brando do caldeiro<br />
Panela de ferro<br />
Cozido com xíxaros e peras<br />
Toucinho amanteigando o pão<br />
O forno de São Bartolomeu, o barrocal, o arvoredo<br />
A feira de Setembro com os pêros, suspiros e copinhos de medronho<br />
A corredoira<br />
A estila<br />
O nógado, a casa do azeite e o lagar<br />
Avô de chapéu, cajado, barbas como vi na Índia<br />
O prazer de um figo na ialva e<br />
Atravessar em Monchique, a floresta do Norte<br />
Luz que desmamou, pais<br />
Na volta à terra pelo São João<br />
Fogueiras, mastros, murta e alecrim, ninhos<br />
Aldeias de laranja<br />
Ou o Senhor Morto matraqueando a noite<br />
A noite noite, noite de capuzes<br />
Noite balandrau<br />
Noite de velas incenso, damasco roxo<br />
Noite de salmoira<br />
Grave<br />
Com o rosmaninho atapetando o chão<br />
E as mulheres gritando a agonia<br />
A infinda morte naufragada.<br />
Perfumes de mistura, farrôba e marmelo<br />
Arrôbe<br />
Adega com vinho<br />
Açôrda com poêjo<br />
Açafates de bilros<br />
Meias de cinco agulhas, mantas de Serra<br />
Água do Cabeço, barca, ameijoas<br />
Conquina, as pinhas do mirante<br />
Um escorpião de oiro<br />
O sussurro onde tinem todas as estrelas e<br />
Em grandes abóboras, cintilantes<br />
Carroças da bela adormecida...<br />
... ai o que nos resta de um país azul<br />
Serão os velhos livros, suas capas lindas<br />
Ou serão histórias da Senhora dos Mártires<br />
Promessas pagas com trigo e azeite, cera e frangos<br />
Oiro, a marca das fitinhas<br />
A seda de todas as cores<br />
A prôa de Sagres<br />
O cavaleiro andante da eterna mocidade?<br />
O mal se espanta<br />
Descobre-se<br />
Que não cansa<br />
Sempre alcança, continua<br />
Cantado<br />
Trauteando<br />
Pela rua do Estácio<br />
Atravessas Tudo.<br />
<br />

'''Alvorada'''<br />
<br />
Lembro as terras de infância o sossego do sal<br />
As águas lentas dos esteiros, a foz<br />
Do Guadiana<br />
O voo das francelhas do castelo<br />
Cometas e morcegos, gaviões do cair da noite no crescer do Verão<br />
O porto-cais de madeira com a lua cheia<br />
... cheira a Japão e China<br />
A rio com os tamancos mouros<br />
A maresia<br />
A levante<br />
Com o sapal branco de gaivotas na tormenta<br />
<br />
Terra marismeña<br />
<br />

*'''Notas Biográficas'''<br />
Fez os seus estudos em Faro e Coimbra e muito cedo emigrou. Levou consigo a cultura algarvia e em Bruxelas fez a primeira encenação mundial da obra de António Aleixo com o grupo de teatro A.P.E.B., Associação dos Portugueses Exilados em Bruxelas. Na segunda década dos anos sessenta continuou o seu trabalho no grupo Prego na Língua (Teatro Laboratório). Nessa altura encenou a peça Três Fósforos, da poetisa algarvia Teresa Rita Lopes. A partir de 1995 voltou ao seu Algarve, onde se dedica à agricultura, à poesia e ao budismo tântrico.<br />

*'''Bibliografia'''<br />

- '''''Cante Quinto''''', Guimarães Editores, 1981;<br />
- '''''Ode Imperial''''', Guimarães Editores, 1983;<br />
- '''''Onde a Terra Acaba Amar Começa''''', Guimarães Editores, 1985;<br />
- '''''Finisterra-Flash''''', Editorial Minerva, 1988.<br />

[[File:Livrospalmadias.JPG|430px]]<br />

In Facebook de '''Fernando R. Luis''' de 11 de julho de 2019. CICLO DE POETAS ALGARVIOS, Nº. 77, CASTRO MARIM.<br />

* '''Veja mais sobre Francisco Manuel Palma Dias nos seguinte links'''<br />

[http://fugas.publico.pt/hoteis/247628_companhia-das-culturas - 2015 - A Companhia das Culturas ou a celebração de um lugar Um lugar único, o Algarve d’aquém e de além-mar. Quem se sentar com o poeta Francisco Palma-Dias ouvirá logo falar nas maravilhas resultantes da fusão dos climas continental, mediterrânico e atlântico e de séculos e séculos de relações entre povos, sobretudo com os do outro lado do mar.]<br />

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