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Lagos, 19/05/1876 - Lisboa 25/05/1962.<br />

 Escritor. Dramaturgo. Poeta. Médico. Jornalista. Político. Diplomata. Professor. Patrono do Agrupamento de Escolas Júlio Dantas, Lagos. Patrono da Biblioteca Municipal de Lagos. 

*'''Os desconhecidos'''<br />
('''A Manuel Penteado''')<br />

Dois cadáveres — vede — aguardam o meu corte:<br />
Um homem gigantesco e uma mulher perdida.<br />
Dormem nus, sobre a pedra, unidos pela morte,<br />
E talvez, sem se ver, passaram pela vida.<br />

Ele, o morto, na seca e descarnada espalda<br />
Tem nomes de mulher e várias tatuagens;<br />
Treme de nojo o sol na sua pele jalda<br />
E abrem-lhe a boca verde uns esgares selvagens.<br />

De tórax d’esmeralda, asa tecida d’ouro,<br />
Uma nervosa mosca, em passos indolentes,<br />
Para entrar-lhe na boca aflora o buço louro<br />
E começa a descer pela escada dos dentes.<br />

Morto há dias, olhai que a rigidez se perde<br />
E que o seu corpo está gelatinoso e elástico:<br />
Suas costelas são como um teclado verde,<br />
Digno das longas mãos dum pianista fantástico!<br />

Ela morreu de parto: entre as airosas coxas<br />
Que doira como um fruto uma lanugem pouca,<br />
Um feto mostra ao sol as suas carnes roxas,<br />
Ajoelhado, a rir, sem olhos e sem boca.<br />

Tem rugas sobre o ventre, e lembra, cada ruga,<br />
As que a pedra ao cair traça nos verdes pântanos:<br />
Os seus cabelos são dum ruivo tartaruga,<br />
O seu rictus perturba e o seu olhar espanta-nos.<br />

Bate-lhe em cheio o sol, como losango d’ouro;<br />
Tem no seio listrões de sangue que secou:<br />
E pelo flanco enorme, e pelo púbis louro,<br />
Lembra os ventres brutais que Van Miéris pintou.<br />

Dir-se-ia que o morto a olha, — reparai,<br />
E lhe espreita e deseja as carnes violadas;<br />
D’aí, quem sabe lá se ele seria o pai<br />
Daquele feto roxo a rir às gargalhadas!<br />

In:https://www.jornalopcao.com.br/colunas-e-blogs/contraponto/julio-dantas-e-um-escritor-portugues-porte-de-eca-de-queiroz-e-alexandre-herculano-12936/

*'''Notas Biográficas'''<br />
 '''Júlio Dantas''' foi um dos maiores vultos da literatura portuguesa. Licenciado em Medicina pela Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, depois de estudos feitos no Colégio Militar, o autor da festejada Ceia dos Cardeais (1902) viria a desempenhar numerosos cargos oficiais e não oficiais de prestígio: comissário do Governo junto do Teatro de D. Maria II, professor e diretor da Secção de Arte Dramática do Conservatório, inspetor superior das Bibliotecas e Arquivos, etc. Foi deputado e quatro vezes ministro, tenho representado o nosso país no estrangeiro em várias missões diplomáticas. Foi membro da Academia das Ciências a partir de 1908, tendo-se tornado, em 1922, seu presidente quase vitalício.<br /> O facto de ter sido invectivado no conhecido Manifesto Anti-Dantas, de José de Almada-Negreiros, é sinal da sua notoriedade de homem público. Alcançou os seus maiores êxitos no teatro, com obras como A Severa, A Ceia dos Cardeais, Rosas de Todo o Ano e O Reposteiro Verde. Patrono do Agrupamento de Escolas Júlio Dantas, em Lagos.<br />


*'''Bibliografia'''<br />
'''Teatro'''<br />

“A Ceia dos Cardeais”, que foi traduzida para mais de 20 línguas<br />
“A Severa”, 1901<br />
“Um Serão nas Laranjeiras”<br />
“Santa Inquisição”, 1910<br />
“Frei António das Chagas” <br />
“Os Crucificados”, conhecida por abordar pela primeira vez no teatro português um caso de homossexualidade<br />

Romances?<br />

”Pátria Portuguesa”, 1914 (Contos)<br />
“O Amor em Portugal no Século XVIII” <br /> 
“Marcha Triunfal”<br />
Tribuna (discursos, 1960)<br />
Os Galos de Apolo (crónicas, 1921)<br />

Como jornalista colaborou no Correio da Manhã, do Brasil e La Nación, da Argentina.<br />
[[File:Livros Dantas.jpg|286px]]<br />
In:https://www.bestnetleiloes.com/pt/leiloes/livros-75/julio-dantas-4<br />
https://www.geni.com/people/J%C3%BAlio-Pereira-d-E%C3%A7a-Dantas-Vanez-J%C3%BAlio-Dantas/6000000021135695192 perfil genealógico de Júlio Pereira d'Eça Dantas Vanez ( Júlio Dantas)???<br />
 
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