Guerreiro, Cândido - e JM
- Francisco Xavier Cândido Guerreiro
Alte, Loulé, 3/12/1871 - Lisboa, 11/4/1953.
Poeta. Advogado. Dramaturgo. Frequentou o Liceu de Faro no final do século XIX. Patrono da Escola Profissional Cândido Guerreiro, em Alte. Patrono do Polo Museológico de Alte, do Museu Municipal de Loulé.
- Notas Biográficas
Cândido Guerreiro, formou-se em direito na Universidade de Coimbra em 1907. Exerceu a profissão em Faro e Loulé e chegou mesmo a ser Presidente da Câmara de Loulé e de Faro. Poeta pós-simbolista português participou com os seus poemas em muitas revistas e jornais do Algarve e a sua poesia sempre refletiu o seu amor à sua terra Natal e às suas origens árabes. O Auto das Rosas de Santa Maria, foi pela primeira vez representado em 1940 com música de Francisco Fernando Lopes outra personalidade multifacetada natural de Olhão.
Cândido Guerreiro e Joaquim Magalhães: Amizade e Colaboração Literária
Cândido Guerreiro e Joaquim Magalhães mantiveram uma amizade sólida e ativa, marcada por respeito mútuo e admiração pela poesia algarvia. Essa relação manifestou-se publicamente em artigos de jornal, como nos números de O Algarve de abril e maio de 1948, onde trocaram reflexões sobre poesia e poetas, reforçando o vínculo pessoal e literário que os unia. Ambos participaram como júris em concursos de jogos florais, destacando-se, por exemplo, na Revista Algarvia de março de 1950.
Magalhães também homenageou Cândido Guerreiro através de conferências organizadas pelo Círculo Cultural do Algarve e por outras instituições, sublinhando o valor literário e humano do poeta.
- A seguir, apresentamos alguns documentos ilustrativos desta relação:
1. O artigo de Joaquim Magalhães intitulado “Nótula acerca de poesia algarvia”:
O facto de nos termos habituado, nas aulas de história, a ouvir falar de Portugal e do Algarve, reinos do monarca português, contribui decerto para que não estranhemos as designações: revista algarvia, escritores algarvios, poesia algarvia, assaz frequentes no Algarve e aceitáveis nas restantes províncias do país (...) numa análise da produção poética algarvia (...) Mesmo sem pretensões de regionalismo literário ou de bairrismo provincial, uma simples observação superficial permite apontar, em todos os líricos nascidos no Algarve, qualquer coisa de comum e caracteristicamente algarvia. Não nos referimos ao amor da terra natal, por demais evidente e natural em todos eles (...) Mas, sem que o busquem, por preocupação de originalidade, é evidente, entre os artistas algarvios, um certo espírito de independência intelectual que os não deixa serem seguidores deste ou daquele estilo ou moda literária.
A essa independência de espirito, verificável também ao individualismo dos contemporâneos, acresce, nos poetas algarvios, — e isso é característica comum a presença do Algarve, que se manifesta, em todos, pelo amor da claridade, da luz e da cor que se respiram no ambiente e na paisagem da província e que, sem que talvez deem por isso, lhes iluminam as melhores composições de todos eles.
Isso faz que, não sendo o Algarve uma terra de pintores, sejam os poetas os grandes pintores da região. Bernardo de Passos, João Lúcio, Cândido Guerreiro, Emiliano da Costa, para só citar os que se têm destacado, mais do que poetas, são os poetas-pintores da província natal.
2. Soneto de Cândido Guerreiro sobre o Algarve, que acompanha o artigo anterior:
Minha terra embalada pelas ondas,
Lindo país de moiras encantadas,
Onde o amor tece lendas e onde as fadas
Em castelos de lua dançam rondas…
Oh meu Algarve, quero que me esconda
Que na treva da morte haja alvoradas!
Hei de sonhar com moiras encantadas,
Se eu dormir embalado pelas ondas…
Quando o sol emergir de trás da serra,
Sempre será o sol da minha terra
A fecundar-me o chão da sepultura…
Ao pé dos meus, na minha aldeia querida,
A morte será quase uma ventura,
A morte será quase como a vida…
- Os sonetos dedicados à figura feminina são abundantes na escrita de Cândido Guerreiro.
1. O poema abaixo é dedicado a Maria, não havendo, contudo, confirmação de fonte segura, se é dedicado a Maria Veleda ou a outra mulher, também com este nome.
Mal imaginas tu, doce Maria,
O que me faz sentir um teu sorriso!
É como se baixasse o paraíso,
Em noite de procela, à serrania!
Nem eu podia, ainda que distante,
Dar-te uma ideia do que sinto n'alma,
Embora o génio me entregasse a palma,
Embora em mim ressuscitasse Dante...
O teu sorriso, como o beijo terno,
Que o sol envia a cada sepultura,
Desce à minh'alma - funda noite escura –
E nela muda em Primavera o Inverno!
Como podia eu deixar de amar-te,
Se tu, sorrindo e solta a longa trança,
És a radiosa imagem da Esperança,
A encarnação do ideal da Arte?
Pálida virgem de sorrir celeste,
Não há nos mares uma tal sereia,
Rosa que o céu fez despontar n'aldeia,
Ó branca rosa, minha rosa agreste!
Cândido Guerreiro (1895, in Marques, 2013: 19-20)
In: Rota Literária do Algarve
2. Durante os anos em que viveu na cidade do Mondego, conheceu Margarida de Sousa Costa, natural do Porto, com quem casou, em 1909, e a quem dedicou o seguinte poema apaixonado:
Este nome é da mulher
Que brilha na minha vida,
Como sobre a noite negra,
Brilha uma estrela perdida.
Com este nome de lenda
Eu enobreço estas bandas,
Enchendo-as de sonho e aromas
E a graça das rosas brancas.
É sim, de uma huri ardente
Que é linda sem pedrarias…
Ela guia no deserto
As caravanas sombrias
Dos meus desejos, mais altos
Que as regiões do luar,
E mais inquietos que as ondas
Do mar.
Ela é mais que favorita
É a sultana ideal
E eu sou escravo exilado,
Fingindo-me advogado,
Porém seu escravo, afinal…
- Para saber mais sobre Cândido Guerreiro:
Sobre A origem da Escola Profissional Cândido Guerreiro:
O surgimento da em Alte, em 1992, é o fruto do aproveitamento das oportunidades tidas como únicas, onde, à iniciativa, à dinâmica e ao poder reivindicativo das forças vivas locais, foi possível conjugar uma visão estratégica de desenvolvimento sustentado do território e alguma capacidade técnica e financeira das entidades que mais diretamente trabalham em prol do desenvolvimento local, da freguesia de Alte, do concelho de Loulé e do interior da região Algarvia, nomeadamente a Câmara Municipal de Loulé, a Junta de Freguesia de Alte e a Associação IN LOCO."
José Carmo Correia Martins num post sobre o livro Fotobiografia de Cândido Guerreiro apresenta-nos alguns dados sobre o Autor e Bernardo de Passos:
"Conheceram-se em São Brás de Alportel quando Cândido Guerreiro aqui terminou o ensino primário, estando o seu pai colocado em Estoi como juiz de paz." e "Cinco anos mais velho que Bernardo Passos, ingressou no Liceu de Faro e depois no Seminário de Faro, tendo desistido de ambos.
Nesse mesmo post Teresa Rita Lopes comenta: "Morava perto do liceu e adorava receber a minha visita e das miúdas minhas colegas! Deu-me lições de métrica, tinha eu 12 anos [1950?]! Á tarde, oficiava, com o António Ramos Rosa, na Livraria Silva. Eu ia para lá ouvi-lo e ler de borla!" Ver o post completo aqui (29/7/2020).
- Bibliografia:
- Rosas Desfolhadas, 1895.
- Pétalas, 1897.
- Avé Maria, 1900.
- Sonetos, 1904.
- Balada, 1907.
- Eros, 1907.
- Glicínias, 1925)
- Promontório Sacro, 1929.
- Em Forli, 1931.
- Rainha Santa, 1934.
- Auto das Rosas de Santa Maria, 1940.
- Às Tuas Mãos Misericordiosas, 1943.
- Sulamitis, 1945.
- Avante e Santiago, 1949.
- Uma Promessa, 1950.
- Sonetos e Outros Poemas (publicado postumamente), 1972.
- Veja mais sobre Cândido Guerreiro nos seguintes links:
- Blogue em francês com poemas de Cândido Guerreiro e fotos de Alte.
- 2001 -Biografia de Cândido Guerreiro.
- 2003 -Página da CM de Loulé sobre Cândido Guerreiro com o soneto Algarve.
- 2001 -https://arquivo.pt/wayback/20080305081745/http://www.aeiou.pt/catalogo/Educacao/Escolas/Profissionais/Escola_profissional_Candido_Guerreiro.html Referência em 2008 à formação de Escola Profissional Cândido Guerreiro.]
- 2008 -Biografias de Cândido Guerreiro.
- 2011 -Alguns comentários sobre Cândido Guerreiro .
- 2016 -Alguns poemas de Cândido Guerreiro.
- 2017 -Poema de Cândido Guerreiro "Farol Eterno".
- 2019 -[1]
Incêndio
Daqui, desta falésia, cor de lava
Dum amarelo, rútilo e sangrento
Outrora debruçava se um convento
Sobre a maré tumultuosa e brava…
E, à noite, quando no clamor do vento,
Ao largo, o temporal, se anunciava
E a voz das águas, soluçante e cava
Punha um trovão nas furnas, agoirento
Logo piedosamente, cada monge
Suspendia uma lâmpada à janela
E tangia a sineta para o coro…
E, no mar alto, o navegante, ao longe
Via um farol luzir em cada cela
E cada rocha a arder em sangue e ouro!"



