Fonseca, Tomás da - Livros Proibidos

From Wikipédia de Autores Algarvios
Jump to: navigation, search

TomasFonsecafoto.jpg Filha labão.jpg FonsecaTomasCartaAdiretorDaPenitenciaria.jpg

  • Tomás da Fonseca ( 1877-1968)
Poeta, escritor, historiador, jornalista, professor e militante republicano e anticlerical, pertenceu ao Movimento de Unidade Democrática (MUD) e à Maçonaria. Foi um intelectual de renome, um dos mais tenazes opositores ao regime salazarista, tendo estado várias vezes preso pela polícia política.
A perseguição a Tomás da Fonseca afastou-o das atividades docentes que ele desenvolvia no Conselho Superior de Instrução Pública, da direção da Escola Normal de Lisboa e de Coimbra e da Universidade Livre de Coimbra, que ele ajudou a fundar.
Na imagem seguinte mostramos um excerto da Carta de Tomás da Fonseca ao Diretor da Penitenciaria [de Coimbra], datada de 1918, onde os professores signatários [José Nunes Cordeiro, Cesar Anjo de Deus e] José Tomás da Fonseca, presos políticos, põem à disposição do diretor da Penitenciária os seus serviços profissionais de professores, a fim de poderem passar a dar aulas aos seus companheiros de cárcere analfabetos.
FonsecaTomasCartaAdiretorDaPenitenciariaexcerto.jpg[1]
  • Livro Proibido - Filha de Labão
Data de 1951, o livro  Filha de Labão, novela rústica (na modesta definição do autor), cuja acção decorre na segunda metade do século XIX. [É]uma aguarela pitoresca e poética de costumes e tipos humanos, onde a vida campesina palpita bucólica e rude, com suas virtudes, atavismos e vícios.
  • Excerto 1 - Lido por Gustavo Ralha, 12.º ano.
E o sentimento que ela punha em tudo o que da garganta lhe saía!
Foi a mulher do Julião a primeira que reparou nesse dom da pequena:
- É uma cotovia!
  • Excerto 2 - lido por Rita M., 12.º ano.
A Ciranda e o Verde Gaio não esqueciam nunca.
Debruçado sobre o fole, que alargava para em seguida o comprimir,
o Agostinho acelerava a dança, fazendo andar tudo numa verdadeira dobadoira.
  • Excerto 3 - Lido por Diogo A., 12.º ano.
O Abílio de Eirigo era dos mais assíduos; mas as raparigas não lhe tinham afeição, porque as beliscava, e à noite, na fonte, se lhes ajudava os cântaros, era na mira de partidinhas sem graça. Além disso, tinha a língua ponteira, só sabendo dizer coisas atrevidas ou feias.
Um dia, soltando uma das suas, foi expulso da roda.
- És uma besta – berrou-lhe o Vitorino. – Quem assim é, vai para a estrebaria.
- Vá ele mais a …
Galegada esta que lhe valeu dois bofetões, tão em cheio que nesse Verão não tornou mais a aparecer.
  • Excerto 4 - lido por António G., 12.º ano.
Quer chovesse ou nevasse, lá ia ela ceifar erva ou apanhar azeitona, até à hora de seguir para o monte com o gado, levando apenas na algibeira um bocado de broa e uma sardinha assada.
Valia-lhe o medronho, as amoras e o farnel das companheiras. Os gados quase sempre os juntavam, sobretudo no Estio, para melhor os guardarem das ínsuas e das vinhas. As outras pastoras, mais velhas, sentavam-se a falar de rapazes, a costurar ou fazer renda, e era a ela que mandavam aqueivar o rebanho ou correr às vessadas, para onde fugiam sempre as cabras ladras.
- Ó Maria! Não vejo a Ruiva. Deve andar já na ladroagem.
E a pobre a correr logo na direção do rio, à beira do qual verdejavam os milhos e os cordões de videiras subiam nas testadas.
  • Excerto 5 - Capítulo II - Na Cova da Onça.
Aos anos que isso foi!
Era no Outono, porque andavam na Lapa da Raposa a apanhar o medronho, quando ela desceu o Cabeço do Galo, embrulhadita num mandil.
Franzina, uns dez anos talvez, mas revelando já os traços finos e maneiras que em poucos anos fariam dela a moça esbelta e resoluta cuja memória seria sempre evocada com saudade. Contratara-a o Fusco para pastora do rebanho que possuía então: meio cento de cabras, bravias como feras.
Veio trazê-la uma velhota, sua avó, porque a mãe, doente havia meses, mal se arrastava da lareira para a porta da casa, onde fiava lã e dobava os novelos para a vizinha tecedeira que, por caridade, lhe dava ocupação.
Com o Fusco vivia a irmã Florinda – mulher barbuda e violenta que entre os vizinhos nunca foi estimada.
Por isso, quando a viram passar – saíta curta, blusa no fio e descalça -, todos tiveram pena.
- Onde ela foi cair!
Não se enganaram. Ainda a manhã estava em Celorico, e já os berros atroavam a casa.
- Salta fora, mostrengo. Não vales o que comes.
E, pela noite adiante, sempre naquela pregação.
- Quem te partisse uma cavaca na cabeça… Não serves para coisa nenhuma… És uma lesma…
  • Excerto 6 - Capítulo XX - A Cotovia Voltara Ao Ninho.
A casa onde nascera eram quatro paredes sem reboco, dentro das quais havia uma saleta, a cozinha e, à retaguarda, dois quartos iluminados por janelas de madeira.
Um como muitos das casebres da serra, hoje como há duzentos anos, despidos do mais elementar conforto.
À entrada da porta, o sobrado forma um semicírculo onde, sobre terra batida ou lajes de granito, se acende o lume, a panela ferve e o grilo canta.
As visitas sentam-se no escabelo de pinho, se o há, ou no rebordo do sobrado. No canto, o armário da louça – duas tábuas seguras na parede -, a pilheira para as maçarocas e o poial para o assado.
Às vezes aparece a cadeira de pinho, por pintar, a mesa do mesmo pau, onde se come, se joga a bisca, se passa a ferro ou se talha a blusa e objectos de confecção caseira, se há mulher ordenada.
Por trás da taipa, o mobiliário é igualmente escasso e primitivo. Dois bancos toscos sobre que assenta um rectângulo de madeira, que se enche de palha solta, quando falta a enxerga de estopa, duas mantas de farrapos, é o leito onde se dorme e os filhos nascem.
Na mesma divisão, a arca para o bragal e um ou outro tareco, de fabrico local.
O casebre onde vivia agora a Cotovia só tinha a mais que o das vizinhas o asseio.
  • Para saber mais

https://www.cm-mortagua.pt/autarquia/figuras-ilustres/tomas-da-fonseca


Logo25abril50anosleiturascensuradas.png

Wiki-nao-censurada-lapisazul.png

Voltar à Página Inicial da wiki 25 de Abril - 50 anos - Leituras em Liberdade