Gorki, Máximo - Livro Proibido

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Máximo Gorki Máximo Gorki foi um escritor, romancista, dramaturgo, contista e ativista político russo, nascido a 28 de Março de 1868 em Moscovo e faleceu com 68 anos em 1936.Gorki nasceu num meio social pobre, em Nijni Novgorod, cidade que em 1932 passou a se chamar Gorki (em homenagem ao próprio escritor) por ordem de Stalin. O nome da cidade foi revertido para o nome original em 1991. Órfão de pai foi criado pelo avô materno que era tintureiro. Em 1878 quando a sua mãe faleceu teve que deixar a casa do avô para ir trabalhar. Em 1902, escreve Pequenos Burgueses, peça teatral, a qual, segundo críticos atuais, se Gorki escrevesse hoje, não mudaria uma única palavra. A estreia de Pequenos Burgueses foi no Teatro de Arte de Moscou, e a peça obteve um grande sucesso, mesmo com os cortes impostos pela censura. O texto foi concebido em 1900, quando ainda se encontrava preso, e Gorki trabalhou algum tempo na peça, até que ela atingisse uma forma satisfatória


Excerto Livro "A Mãe"(pág.193)

- Ela chega amanhã! — observou a mãe, colocando o lenço pelos ombros. Sempre que lhe davam alguma missão, ela era fortemente invadida pelo desejo de a cumprir bem e depressa, e já não conseguia pensar em mais nada além da sua tarefa. E agora, baixando as sobrancelhas com ar preocupado, perguntou diligente: Como pensa vesti-lo? - Tanto faz! Ele sairá de noite... De noite é pior; há menos gente nas ruas, seguem-nos mais e ele não é muito hábil... Egor teve um riso rouco. - Pode-se ir ver-te ao hospital? — perguntou a mãe. Ele, tossindo, assentiu com a cabeça. Ludmila fitou o rosto da mãe com os seus olhos negros e propôs: — Quer velá-lo comigo, por turnos? Sim? Bem! E agora, vá depressa... Pegando no braço da mãe, com um gesto afetuoso mas autoritário, conduziu-a ao corredor e ali disse-lhe em voz baixa: — Não se ofenda por eu a mandar sair! Mas a ele faz-lhe mal falar... E eu tenho esperança... Apertou as mãos, os dedos estalaram-lhe, e as pálpebras desceram-lhe cansadamente sobre os olhos... Aquela explicação perturbou a mãe, que murmurou: — Que está você a dizer? Veja se não há por aí espiões! — disse a mulher em voz baixa. Levando as mãos à cara, ela friccionou as têmporas, os seus lábios tremeram e o rosto tornou-se mais doce. — Eu sei!... — respondeu-lhe a mãe, não sem uma ponta de orgulho. Ao sair a porta deteve-se por um momento, arranjou o lenço e lançou em redor um olhar dissimulado mas vigilante. Já conseguia distinguir, quase sem errar, os agentes da polícia entre a multidão da rua. Conhecia bem a acentuada despreocupação no andar, a desenvoltura afetada dos gestos, a expressão de cansaço e de aborrecimento no rosto, o pestanejar tímido e culpado dos seus olhos inquietos e desagradavelmente penetrantes. Desta vez não notou nenhum rosto conhecido e, sem pressa, caminhou pela rua...

Excerto Livro "A Mãe"(pág.12)

Duas semanas depois da morte do pal, a um domingo, Pável voltou para casa completamente bêbedo. Cambaleando, aproximou-se da mesa e, desferindo um murro sobre esta, como o pai fazia, gritou para a mãe: — O jantar! A mãe aproximou-se dele, sentou-se a seu lado e, abraçando-o, puxou para o peito a cabeça do filho. Ele, apoiando a mão no ombro dela, resistiu e gritou: — Vá, mãe, depressa! — És um tonto, tu! — disse a mãe com voz triste e terna, vencendo-lhe a resistência. — E vou começar a fumar! Dá-me o cachimbo do pai... - murmurou Pável, movendo com dificuldade a língua rebelde. Era a primeira vez que se embriagava. A vodca tinha-lhe enfraquecido o corpo, mas não lhe extinguira a consciência e na cabeça martelava-lhe a pergunta: «Estou bêbedo? Estou bêbedo?» As carícias da mãe confundiam-no e a tristeza dos olhos dela comoveu-o. Tinha vontade de chorar e, para dominar esse desejo, fingia-se mais bêbedo do que estava. A mãe afagava-lhe os cabelos emaranhados e suados, dizendo-lhe suavemente: — Não devias ter feito isso... Começou a sentir náuseas. Depois de um violento acesso de vómitos, a mãe deitou-o na cama, cobrindo-lhe a testa pálida com uma toalha húmida. Ficou um pouco aliviado, mas sentia tudo a andar à roda, as pálpebras pesavam-lhe e na boca tinha um gosto amargo e repugnante; olhava através das pestanas o rosto largo da mãe e pensava confusamente: «Pelos vistos ainda é cedo para mim. Os outros bebem e não lhes acontece nada... e a mim faz-me vómitos.» Como vinda de muito longe, chegava-lhe a voz da mãe: — Como vais tu sustentar-me, se começas a beber? Fechando os olhos com força, respondeu: — Todos bebem... A mãe suspirou profundamente. Ele tinha razão. Ela bem sabia que além da taberna os homens não tinham onde ir procurar um pouco de alegria.




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