Cabral, Alexandre - Livros Proibidos

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  • Alexandre Cabral (1917 - 1996)
Alexandre Cabral de seu verdadeiro nome José dos Santos Cabral, natural de Lisboa, formou-se em Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras de Lisboa. Teve um papel de relevo na formação da Sociedade Portuguesa de Escritores e colaborou em inúmeras publicações periódicas. Intelectual empenhado na luta pela democracia, foi militante do Partido Comunista Português desde muito jovem. Esteve preso três vezes, em 1952, 1963 e 1964, acusado de crimes contra a segurança do Estado, mas nunca foi julgado. 
  • Livro proibido - O Sol Nascerá um Dia
Este livro teve duas edições, em 1942 e em 1951, e segundo o autor ambas foram apreendidas e proibidas. A segunda edição saiu com desenho de capa do artista José Dias Coelho, que viria a ser assassinado em 1961 pela PIDE, numa rua de Alcântara. Já em 1936 o  periódico juvenil A Voz da Mocidade, de que Alexandre Cabral era diretor, foi extinto ao nono número, por ordem dos serviços de censura.
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- Bandido! A lei tem de ser inexorável. Mas porquê? Porque somos vadios! E porque é que somos vadios?… Além disso, lembra-te que a tua vida tem, a este respeito, muitos pontos de contacto com a minha – mas a verdade é que jamais conhecemos o benefício da lei ou daquilo que a representa, quando somos ou quando fomos bons. A lei ou essa coisa que vocês inventaram para nos trazer de rédea curta e para o vosso sossego lembra-se que existimos, precisamente no momento em que se lembra que pecamos.
Foi num dia de Natal. O Pai Noel, apesar do burgo ser pobríssimo, apareceu também por ali com o saco recheado. Ao Paulo, deixou-lhe uma meningite que o rapou em três dias. A mãe abria casas em coletes. Ganhava vinte e cinco tostões em cada peça. Tivera-o de um hóspede que abalara antes mesmo do parto. Ao filho da peixeira, o aleijadinho, dera-lhe pelas mãos paternas uma sova que o ia matando. À Maria, que estava grávida outra vez, Papá Noel trouxera-lhe a nova de que o homem fora despedido da Companhia por roubar uns canos de chumbo. Foi um autêntico bodo.
  • Excerto 3
“Desempregado!”
Que antagonismo entre estes dois aspetos da vida de um indivíduo: empregado – desempregado.
O empregado recebe ao fim do mês o ordenado, magro embora. Em contrapartida vê no prato da balança os dias preenchidos por essa obrigação. Levanta-se da cama, come apressadamente, mete ao caminho mais curto, pois vai já na hora do patrão. Pelo dia fora, se sai, leva os passos contados, do escritório ou da loja ao destino e volta.
E o desempregado?
Este, mãos nos bolsos, não tem assalariadas as pernas. Caminham ao acaso, em todos os sentidos, consoante o capricho do momento; não procuram as travessas que encurtam distâncias; metem-se, pelo contrário, às ruas longas que se afastam sempre do ponto de partida, no prazer de alargar a roda da caminhada, de tomar conta, o pobre diabo, de toda a cidade. Tem um dia inteiro ao seu dispor para essa conquista – um dia, um mês, um ano, quase toda a vida. O desempregado goza a liberdade, aspira a pulmões cheios o ar das manhãs, disfruta as sombras das tardinhas. Passa fome e não ganha salário.
  • Para saber mais:

Site Ruas com História


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