Penteado, Manuel

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Rua-manuel-penteado.jpg

Manuel Penteado

Faro - 1874/1911

Escritor. Cronista. Militar. Médico. Poeta. 
  • Excerto de "LEI-SAN" Drama original em 1 Acto (1941) de Manuel Penteado

(No jardim da casa do Lei-San.A um dos lados, perto dum formosíssimo salgueiro, um tanque com assentos de mármore. Ao F.,por entre sicômoros,laranjeiras e delicados bambus, avista-se a cidade.Pôr do sol)

ATO ÚNICO
Cena 1ª
Lei-San e Tai-Fo

Lei-San - (A rir,segurando o fio do seu papagaio do papel) Ih! vai mais alto que a torre do Templo do Céu! - Sobe...Sobe...
Tai-Fo - (Entra e vem,sem ela o pressentir,agarrar-lhe a cintura)
Lei-San - (Dando um gritinho e deixando fugir o papagaio) Assustaste-me! vês? deixei fugir o meu lindo papagaio..Olha,que alto vai!
Tai-Fo - Parece uma flor do pessegueiro a boiar no ar!
Lei-San - Era tão grande! - Adeus,adeus...Lá desaparece...
Tai-Fo - É como um sonho a sepultar-se nas nuvens...Ficaste triste?
Lei-San - (Num suspiro) Os corvos vão esfarrapá-lo!
Tai-Fo - Atrás de cada sonho há sempre um bando de corvos! Em ele indo alto, bem alto na curva do céu, tão alto que já nem se prenda à terra, vão os corvos numa revoada negra e despedaçam—no...
Lei-San - Então não devíamos sonhar?...
Tai-Fo - Que remédio!...A nossa vida é rastejante e feia como uma larva da terra. E o sonho transforma-nos o verme que somos numa linda borboleta d'asas palpitantes, lanceoladas, de matizes maravilhosos...
Pode ler o texto completo digitalizado no seguinte link: https://purl.pt/35533/1/html/index.html#/8-9

  • Notas Biográficas

FIGURAS DE FARO - MANUEL PENTEADO

Manuel Penteado (1874/1911) é natural de Faro. Foi escritor, militar e médico, tendo ocupado o lugar de tenente médico do quadro de Saúde do Ultramar e foi também cirurgião no Hospital de S. José em Lisboa.
Os seus biógrafos reconhecem nele um escritor talentoso e poeta de grande sensibilidade que, só pela sua natural modéstia e reserva não logrou maior aceitação junto do público.
Escreveu "Operações Cesarianas" e "Os Outros". As obras "Doentes","Livro Proibido" e "Póstumas" escreveu em colaboração com Fialho de Almeida, Henrique de Vasconcelos, Júlio Dantas, Júlio Bastos e José Abreu.
Em 1874 governava em Portugal D. Luís "o POPULAR" (1861/1889) mas pensamos que o Dr. Manuel Penteado terá vivido mais no reinado de D. Carlos (1889/ 1908).
O problema político que dominava o País nessa altura era a questão do"Ultimato" do governo britânico - entregue a 11 de Janeiro de 1890 por um "Memorando" - a Portugal, para a retirada das forças militares existentes no território compreendido entre as colónias de Moçambique e Angola, no actual Zimbabwé , a pretexto de um incidente ocorrido entre portugueses e Macololos.
- Pode ler o texto completo publicado por João Brito Sousa aqui:

  • Bibliografia:

- Operações cesarianas,
- Livro Proibido,(Profecias, Farças & Sandices), em colaboração com Henrique Vasconcelos; ilustrações de Celso Hermínio e Francisco Teixeira, Lisboa 1904.
- Doentes,(1897), em co-autoria com Júlio Dantas
- Os Outros
- As creanças Sociedade Futura, N.º 11, 15 de Outubro de 1902, Hygiene, p. 4
- Póstumas
- Foi cronista do Jornal do Comércio.
As obras Doentes,Livro Proibido e Póstumas Foram escritas em colaboração com Fialho de Almeida, Henrique de Vasconcelos, Júlio Dantas, Júlio Bastos e José Abreu.

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  • Os desconhecidos

Júlio Dantas
'(A Manuel Penteado)

Dois cadáveres — vede — aguardam o meu corte:
Um homem gigantesco e uma mulher perdida.
Dormem nus, sobre a pedra, unidos pela morte,
E talvez, sem se ver, passaram pela vida.

Ele, o morto, na seca e descarnada espalda
Tem nomes de mulher e várias tatuagens;
Treme de nojo o sol na sua pele jalda
E abrem-lhe a boca verde uns esgares selvagens.

De tórax d’esmeralda, asa tecida d’ouro,
Uma nervosa mosca, em passos indolentes,
Para entrar-lhe na boca aflora o buço louro
E começa a descer pela escada dos dentes.

Morto há dias, olhai que a rigidez se perde
E que o seu corpo está gelatinoso e elástico:
Suas costelas são como um teclado verde,
Digno das longas mãos dum pianista fantástico!

Ela morreu de parto: entre as airosas coxas
Que doira como um fruto uma lanugem pouca,
Um feto mostra ao sol as suas carnes roxas,
Ajoelhado, a rir, sem olhos e sem boca.

Tem rugas sobre o ventre, e lembra, cada ruga,
As que a pedra ao cair traça nos verdes pântanos:
Os seus cabelos são dum ruivo tartaruga,
O seu rictus perturba e o seu olhar espanta-nos.

Bate-lhe em cheio o sol, como losango d’ouro;
Tem no seio listrões de sangue que secou:
E pelo flanco enorme, e pelo púbis louro,
Lembra os ventres brutais que Van Miéris pintou.

Dir-se-ia que o morto a olha, — reparai,
E lhe espreita e deseja as carnes violadas;
D’aí, quem sabe lá se ele seria o pai
Daquele feto roxo a rir às gargalhadas!

In: https://www.jornalopcao.com.br/colunas-e-blogs/contraponto/julio-dantas-e-um-escritor-portugues-porte-de-eca-de-queiroz-e-alexandre-herculano-12936/


  • Veja mais sobre Manuel Penteado nos seguintes links:

https://marafado.wordpress.com/2009/02/28/manuel-penteado/ - Link onde se faz referência à existência de uma rua em Faro com o seu nome]

http://ric.slhi.pt/Sociedade_Futura/autor?id=aut_0000040502

https://pt.wikipedia.org/wiki/J%C3%BAlio_Dantas

https://dspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/4904/3/livro_FAlmeida%5B2%5D.pdf

https://www.uf-faro.pt/toponimia/ruas.pdf

http://bracosaoalto.blogspot.com/2007/12/figuras-d-efaro-dr-manuel-penteado.html

https://www.livrariaalfarrabista.com/?pesq=sim - "LIVRO PROHIBIDO (PROFECIAS, FARÇAS & SANDICES)Ano: 1904 1ª Edição Lisboa; Centro Typographico Colonial; Fialho d´Almeida, Abundio Gomes e Manuel Penteado escreveram, Celso Hermínio e Francisco Teixeira interpretaram."Vae o leitor assistir a um espectáculosinho em três actos complexo- tragédia, comédia de salão e uma revista política e de costumes- onde três escritores trataram de lhe resumir, em três figurações diferentes, o quantum d´anotação filosófica, optimismo ou agrura dos seus espíritos fasciados."

https://orientalistasdelinguaportuguesa.wordpress.com/antonio-joaquim-de-castro-feijo/ - "Embora o impacto de Cancioneiro chinês na literatura portuguesa não seja fácil de determinar, são vários os diálogos intertextuais que se detectam na viragem do século: Idyllios chinezes (1897), do poeta brasileiro Luís Guimarães, Filho (1876-1940); Lei-San – Phantasia dramatica em um acto (1903), de Manuel Penteado (1874-1911), peça representada no Teatro D. Amélia a 31 de Março de 1903; e Lin-Tchi-Fá. Poesias do Extremo Oriente (1925), obra única de Maria Tamagnini (1900-1933).

- Curiosidade sobre a vida de Manuel Penteado em Lisboa: À época, Lage habitava numa pensão, “uma curiosa toca de bons literatos e artistas, conhecida nas tertúlias pelo nome de “Ilha dos Kágados”, no largo de Camões, em Lisboa. Os seus hóspedes, e colegas de Lage, eram já figuras de relevo desse tempo: Manuel Penteado (1874-1911), militar, médico, escritor talentoso e poeta de grande sensibilidade, tendo escrito algumas obras de relevo, como Operações Cesarianas, e Livro Proibido, em parceria com Fialho de Almeida, Júlio Dantas e Henrique Vasconcelos,entre outros; Penteado colaborou ainda nos seguintes jornais: Diário Ilustrado, Diário da Manhã e Correio da Manhã;
O poema “A parábola do pucaro d’agua”, dedicado a Manuel Penteado, cuja identificação não é fácil de encontrar, inicia com uma citação do historiador francês Michelet, extraída de “O Povo” (facultada em versão portuguesa), que, como este título indica, sobrevaloriza a camada popular, no que à arte diz respeito, contrariamente ao que “Acreditaram os românticos”, visto que “o viver do povo encerra em si uma poesia sagrada.”, “na pequenez e na humildade”, relembrando-o as “sombras de Rembrandt”. Evocar Michelet para tratar de uma questão de “púcaro de água”, numa poesia, dá que pensar.

[https://archive.org/stream/fialhodealmeidai00barruoft/fialhodealmeidai00barruoft_djvu.txt - Referência à vida de Manuel Penteado em Lisboa, num episódio referido por Albino Forjaz de Sampaio sobre Fialho de Almeida, do qual transcrevemos o seguinte excerto :Foi pelo centenário da índia, durante as festas em Lisboa. Eram três da madrugada; tínhamos acabado de cear no Conde de Almada, êle, D. João da Câmara, Figueiredo «Pintorinhos», Oscar da Silva, Augusto Pina, Henrique Alves, Chaby Pinheiro, Teixeira Marques, Luís Galhardo, Manuel Penteado e este vosso muito criado e respeitador sincero.

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