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Os autores abaixo irão ter uma página individual na wiki:

Andrade, Reis de [D'Andrade]; Clara, António Santa; Colaço, Branca de Gonta (Parada de Gonta, 1880 - 1945);Conrado, Júlio(poeta e crítico literário olhanense); Correia, Carlos de Oliveira; Cruz, Aureliano do Carmo; Cunha, Paulo; Dias, Jacinto Palma; Duarte, Luís (Porto, 26/5/1954 - Reside no Algarve); Gonçalves, Eduardo Brazão (antigo aluno da EICF e do Liceu de Faro); Grade, Fernando (Estoril, 1/4/1943); Pedro, Francisco Basílio Santos; Pereira, Ezequiel (Professor na Escola Pedro Nunes - Séculos XIX e XX); Pinto,  Pires, Narciso Alves (Lisboa, 25/11/1928 - Reside em Lagos); Quaresma, José Alberto (Portimão, 3/9/1949); Miranda, Armando de (Portimão, 1904 - 1971?); Murta, Fátima (Estoi, Faro, 22/6/1958);Nero (Roberto Simões),Silves,22/9/87; Ramos, Tomás (Mestre Canteiro. Foi Aluno da Escola Pedro Nunes); (Manuel José) Sabino; Sancho, J. Dias ;Sarre, Inês (Pseudónimo literário de Selma Pousão Lopes - Olhão, 20/4/1934);  Vairinhos, Joaquim;  Vargues, Rosinda Maria Pereira António de Mendonça; Ventura, António (Mar del Plata, Argentina, 7/1/1952 - Reside no Algarve desde muito novo); ...

Deles, ficam para já alguns textos:

Colaço, Branca de Gonta
(Nasceu em Parada de Gonta, em 1880. Faleceu em 1945)

  • O seu Algarve

(Nas Homenagens à memória de João Lúcio)

Alto subiu, nas asas do talento;
foi grande e celebrado.
Mas o seu monumento
levantou-o com o próprio sentimento;
— que só quem ama pode ser amado!...

(A Nossa Terra, Maio de 1931)
(Colaboração escrita em 1921 expressamente para um número especial de «A Nossa Terra» de homenagem a João Lúcio, que se não chegou a publicar).


Miranda, Armando de
(Nasceu em Portimão, em 1904. Desconheço a data do falecimento)

  • Miragens

Ah! Como a Vida parecia bela!
Barquinho esbelto, como de cartão,
Deslizando, ao sabor da viração
Num lago azul e calmo, de aguarela!

Pelas margens corria, paralela,
Fragrante multicor vegetação.
No ar, dormente, errava uma canção...
E a Esperança me impelia a vela!

Mas o lago, traiçoeiro, encapelou-se,
O meu barquinho, frágil, afundou-se,
E eu, náufrago, abraçado a uma tábua.

Gasto a vida a lutar, ingloriamente,
Pr'a resistir à força da corrente,
Pr'a conservar-se à superfície d'água.

(Almanaque do Algarve, 2° Ano, 1943)


Pires, Narciso Alves
(Nasceu em Lisboa, a 25 de Novembro de 1928. Reside em Lagos)

  • Sagres

Nesta ponta do mundo onde hoje mora
A saudade sem fim das caravelas
O mar é um amante que ainda chora
Os barcos que seguiram as estrelas!

  • O Mar

Se sobre o mar, longe no mar
Cada passagem de cada barco
Marcasse o rumo, deixasse um sulco
Que nunca mais se esvanecesse

O mar seria um Universo
E cada gota teria um nome
E cada onda seria um mundo
Em que o passado talvez vivesse!

(Para Além do Adeus, 2003)

Sarre, Inês (Pseudónimo literário de Selma Pousão Lopes.
Nasceu em Olhão, aos 20 de Abril de 1934)

  • Tempo de Culpados

Também tu, vento, tu: Frei Agostinho, lacerado,
Escalando: esta: Arrábida, escabrosa, queres: parte:
Deste tempo rasgado de culpados?

Também: meus pensamentos: se: enlearam:
Calceta: na gaveta: de cetim:
Malteses, violentos e feirantes
Nesta tarde de touros de insolência.

Na berma: desta: estrada: escavada: desigual,
É naufrágio: de espuma: o vendaval.
Debaixo dos beirais, sofre-se: menos:
E a chuva: crisma: os sonhos: por iguais:

Passinhos de xadrez: renda chilena:
Ternura e chuvisco: na : vidraça:
Querido fantasma, que: tropeças: trespassa:
O século: chora. Carlota já não vem:
À noite, ver: se: enquanto dorme

Se ouve o rojo do pobre pela praça:
Se o marítimo passa: cinco: velho: da madrugada,
Assobiando morraça de sonhos para o mar:
Se: a badalada da: meia-noite: dança
Outra vez, nua: pela rua, no calor: o luar:

Ou: se: o chilreio, o trilho e até a gargalhada,
Límpida, da ria: lençol de espuma e junco
Já: abriram: dobra, bordada de algas:
A cama prateada da aurora.

Dialéticas razões do Paraíso:
Pássaros já de mil cores: na fantasia:
Vestido de alma, retalhado: em cifras:
Poalha: escrita: em vão: a que chama Poesia:
Que a noite: editora implacável: a borracha na mão:

Vai: apagando: em: silêncio. Nela: perdi:
Os segredos que a praia me ensinava
Nas marés inocentes da manhã: um gosto:

De: brincar? E me tornei, também, neste jogo: de : azar:
Meu pensamento: almogavar: traidor: fronteiro:
Fazendo munição para os seus tanques
Dessa pólvora: longínqua: da pureza.

Parecer ser e não ser é quase nada,
Na infinda invenção de sempre ser.
E volto velha de: uma guerra: incólume:
As rugas são crateras de pasmar.

(Revista Literária SOL XXI, Dezembro de 1992)

Grade, Fernando
(Nasceu no Estoril, a 1 de Abril de 1943)

  • Variantes de cão e serra, praia pouca

Ouço o vento a passar bufando com manhas de suão,
traz ovos de pantera que toda a natureza tem.
Sete focinhos medem-se por sete beijos de cão
- facas, pedras e flechas bailam entre a madrasta e a mãe.

Ouço o vento a rugir a caminho dos ciprestes
e dos olhos de cão que toda a beleza sofre.
Matei em mim o cínico saber de dez mestres,
e o único que sigo tem narinas de enxofre.

Ouço o vento canino com raiva de treze serpentes,
vem mansinho bater à minha porta de vagabundo,
e saltam-me da boca em vendaval os próprios dentes.

Vejo reses do mar que o vento arrasta pró fundo,
ouço o vento a rasgar a carne a peixes cruéis
- e abro os dedos em chamas pra deitar fogo às leis.

Ilha da Armona, 3 de Setembro de 1989

(A Minha Pátria É O Sábado, 1989)

Quaresma, José Alberto
(Nasceu em Portimão, aos 3 de Setembro de 1949)

  • XXVII

Ainda que a terra esteja serena e morna, a areia sob o vértice da falésia fulva de sol e os corpos inertes a ele entregues em amplexos estáticos. O mar ali imenso e discreto a cingir-se além mais vestígio ao céu.
Ainda que os páramos do sonho, onde a felicidade é tangível, não vagueiem longe desta plácida antiquíssima harmonia, haverá alguém, um único ser, que não pode estar. Nem partir.

  • XXX

É pela noite que os sonhos ficam mais perto da luz, que a luz fica mais perto da voz e que o corpo passa além da angústia do primeiro encontro.
Vai surgindo um oceano intáctil onde as palavras adormecem antes dos sorrisos povoarem o escuro êxtase da morte.

(A Pose Extática, 1990)


Duarte, Luís
(Nasceu no Porto, a 26 de Maio de 1954. Reside no Algarve)

  • Fado Nómada

Deixei-te pra trás cidade;
Não sei quando voltarei
Mas de ti levo a saudade
Com que sobreviverei.

Não sei é defeito ou sina
Este constante vaivém...
Meu coração nunca atina
Naquilo em que se detém.

Quando está longe de ti,
A teu seio quer voltar;
Mas logo que vai aí,
Sente a falta doutro mar.

De nostalgias sou feito.
Algum deus mo augurou!
Faço caminhos a eito,
Buscando-me onde não estou.


  • Viagem Breve

Nos braços do vento frio,
Entro na minha cidade;
Ao fundo desliza o rio
E no horizonte um navio,
Em memórias sem idade.

Levo os silêncios herdados:
No peito o bramir do mar,
Nos lábios versos alados,
Corpos nas mãos desenhados
E neblinas no olhar

  • Evasão


Suave luz acobreada
Lembra na praia deserta
A minha infância deitada...

Retiro-me de alma incerta,
Não vá o mar despertá-la.

(Quase Silêncios - Regressos.1999-2002, inédito)

Murta, Fátima
(Nasceu em Estoi, Faro, a 22 de Junho de 1958)

  • A minha Rua

A minha rua
tem um fado singular
um jeito de me falar
que nem a própria lua
à noite sabe dizer
o que a minha rua
me conta ao adormecer.

Saudades vividas
esperanças contidas
o medo na algibeira
a alegria na bagagem
e sempre esta viagem
pla noite sorrateira.

A minha rua
tem um toque singular
um jeito de me tocar
por cada pedra fria e nua
que nem eu sei dizer
tudo o que a minha rua
me mostra ao entardecer.



Clara, António Santa

  • Excerto 1 de Incidente de Repartição. 1959.

Naquela manhã aconteceu uma coisa estúpida, sem pés nem cabeça... Um dos colegas de Rogério — o Peres — perguntou qual seria o modo mais prático de riscar uma circunferência no terreno do seu quintal, pois desejava fazer um canteiro com aquela forma. Raposo e Apolínárío, que ouviram a pergunta, sorriram. E Rogério explicou:
—É muito simples : crava-se uma estaca no chão, ata-se-lhe a ponta de um cordel e depois, com o cordel esticado, anda-se com a outra ponta à roda.
Peres não percebeu. Rogério procurou exemplificar, servindo-se de um lápis e um pedaço de fio.
—Como vê é muito simples. Se fosse uma elipse era mais complicado.
Raposo e Apolinárío continuavam sorrindo.
Peres olhou-os de soslaio e em seguida fixou o colega que lhe dava a explicação ; Rogério mantinha-se calmo e sério. Passado um momento, perguntou :
—E tem a certeza que sai uma circunferência ?
—Sim, homem! Sai uma circunferência.

  • Excerto 2 de Incidente de Repartição. 1959, pág. 17.

A caminho de casa, meditava no que sucedera nessa manhã. Sentia-se tranquilo. A acusação que lhe dirigiam era um disparate que a ninguém passaria despercebido.
Na verdade, uma cena daquelas daria bem vontade de rir, pelo seu lado cómico, se não revelasse também quanto a ignorância e a estupidez podem tornar precária a acção da justiça. E este era, sem dúvida, o lado triste e lamentável da história.
Rogério estava ansioso por chegar a casa e contar a Bárbara o que se tinha passado. Ela havia de rir... E quem sabe ?... Talvez não... Talvez não fosse capaz de entender aquilo... Na verdade, como seria possível dar aquela história um fundamento que a tornasse inteligível ?! Bárbara era uma rapariga simples que passava os dias ocupada com os cuidados da casa, totalmente alheia aos assuntos da Repartição. Não dispunha de muito tempo para se dar ao luxo de meditar na justiça das ações humanas.
Viviam numa casa térrea dos arredores da cidade, cultivavam um quintal e possuíam uma dúzia de galinhas e um cão rafeiro, de pelo castanho, — o Janota. Sempre activa, Bárbara olhava pela economia doméstica e pelo arranjo da casa — modesta mas asseada e confortável tanto quanto lhes era possível conseguir. O pequeno ordenado de Rogério não lhes permitia pagar e sustentar uma criada ; ainda assim ela fazia milagres de economia com os ovos das galinhas e vendendo uma vez por outra, alguma peça. de renda de bilros —arte que lhe tinham ensinado na sua aldeia do litoral.

  • Excerto 3 de Incidente de Repartição. 1959, pág. 59.

Na Repartição a vida decorria na rotina normal. Chefe Turíbio ocupava, na respectiva sala, a cadeira que servia a sua secretária.
E esta secretária era, naquele conjunto de mesas de trabalho, a maior e mais luxuosa, pormenor que dava a todo o pessoal presente a consciência de que Turíbio era realmente o chefe. É, sabido que a hierarquia necessita de se anunciar e impor por formas exteriores, adornos e atributos visíveis —única ma¬eira de não se ser induzido em erro na avaliação dos diferentes lugares da escala. Assim, Turíbio impunha-se à admiração e respeito dos seus subordinados pelas dimensões da sua secretária. Sobre aquela mesa apareciam objectos inúteis que se destinavam a ornamentá-la: o grande tinteiro de casquinha de prata, sem tinta, um porta-canetas imponente, sem canetas, e uma série de pequenas bugigangas de mau gosto. Por sua vez esta mesa de chefe Turíbio não era tão notável como a do senhor Diretor, no respetivo gabinete que ocupava uma sala contígua.