Difference between revisions of "Gomes, Elviro Rocha"

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Elviro Augusto da Rocha Gomes. Professor. Escritor. Faro.
 
Elviro Augusto da Rocha Gomes. Professor. Escritor. Faro.
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http://elvirismos.blogspot.com/
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Este é um blogue em memória do meu pai, Elviro Augusto Rocha Gomes, poeta e escritor. Aqueles que quiserem adicionar poemas ou excertos de textos da autoria do meu pai, serão bem vindos. Muitos são versos cómicos, com uma inocência e candura que espelham a personalidade única do autor, que adorava “entreter”. Mas também há os poemas sentidos, que nos fazem sonhar e os poemas críticos às injustiças do mundo que nos fazem pensar.
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Poeta e ensaísta. Licenciado em Filologia Germânica pela Universidade de Coimbra, foi professor em Coimbra, no Liceu Camões, em Lisboa, e nos liceus do Funchal, Viana do Castelo e Faro, onde finalmente se fixou.Estreou-se aos quatorze anos como poeta no «Pim-Pam-Pum» (suplemento inantil do jornal O Século, tendo também colaborado no Tic-Tac (que se publicou entre 1930 e 1937), O Gaiato: semanário infantil, dirigido por Alice Ogando, Civilização, dirigido por Ferreira de Castro e Campos Monteiro, Notícias Ilustrado e Folha de Vila Verde. Mais tarde passou a colaborar em vários jornais e revistas, como: Labor, Correio do Sul, Algarve, Gazeta do Sul, Aurora do Lima, Vértice, Diário de Lisboa, Diário Ilustrado, Voz da Madeira, República, O Primeiro de Janeiro (página de «Artes e Letras») e Anais do Município de Faro.É autor de um Glossário sucinto para melhor compreensão de Aquilino Ribeiro, e traduziu Um Íntimo Furor, de Kamala Markandala (1958), e alguns ensaios de língua alemã.Foi director do Círculo Cultural do Algarve, sucedendo a Joaquim Magalhães (seu fundador), onde proferiu inúmeras conferências. Em 1990 foi-lhe atribuída a Medalha de Mérito, Grau Ouro, pelo Município de Faro, pelos serviços prestados nas áreas da educação e da cultura.
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Sábado, 7 de Agosto de 2021
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PARA UM ROTEIRO LITERÁRIO DE CONSTÂNCIA
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O Zé Luz dá-nos uma preciosa evocação do dr.Elviro, um literato da velha Punhete, que marcou o ensino liceal e as nossas Letras e que os caciques analfabetos olvidaram...... 
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Mostra a tua língua, 1988, Elviro da Rocha Gomes.
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Para um Roteiro literário de Constância
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Elviro da Rocha Gomes, ilustre constanciense, poeta, escritor, tradutor e publicista, é reconhecido como responsável pela divulgação no nosso país de poetas de língua alemã. Depois da nossa crónica sobre outro poeta de renome da mesma vila, Tomaz Vieira da Cruz, com honras na enciclopédia britânica, destaque para um outro literato, Elviro, filho e neto das nossas gentes, autor de diferentes géneros literários.
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Elviro Augusto da Rocha Gomes nasceu em Constância em 28 de Outubro de1918 e faleceu em Agosto de 2009. Era filho de Isidoro da Silva Gomes (escritor e autor de «Ímpetos Naturais» sobre Constância) e de Georgina Rocha, filha do marítimo João Rocha, a qual terá falecido aos 36 anos de idade, em Macedo de Cavaleiros.
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Dedicatória do escritor para o autor da presente crónica, em Setembro de 1989.
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O autor licenciou-se em filologia germânica pela Universidade de Coimbra. Foi professor do Liceu em Lisboa, Coimbra, Funchal (para onde foi «desterrado» segundo alguns), Viana do Castelo e Faro (cidade onde se dedicou apenas à literatura).
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Poesia, Ilusões, 1988, por Elviro da Rocha Gomes.
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Elviro Gomes foi poeta, escritor, tradutor e publicista, tendo sido  responsável pela divulgação no nosso país de poetas de língua alemã. Foi Director do Círculo Cultural do Algarve e dinamizador de ciclos de conferências que marcaram a vida cultural da região na primeira metade do século XX. Escreveu para jornais e revistas, realçando-se: “Diário do Norte”, “Aurora do Lima”, “Gazeta do Sul”, “Algarve Ilustrado” e “O Algarve”, entre outros.  Segundo o Jornal «Região Sul, que vimos seguindo de perto, Elviro Gomes marcou, «pela sua forma diferente de ensinar, gerações de alunos que passaram pelo Liceu de Faro».  Em 1990, foi-lhe mesmo atribuída a Medalha de Mérito, Grau Ouro, pelo Município, «pelos serviços relevantes nas áreas da educação e da cultura».  De acordo com o mesmo  órgão de imprensa, «Elviro  publicou dezenas de obras de poesia, boa parte com ilustrações de capa de Vicente de Brito e de José Maria Oliveira, sempre em edições de autor, que pontualmente oferecia a amigos, com a devida dedicatória".
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O literato Elviro da Rocha Gomes
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No período de 1953 a 1969 terá beneficiado de uma bolsa de estudos no estrangeiro, através do Instituto de Alta Cultura.
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Seguindo de perto a informação biográfico-literária do próprio autor (que procurei actualizar) com quem tive o prazer de trocar correspondência, podemos assim inventariar:
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Com efeito,  Elviro Gones é autor de vários livros, tendo cultivado os seguintes géneros:
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Ensaio - «A alma nos grandes romances de Hermann Stehr, (1943).Albert Scheweizer (1957), O que eles disseram de Portugal, (1960), Vulpes Fabulosa (1960), Astros com luz própria (1961), Goethe (1962), A rosa na poesia (1962), Aves poéticas (1963), Apontamentos de literatura alemã (1966), Dificuldade de pensamento (1968), Impressões sobre poetas (1972), A ilha de Man (1973), Luz e lume na obra de Teixeira Gomes (1980), Hitler (1981), O riso de Fialho d’Almeida (1981), A crítica social na obra de Assis Esperança (1981, Enredando enredos (1982).
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Poesia – Deixaste cair uma rosa (1955), Rua Longa (1956), José (1958), O longe e o perto (1960), O sul do meu país (1960), Helen Keller (1961), Entre parêntesis (1961), Bom tom (1963), Desenhos de alma (1964), Aceitar (1965), Sorridente (1968), Com licença (1969), O dia do pai (1969), A bruxa (1973), 25 de Abril (1974). Entender (1987). Ilusão (1988). Tréguas (2000).
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Ficção em prosa – Libelinha (1962), Nem sempre (1967), Nel (1971).
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Teatro – Crueldade (1959), Leopoldo Salvaterra (1959).
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Estudos linguísticos – Glossário sucinto para compreender Emiliano da Costa (1956), Glossário sucinto para compreender Aquilino Ribeiro (s.d.), Como falam os alemães (1974), Mostra a língua (1982).
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Traduções – Em Prosa: Educação e ensino nas escolas secundárias alemães (1943), A aranha negra, de Jeremias Gotthelf (s.d.), Um íntimo furor, de Kamala Markandaya (s.d.); em verso_ Ramo de flores exóticas (1959), Poetas que a guerra emudeceu (1964).
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Inéditos – Henrique Verde (romance de Gottfried Keller (tradução), O jardim  sem estações do ano (contos orientais de Max Dauthendey, (tradução), O candeeiro (Comédia).
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No período de 1953 a 1969 terá beneficiado de uma bolsa de estudos no estrangeiro, através do Instituto de Alta Cultura.
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Glossário sucinto para uma  melhor compreensão de Aquilino Ribeiro, por Elviro da Rocha Gomes, (s.d.).
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O meu interesse pela obra de Elviro Gomes surgiu a propósito de uma visita que fiz nos anos 80 (entre muitas) a uma saudosa amiga, Liberdade da Pátria Livre, amiga do autor e por acaso, afilhada da Republicano Bernardino Machado. A Dona Liberdade era uma mulher de esquerda, seguidora de Maria Lamas. Não estranhei a amizade com Elviro, ele próprio considerado como «homem de esquerda» por discípulos seus.
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Foto em que surge ao centro e em grande plano, o professor Elviro da Rocha Gomes, retirada do blog de um dos seus filhos.
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Da dona Liberdade recebi um poema de Elviro, em homenagem à Mónica Canhoto de Constância, publicado em "O Século", na rubrica "Pim, pam pum'".
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Cá vai:
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«Octopa, octopa!
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Mónica canhoto,
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mulher prazenteira,
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era já velhinha
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mãe trabalhadeira.
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Sendo testemunha,
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segundo se diz
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lá no tribunal
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disse-lhe o juiz:
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-Em que é que se ocupa
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Diga lá, mulher!
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E então prontamente
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pôs-se a responder:
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-Ai, octopa octopa!
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Que ofício esquisito!
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(lhe diz o juiz)
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Deve ser bonito!
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Quê? Octopa? Octopa?
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Em que é que trabalha?
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Vai ela, explicou:
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-Ó que topa! Ó calha.»
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Elviro Gomes é considerado como um dos vultos incontornáveis da cultura farense.  Tal reconhecimento levou à criação em 2019, pela  União das Freguesias de Faro (Sé e São Pedro), Concurso Literário da União das Freguesia de Faro – “Elviro da Rocha Gomes”.  O objetivo é, cita-se,  «incentivar a criatividade e a produção literária em poesia e prosa, contribuindo-se assim para a defesa e enriquecimento da Língua Portuguesa e também para homenagear o poeta, professor e escritor Elviro da Rocha Gomes».
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Jaime Gomes, filho do literato, tem procurado recolher e divulgar através do seu blog,  a obra do pai. «Muitos são versos cómicos, com uma inocência e candura que espelham a personalidade única do autor, que adorava “entreter”. Mas também há os poemas sentidos, que nos fazem sonhar e os poemas críticos às injustiças do mundo que nos fazem pensar».
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Exemplo desses versos cómicos? João Villaret  leu na TV o poema «Vou de coche», de Elviro, que repesquei do blog de um seu sobrinho. Mas também há os poemas críticos que não perdem a sua actualidade…
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«Os enganadores»
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Agora os que nos mentem
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e dizem que não mentem
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os do conto do vigário,
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os de lindas falas que induzem em erro
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e os oráculos de Delfos
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que eram vozes de pessoas escondidas:
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a esses o desprezo.
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Digam todos comigo:
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Abaixo a exploração da boa fé!»
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José Luz (Constância)
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PS – não uso o dito AOLP. Na presente crónica procuro apenas compilar dados existentes  e disponíveis.
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http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/EFEMERIDES/PonteSobreoTejo/Imprensa/OAlgarve_21Ago1966.pdf
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Octopa
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Posted on 29 Maio, 2013 13:57 by ateneulivros Comment
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Octopa
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Octopa «€15.00»
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Elviro Rocha Gomes – Octopa – Edição de Autor – Faro – 1983. Desc. 85 pág / 21 cm x 15 cm / Br. – Edição 500 exemplares – «Com Autografo»
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https://ateneulivros.com/?p=13549
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(1918- 2009) O Professor Elviro Augusto da Rocha Gomes, natural de Constância, foi licenciado em Germânicas pela Universidade de Coimbra, onde leccionou, tendo posteriormente passado por liceus de Lisboa, Funchal e Viana do Castelo, vindo a fixar-se em Faro, onde desenvolveu grande parte da sua actividade de professor. Elviro Rocha Gomes foi poeta, escritor, tradutor e publicista, sendo responsável pela divulgação em Portugal de poetas de Língua alemã. Foi Director do Círculo Cultural do Algarve e responsável por um sem número de conferências que marcaram a vida cultural do Algarve em meados do século passado, tendo escrito para jornais e revistas, com destaque para “Diário do Norte”, “Aurora do Lima”, “Gazeta do Sul”, “Algarve Ilustrado” e “O Algarve”, entre outros. Elviro da Rocha Gomes marcou, pela sua forma diferente de ensinar, gerações de alunos que passaram pelo Liceu de Faro, tendo-lhe sido atribuída a Medalha de Mérito, Grau Ouro, pelo Município, em 1990, pelos serviços relevantes nas áreas da educação e da cultura. Publicou dezenas de obras de poesia, boa parte com ilustrações de capa de Vicente de Brito e de José Maria Oliveira, sempre em edições de autor, que pontualmente oferecia a amigos, com a devida dedicatória.
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https://imagenscompoemas.blogspot.com/2010/
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Ovelha tosquiada
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Tosquiaram a ovelha.
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Parece uma velha.
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Tão lisa e tão fria
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parece uma rã.
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Umas mãos hábeis
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roubaram-lhe o garbo
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tirando-lhe a lã.
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Assim ficou nua
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no meio do prado.
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Anda vaidade
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passeando na rua
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com lã que era sua.
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E ela anda nua.
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Elviro Rocha Gomes
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(poeta popular - Faro)
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Garça Real
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Ó garça que agora moras
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Na mesma casa que eu
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onde estou eu também tu
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consideras tudo teu
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Ó garça que voas alto
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e entre as nuvens perpassas
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lá em cima é só passeio
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ou alguma coisa caças?
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Ó garça que me acompanhas
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em horas de solidão
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és tão meiga como um gato
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e tão fial como um cão
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Só tens um grande defeito
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ás muito desconfiada
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quando vem alguém a casa
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ficas logo desconfiada
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Ó garça não tenhas medo
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que ninguém te fará mal
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desejam é fazer festas
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à minha garça real
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por agora aqui termino
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este meu canto corrido
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E mais não digo p´ra que ele
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não seja muito comprido.
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Elviro Rocha Gomes
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Poeta popular
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http://absorto.blogspot.com/2019/01/auschwitz.html
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A 27 de janeiro de 1945 as tropas soviéticas chegaram ao campo de concentração de Auschwit e libertaram os sobreviventes.
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Tenho em casa uma brochura do meu velho professor de liceu Elviro Rocha Gomes, intitulada “Hitler – Quem foi e como chegou ao poder”, um libelo acusatório implacável do nazismo e do seu chefe.
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Essa brochura abre com os números do holocausto. Entre muitos outros: “250 mil ou talvez perto de 300 mil (mortos) só em 1944, em Auschwitz; 8 milhões de mártires, ao todo, em todos os campos de concentração.”
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Para que conste neste triste aniversário.
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Publicada por Eduardo Graça à(s) 10:00 
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http://joaonaylor.blogspot.com/2010/02/o-meu-avo-elviro.html
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O meu avô Elviro
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ELVIRO AUGUSTO ROCHA GOMES
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(1918-2009)
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O meu avô sempre foi um homem muito rico. O seu património era sobretudo o seu conhecimento, a sua cultura, a sua voz, a sua criatividade, o seu carisma, o seu interesse pelo próximo, as suas preocupações humanísticas, e por aí fora. Falar portanto sobre o meu avô é uma tarefa longa. Foi uma pessoa que marcou pela sua actividade como professor, escritor, tradutor e outros desempenhos na esfera cultural. Sei que causava uma impressão muito forte nas pessoas que se cruzavam com ele. Na Alemanha deram-lhe o epítome “Das unique”, ou seja “o único”. Além disto era o meu avô e é nessa qualidade que aqui o lembro.
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Lembro-me de quando o meu avô ia visitar-me a Lisboa, na minha infância, da sua presença carismática. Uma vez, eu teria para aí uns seis anos, fomos a uma loja de roupa, deparando-nos com uma senhora visivelmente triste atrás do balcão, e enquanto eu via as roupas o meu avô foi conversando com a senhora, despoletando-lhe o riso. Provavelmente ofereceu-lhe também um dos livros que tinha sempre na sua mala a tiracolo. Depois de nos decidirmos quanto às roupas, um kispo e umas calças, a senhora insistiu em não cobrar nada, apesar do meu avô, cordialmente insistir em pagar. Ainda me lembro de a senhora, sensibilizada, afirmar que só uma pessoa como o meu avô para tê-la feito rir naquele momento!
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Dávamos bons e grandes passeios a pé, dizíamos que íamos ver as grutas, e lá íamos nós confundindo pequenas clareiras em terrenos abandonados, ou hiatos em arbustos, com grutas. Jogávamos o jogo de descobrir o que um de nós estaria a ver, uma frase num cartaz, um sinal de trânsito, uma porta peculiar ou qualquer outra coisa que nós julgássemos difícil de o outro descobrir inserida no cenário dos nossos passeios. Conversávamos muito, o meu avô contava-me curiosidades históricas que eu apesar da idade ouvia atentamente graças á grande capacidade comunicativa do meu avô.
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Tinha sempre um bloco de notas onde escrevia de imediato quando um poema ou uma ideia lhe ocorria, o que sucedia com muita frequência. Também gostava de desenhar com o que tinha á mão, esferográfica ou lápis. Desenhava caras, e as paisagens dos sítios por onde passava, a vista do apartamento onde eu vivia, a vista num jardim, ou numa esplanada de um café, etc.
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Conversava abertamente com estranhos com quem se cruzava, e tinha um magnetismo que tornava gestos normalmente prosaicos e banais em momentos únicos repletos de humor como por exemplo comprar um bilhete de comboio, pedir uma informação, ser atendido num café ou num restaurante, etc.
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Era sempre com enorme expectativa que eu aguardava as suas visitas e o privilégio de ouvir a sua voz grave e eloquente. Sabia agradar o neto, e íamos sempre comprar uma prenda ou mais. Quando estava em Faro e eu em Lisboa o meu avô enviava-me assiduamente postais em que descrevia episódios humoristicamente através de desenhos onde ele aparecia com o escasso cabelo desgrenhado e óculos contracenando comigo de calções e pernas tipo caniços.
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Todas as suas atitudes comigo eram pedagógicas, sempre me disse: “não deixes para amanhã aquilo que podes fazer hoje”. Instigava-me a desenhar ou a fazer composições, obras essas que me pagava sempre em dinheiro, guardando-as religiosamente numa gaveta. Um dia surpreendeu-me com uma carta que mencionava um prémio de desenho que eu tinha ganho, pois, sem me ter dito nada, o meu avô tinha enviado alguns desenhos meus para um concurso.
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Depois de os meus pais se terem divorciado vivi com o meu avô e a minha mãe na casa dele. Nessa altura eu queria uma mesa de snooker ao que o meu avô sugeriu que a construísse. Fiz duas tentativas com materiais diversos, madeira, cortiça, uma mesa velha e após tê-la terminado o meu avô comprou-me um taco mas colocou-se o problema de arranjarmos umas bolas adequadas, e, depois de tentarmos jogar frustemente com bolas de ping-pong fomos á procura duma loja que vendesse bolas de golfe. Foi uma busca diligente, viajámos de comboio, andámos kilometros a pé, percorremos estradas difíceis até finalmente chegarmos à loja de que nos tinham informado nas nossas indagações. O meu avô determinado não tinha deixado esmorecer o meu pequeno sonho.
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Em casa, foi no Jardim cheio de história, construído com carinho pelo meu avô, denominado Jardim da Concórdia que passámos algumas das nossas melhores convivências. Anos mais tarde, depois de ter voltado para Lisboa e novamente voltado a morar com o meu Avô, por volta dos meus 17 anos, foi no Jardim da Concórdia que esculpi o busto do meu avô em barro.
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Nessa altura apesar da idade do meu avô rondar os 80 anos ele mantinha a mesma vitalidade com que sempre o conheci. Lembro-me de o ver empoleirar-se num muro estreito do Jardim para apanhar umas nêsperas. Continuávamos a fazer grandes caminhadas, por uma ou duas vezes fomos a pé de Faro até à praia de Faro, que presumo serem sensivelmente 8 Km, e voltámos a pé.
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Mais tarde ainda, quando eu já tinha a minha mulher o meu avô passou a ser a nossa companhia predilecta, contagiando-nos com a sua presença e o seu bom humor, nas jantaradas ou almoçaradas para as quais ele frequentemente nos convidava.
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Octogenário, era ainda um homem extremamente activo. A demonstrá-lo refiro por exemplo que se surgisse nas nossas conversas alguma dúvida sobre o significado exacto de uma palavra, ou qual a palavra mais apropriada para determinado contexto, o meu avô sem meias medidas ia imediatamente consultar a sua biblioteca. Era comum vê-lo de madrugada agarrado a um livro, a fazer um tradução ou a escrever poesia. Poemas que mos lia, amiúde, com grandes qualidades de actor. Quando hoje leio os seus poemas parece que quase ouço a sua voz, grave, eloquente e vivaz.
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Parecia imortal mas veio a doença, no entanto, apesar do seu sofrimento, nunca quis de maneira nenhuma preocupar os outros e mostrou uma dignidade enormíssima. Nas primeiras vezes em que foi parar ao hospital em risco de vida, depois de ter ultrapassado os momentos mais críticos, continuava a fazer rir quem o rodeava.
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Ainda houve duas vezes em que o meu avô me surpreendeu no meu local de trabalho dessa altura, tendo se deslocado a pé, uma distância considerável para irmos comer uns caracóis.
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A minha maior riqueza é de longe e será sempre a interior tendo herdado do meu avô grande parte desse legado.
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(João Pedro. Madrugada, Fevereiro de 2010)
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Publicada por João Naylor em 17:55 
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supergato8 de fevereiro de 2010 22:02
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João, numa incursão à tua página do facebook descobri o teu site e o teu blog. Curiosa, como me é próprio, resolvi espreitar:-). Agradou-me esta simbólica homenagem ao teu avô, de quem sempre te ouvi falar com muito amor. Um beijinho e até breve. Fúlvia
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Revision as of 11:14, 23 September 2021

Em elaboração

Elviro Augusto da Rocha Gomes. Professor. Escritor. Faro.


http://elvirismos.blogspot.com/ Este é um blogue em memória do meu pai, Elviro Augusto Rocha Gomes, poeta e escritor. Aqueles que quiserem adicionar poemas ou excertos de textos da autoria do meu pai, serão bem vindos. Muitos são versos cómicos, com uma inocência e candura que espelham a personalidade única do autor, que adorava “entreter”. Mas também há os poemas sentidos, que nos fazem sonhar e os poemas críticos às injustiças do mundo que nos fazem pensar.


https://www.escritas.org/pt/bio/elviro-da-rocha-gomes Poeta e ensaísta. Licenciado em Filologia Germânica pela Universidade de Coimbra, foi professor em Coimbra, no Liceu Camões, em Lisboa, e nos liceus do Funchal, Viana do Castelo e Faro, onde finalmente se fixou.Estreou-se aos quatorze anos como poeta no «Pim-Pam-Pum» (suplemento inantil do jornal O Século, tendo também colaborado no Tic-Tac (que se publicou entre 1930 e 1937), O Gaiato: semanário infantil, dirigido por Alice Ogando, Civilização, dirigido por Ferreira de Castro e Campos Monteiro, Notícias Ilustrado e Folha de Vila Verde. Mais tarde passou a colaborar em vários jornais e revistas, como: Labor, Correio do Sul, Algarve, Gazeta do Sul, Aurora do Lima, Vértice, Diário de Lisboa, Diário Ilustrado, Voz da Madeira, República, O Primeiro de Janeiro (página de «Artes e Letras») e Anais do Município de Faro.É autor de um Glossário sucinto para melhor compreensão de Aquilino Ribeiro, e traduziu Um Íntimo Furor, de Kamala Markandala (1958), e alguns ensaios de língua alemã.Foi director do Círculo Cultural do Algarve, sucedendo a Joaquim Magalhães (seu fundador), onde proferiu inúmeras conferências. Em 1990 foi-lhe atribuída a Medalha de Mérito, Grau Ouro, pelo Município de Faro, pelos serviços prestados nas áreas da educação e da cultura.


https://porabrantes.blogs.sapo.pt/para-um-roteiro-literario-de-constancia-6010967

« anterior | início | seguinte » Sábado, 7 de Agosto de 2021 PARA UM ROTEIRO LITERÁRIO DE CONSTÂNCIA O Zé Luz dá-nos uma preciosa evocação do dr.Elviro, um literato da velha Punhete, que marcou o ensino liceal e as nossas Letras e que os caciques analfabetos olvidaram......

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Mostra a tua língua, 1988, Elviro da Rocha Gomes.

Para um Roteiro literário de Constância

Elviro da Rocha Gomes, ilustre constanciense, poeta, escritor, tradutor e publicista, é reconhecido como responsável pela divulgação no nosso país de poetas de língua alemã. Depois da nossa crónica sobre outro poeta de renome da mesma vila, Tomaz Vieira da Cruz, com honras na enciclopédia britânica, destaque para um outro literato, Elviro, filho e neto das nossas gentes, autor de diferentes géneros literários.

Elviro Augusto da Rocha Gomes nasceu em Constância em 28 de Outubro de1918 e faleceu em Agosto de 2009. Era filho de Isidoro da Silva Gomes (escritor e autor de «Ímpetos Naturais» sobre Constância) e de Georgina Rocha, filha do marítimo João Rocha, a qual terá falecido aos 36 anos de idade, em Macedo de Cavaleiros.

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Dedicatória do escritor para o autor da presente crónica, em Setembro de 1989.

O autor licenciou-se em filologia germânica pela Universidade de Coimbra. Foi professor do Liceu em Lisboa, Coimbra, Funchal (para onde foi «desterrado» segundo alguns), Viana do Castelo e Faro (cidade onde se dedicou apenas à literatura).

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Poesia, Ilusões, 1988, por Elviro da Rocha Gomes.

Elviro Gomes foi poeta, escritor, tradutor e publicista, tendo sido responsável pela divulgação no nosso país de poetas de língua alemã. Foi Director do Círculo Cultural do Algarve e dinamizador de ciclos de conferências que marcaram a vida cultural da região na primeira metade do século XX. Escreveu para jornais e revistas, realçando-se: “Diário do Norte”, “Aurora do Lima”, “Gazeta do Sul”, “Algarve Ilustrado” e “O Algarve”, entre outros. Segundo o Jornal «Região Sul, que vimos seguindo de perto, Elviro Gomes marcou, «pela sua forma diferente de ensinar, gerações de alunos que passaram pelo Liceu de Faro». Em 1990, foi-lhe mesmo atribuída a Medalha de Mérito, Grau Ouro, pelo Município, «pelos serviços relevantes nas áreas da educação e da cultura». De acordo com o mesmo órgão de imprensa, «Elviro publicou dezenas de obras de poesia, boa parte com ilustrações de capa de Vicente de Brito e de José Maria Oliveira, sempre em edições de autor, que pontualmente oferecia a amigos, com a devida dedicatória".

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O literato Elviro da Rocha Gomes

No período de 1953 a 1969 terá beneficiado de uma bolsa de estudos no estrangeiro, através do Instituto de Alta Cultura.

Seguindo de perto a informação biográfico-literária do próprio autor (que procurei actualizar) com quem tive o prazer de trocar correspondência, podemos assim inventariar:

Com efeito, Elviro Gones é autor de vários livros, tendo cultivado os seguintes géneros:

Ensaio - «A alma nos grandes romances de Hermann Stehr, (1943).Albert Scheweizer (1957), O que eles disseram de Portugal, (1960), Vulpes Fabulosa (1960), Astros com luz própria (1961), Goethe (1962), A rosa na poesia (1962), Aves poéticas (1963), Apontamentos de literatura alemã (1966), Dificuldade de pensamento (1968), Impressões sobre poetas (1972), A ilha de Man (1973), Luz e lume na obra de Teixeira Gomes (1980), Hitler (1981), O riso de Fialho d’Almeida (1981), A crítica social na obra de Assis Esperança (1981, Enredando enredos (1982).

Poesia – Deixaste cair uma rosa (1955), Rua Longa (1956), José (1958), O longe e o perto (1960), O sul do meu país (1960), Helen Keller (1961), Entre parêntesis (1961), Bom tom (1963), Desenhos de alma (1964), Aceitar (1965), Sorridente (1968), Com licença (1969), O dia do pai (1969), A bruxa (1973), 25 de Abril (1974). Entender (1987). Ilusão (1988). Tréguas (2000).

Ficção em prosa – Libelinha (1962), Nem sempre (1967), Nel (1971).

Teatro – Crueldade (1959), Leopoldo Salvaterra (1959).

Estudos linguísticos – Glossário sucinto para compreender Emiliano da Costa (1956), Glossário sucinto para compreender Aquilino Ribeiro (s.d.), Como falam os alemães (1974), Mostra a língua (1982).

Traduções – Em Prosa: Educação e ensino nas escolas secundárias alemães (1943), A aranha negra, de Jeremias Gotthelf (s.d.), Um íntimo furor, de Kamala Markandaya (s.d.); em verso_ Ramo de flores exóticas (1959), Poetas que a guerra emudeceu (1964).

Inéditos – Henrique Verde (romance de Gottfried Keller (tradução), O jardim sem estações do ano (contos orientais de Max Dauthendey, (tradução), O candeeiro (Comédia).

No período de 1953 a 1969 terá beneficiado de uma bolsa de estudos no estrangeiro, através do Instituto de Alta Cultura.

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Glossário sucinto para uma melhor compreensão de Aquilino Ribeiro, por Elviro da Rocha Gomes, (s.d.).

O meu interesse pela obra de Elviro Gomes surgiu a propósito de uma visita que fiz nos anos 80 (entre muitas) a uma saudosa amiga, Liberdade da Pátria Livre, amiga do autor e por acaso, afilhada da Republicano Bernardino Machado. A Dona Liberdade era uma mulher de esquerda, seguidora de Maria Lamas. Não estranhei a amizade com Elviro, ele próprio considerado como «homem de esquerda» por discípulos seus.

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Foto em que surge ao centro e em grande plano, o professor Elviro da Rocha Gomes, retirada do blog de um dos seus filhos.

Da dona Liberdade recebi um poema de Elviro, em homenagem à Mónica Canhoto de Constância, publicado em "O Século", na rubrica "Pim, pam pum'".

Cá vai:

«Octopa, octopa!

Mónica canhoto,

mulher prazenteira,

era já velhinha

mãe trabalhadeira.


Sendo testemunha,

segundo se diz

lá no tribunal

disse-lhe o juiz:


-Em que é que se ocupa

Diga lá, mulher!

E então prontamente

pôs-se a responder:


-Ai, octopa octopa!

Que ofício esquisito!

(lhe diz o juiz)

Deve ser bonito!


Quê? Octopa? Octopa?

Em que é que trabalha?

Vai ela, explicou:

-Ó que topa! Ó calha.»

Elviro Gomes é considerado como um dos vultos incontornáveis da cultura farense. Tal reconhecimento levou à criação em 2019, pela União das Freguesias de Faro (Sé e São Pedro), Concurso Literário da União das Freguesia de Faro – “Elviro da Rocha Gomes”. O objetivo é, cita-se, «incentivar a criatividade e a produção literária em poesia e prosa, contribuindo-se assim para a defesa e enriquecimento da Língua Portuguesa e também para homenagear o poeta, professor e escritor Elviro da Rocha Gomes».

Jaime Gomes, filho do literato, tem procurado recolher e divulgar através do seu blog, a obra do pai. «Muitos são versos cómicos, com uma inocência e candura que espelham a personalidade única do autor, que adorava “entreter”. Mas também há os poemas sentidos, que nos fazem sonhar e os poemas críticos às injustiças do mundo que nos fazem pensar».

Exemplo desses versos cómicos? João Villaret leu na TV o poema «Vou de coche», de Elviro, que repesquei do blog de um seu sobrinho. Mas também há os poemas críticos que não perdem a sua actualidade…

«Os enganadores»

Agora os que nos mentem

e dizem que não mentem

os do conto do vigário,

os de lindas falas que induzem em erro

e os oráculos de Delfos

que eram vozes de pessoas escondidas:

a esses o desprezo.

Digam todos comigo:

Abaixo a exploração da boa fé!»


José Luz (Constância)

PS – não uso o dito AOLP. Na presente crónica procuro apenas compilar dados existentes e disponíveis. http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/EFEMERIDES/PonteSobreoTejo/Imprensa/OAlgarve_21Ago1966.pdf

Octopa Posted on 29 Maio, 2013 13:57 by ateneulivros Comment Octopa Octopa «€15.00» Elviro Rocha Gomes – Octopa – Edição de Autor – Faro – 1983. Desc. 85 pág / 21 cm x 15 cm / Br. – Edição 500 exemplares – «Com Autografo»

https://ateneulivros.com/?p=13549

(1918- 2009) O Professor Elviro Augusto da Rocha Gomes, natural de Constância, foi licenciado em Germânicas pela Universidade de Coimbra, onde leccionou, tendo posteriormente passado por liceus de Lisboa, Funchal e Viana do Castelo, vindo a fixar-se em Faro, onde desenvolveu grande parte da sua actividade de professor. Elviro Rocha Gomes foi poeta, escritor, tradutor e publicista, sendo responsável pela divulgação em Portugal de poetas de Língua alemã. Foi Director do Círculo Cultural do Algarve e responsável por um sem número de conferências que marcaram a vida cultural do Algarve em meados do século passado, tendo escrito para jornais e revistas, com destaque para “Diário do Norte”, “Aurora do Lima”, “Gazeta do Sul”, “Algarve Ilustrado” e “O Algarve”, entre outros. Elviro da Rocha Gomes marcou, pela sua forma diferente de ensinar, gerações de alunos que passaram pelo Liceu de Faro, tendo-lhe sido atribuída a Medalha de Mérito, Grau Ouro, pelo Município, em 1990, pelos serviços relevantes nas áreas da educação e da cultura. Publicou dezenas de obras de poesia, boa parte com ilustrações de capa de Vicente de Brito e de José Maria Oliveira, sempre em edições de autor, que pontualmente oferecia a amigos, com a devida dedicatória.

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https://imagenscompoemas.blogspot.com/2010/ Ovelha tosquiada

Tosquiaram a ovelha. Parece uma velha. Tão lisa e tão fria parece uma rã. Umas mãos hábeis roubaram-lhe o garbo tirando-lhe a lã. Assim ficou nua no meio do prado. Anda vaidade passeando na rua com lã que era sua. E ela anda nua.

Elviro Rocha Gomes (poeta popular - Faro)

Garça Real

Ó garça que agora moras Na mesma casa que eu onde estou eu também tu consideras tudo teu

Ó garça que voas alto e entre as nuvens perpassas lá em cima é só passeio ou alguma coisa caças?

Ó garça que me acompanhas em horas de solidão és tão meiga como um gato e tão fial como um cão

Só tens um grande defeito ás muito desconfiada quando vem alguém a casa ficas logo desconfiada

Ó garça não tenhas medo que ninguém te fará mal desejam é fazer festas à minha garça real

por agora aqui termino este meu canto corrido E mais não digo p´ra que ele não seja muito comprido.

Elviro Rocha Gomes Poeta popular


http://absorto.blogspot.com/2019/01/auschwitz.html A 27 de janeiro de 1945 as tropas soviéticas chegaram ao campo de concentração de Auschwit e libertaram os sobreviventes.

Tenho em casa uma brochura do meu velho professor de liceu Elviro Rocha Gomes, intitulada “Hitler – Quem foi e como chegou ao poder”, um libelo acusatório implacável do nazismo e do seu chefe.

Essa brochura abre com os números do holocausto. Entre muitos outros: “250 mil ou talvez perto de 300 mil (mortos) só em 1944, em Auschwitz; 8 milhões de mártires, ao todo, em todos os campos de concentração.”

Para que conste neste triste aniversário. Publicada por Eduardo Graça à(s) 10:00

http://joaonaylor.blogspot.com/2010/02/o-meu-avo-elviro.html O meu avô Elviro

ELVIRO AUGUSTO ROCHA GOMES (1918-2009)

O meu avô sempre foi um homem muito rico. O seu património era sobretudo o seu conhecimento, a sua cultura, a sua voz, a sua criatividade, o seu carisma, o seu interesse pelo próximo, as suas preocupações humanísticas, e por aí fora. Falar portanto sobre o meu avô é uma tarefa longa. Foi uma pessoa que marcou pela sua actividade como professor, escritor, tradutor e outros desempenhos na esfera cultural. Sei que causava uma impressão muito forte nas pessoas que se cruzavam com ele. Na Alemanha deram-lhe o epítome “Das unique”, ou seja “o único”. Além disto era o meu avô e é nessa qualidade que aqui o lembro.


Lembro-me de quando o meu avô ia visitar-me a Lisboa, na minha infância, da sua presença carismática. Uma vez, eu teria para aí uns seis anos, fomos a uma loja de roupa, deparando-nos com uma senhora visivelmente triste atrás do balcão, e enquanto eu via as roupas o meu avô foi conversando com a senhora, despoletando-lhe o riso. Provavelmente ofereceu-lhe também um dos livros que tinha sempre na sua mala a tiracolo. Depois de nos decidirmos quanto às roupas, um kispo e umas calças, a senhora insistiu em não cobrar nada, apesar do meu avô, cordialmente insistir em pagar. Ainda me lembro de a senhora, sensibilizada, afirmar que só uma pessoa como o meu avô para tê-la feito rir naquele momento!


Dávamos bons e grandes passeios a pé, dizíamos que íamos ver as grutas, e lá íamos nós confundindo pequenas clareiras em terrenos abandonados, ou hiatos em arbustos, com grutas. Jogávamos o jogo de descobrir o que um de nós estaria a ver, uma frase num cartaz, um sinal de trânsito, uma porta peculiar ou qualquer outra coisa que nós julgássemos difícil de o outro descobrir inserida no cenário dos nossos passeios. Conversávamos muito, o meu avô contava-me curiosidades históricas que eu apesar da idade ouvia atentamente graças á grande capacidade comunicativa do meu avô.


Tinha sempre um bloco de notas onde escrevia de imediato quando um poema ou uma ideia lhe ocorria, o que sucedia com muita frequência. Também gostava de desenhar com o que tinha á mão, esferográfica ou lápis. Desenhava caras, e as paisagens dos sítios por onde passava, a vista do apartamento onde eu vivia, a vista num jardim, ou numa esplanada de um café, etc.


Conversava abertamente com estranhos com quem se cruzava, e tinha um magnetismo que tornava gestos normalmente prosaicos e banais em momentos únicos repletos de humor como por exemplo comprar um bilhete de comboio, pedir uma informação, ser atendido num café ou num restaurante, etc.


Era sempre com enorme expectativa que eu aguardava as suas visitas e o privilégio de ouvir a sua voz grave e eloquente. Sabia agradar o neto, e íamos sempre comprar uma prenda ou mais. Quando estava em Faro e eu em Lisboa o meu avô enviava-me assiduamente postais em que descrevia episódios humoristicamente através de desenhos onde ele aparecia com o escasso cabelo desgrenhado e óculos contracenando comigo de calções e pernas tipo caniços.


Todas as suas atitudes comigo eram pedagógicas, sempre me disse: “não deixes para amanhã aquilo que podes fazer hoje”. Instigava-me a desenhar ou a fazer composições, obras essas que me pagava sempre em dinheiro, guardando-as religiosamente numa gaveta. Um dia surpreendeu-me com uma carta que mencionava um prémio de desenho que eu tinha ganho, pois, sem me ter dito nada, o meu avô tinha enviado alguns desenhos meus para um concurso.


Depois de os meus pais se terem divorciado vivi com o meu avô e a minha mãe na casa dele. Nessa altura eu queria uma mesa de snooker ao que o meu avô sugeriu que a construísse. Fiz duas tentativas com materiais diversos, madeira, cortiça, uma mesa velha e após tê-la terminado o meu avô comprou-me um taco mas colocou-se o problema de arranjarmos umas bolas adequadas, e, depois de tentarmos jogar frustemente com bolas de ping-pong fomos á procura duma loja que vendesse bolas de golfe. Foi uma busca diligente, viajámos de comboio, andámos kilometros a pé, percorremos estradas difíceis até finalmente chegarmos à loja de que nos tinham informado nas nossas indagações. O meu avô determinado não tinha deixado esmorecer o meu pequeno sonho.


Em casa, foi no Jardim cheio de história, construído com carinho pelo meu avô, denominado Jardim da Concórdia que passámos algumas das nossas melhores convivências. Anos mais tarde, depois de ter voltado para Lisboa e novamente voltado a morar com o meu Avô, por volta dos meus 17 anos, foi no Jardim da Concórdia que esculpi o busto do meu avô em barro.


Nessa altura apesar da idade do meu avô rondar os 80 anos ele mantinha a mesma vitalidade com que sempre o conheci. Lembro-me de o ver empoleirar-se num muro estreito do Jardim para apanhar umas nêsperas. Continuávamos a fazer grandes caminhadas, por uma ou duas vezes fomos a pé de Faro até à praia de Faro, que presumo serem sensivelmente 8 Km, e voltámos a pé.


Mais tarde ainda, quando eu já tinha a minha mulher o meu avô passou a ser a nossa companhia predilecta, contagiando-nos com a sua presença e o seu bom humor, nas jantaradas ou almoçaradas para as quais ele frequentemente nos convidava.


Octogenário, era ainda um homem extremamente activo. A demonstrá-lo refiro por exemplo que se surgisse nas nossas conversas alguma dúvida sobre o significado exacto de uma palavra, ou qual a palavra mais apropriada para determinado contexto, o meu avô sem meias medidas ia imediatamente consultar a sua biblioteca. Era comum vê-lo de madrugada agarrado a um livro, a fazer um tradução ou a escrever poesia. Poemas que mos lia, amiúde, com grandes qualidades de actor. Quando hoje leio os seus poemas parece que quase ouço a sua voz, grave, eloquente e vivaz.


Parecia imortal mas veio a doença, no entanto, apesar do seu sofrimento, nunca quis de maneira nenhuma preocupar os outros e mostrou uma dignidade enormíssima. Nas primeiras vezes em que foi parar ao hospital em risco de vida, depois de ter ultrapassado os momentos mais críticos, continuava a fazer rir quem o rodeava.


Ainda houve duas vezes em que o meu avô me surpreendeu no meu local de trabalho dessa altura, tendo se deslocado a pé, uma distância considerável para irmos comer uns caracóis.


A minha maior riqueza é de longe e será sempre a interior tendo herdado do meu avô grande parte desse legado.




(João Pedro. Madrugada, Fevereiro de 2010)



Publicada por João Naylor em 17:55 Enviar por e-mail Postar no blog! Compartilhar no Twitter Compartilhar no Facebook Compartilhar com o Pinterest Um comentário:

supergato8 de fevereiro de 2010 22:02 João, numa incursão à tua página do facebook descobri o teu site e o teu blog. Curiosa, como me é próprio, resolvi espreitar:-). Agradou-me esta simbólica homenagem ao teu avô, de quem sempre te ouvi falar com muito amor. Um beijinho e até breve. Fúlvia

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