Difference between revisions of "Dias, Francisco Manuel Palma"

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  Poeta. Encenador.  
 
 
  Poeta. Encenador. Fez os seus estudos em Faro e Coimbra e muito cedo emigrou. Levou consigo a cultura algarvia e em Bruxelas fez a primeira encenação mundial da obra de António Aleixo com o grupo de teatro A.P.E.B., Associação dos Portugueses Exilados em Bruxelas. Na segunda década dos anos sessenta continuou o seu trabalho no grupo Prego na Língua (Teatro Laboratório). Nessa altura encenou a peça Três Fósforos, da poetisa algarvia Teresa Rita Lopes. A partir de 1995 voltou ao seu Algarve, onde se dedica à agricultura, à poesia e ao budismo tântrico.
 
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Fez os seus estudos em Faro e Coimbra e muito cedo emigrou. Levou consigo a cultura algarvia e em Bruxelas fez a primeira encenação mundial da obra de António Aleixo com o grupo de teatro A.P.E.B., Associação dos Portugueses Exilados em Bruxelas. Na segunda década dos anos sessenta continuou o seu trabalho no grupo Prego na Língua (Teatro Laboratório). Nessa altura encenou a peça Três Fósforos, da poetisa algarvia Teresa Rita Lopes. A partir de 1995 voltou ao seu Algarve, onde se dedica à agricultura, à poesia e ao budismo tântrico.<br />
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FranciscoPalmaDias.jpg

Francisco Manuel Palma-Dias
Castro Marim, 1942

Poeta. Encenador. 

ANTELÓQUIO

...haustas montanhas sossegadas onde enrolado em leite o sol renasce
com templos de colmo e castelos de Espanhas nos cabelos
salgada espera
hispérido futuro eis a tua canga e o jugo dos teus bois.
Hortos de laranja
vinhos coruscantes
e uma mesa sóbria debruada a esteva
e grão a grão o granito dá azeite.
Ocres rendas de birlo e de amêndoa, oiro
na voz grave em filigrana
mãos que escalpam um deus que se derrama e se incorpora
a taliscas de pão, a estiva e broa pela popa e pela proa.
Docemente
torres de canela onde a besta se esgana, claro assento
eis o menino, o vasto
murmurando do largo
um só apêlo luze
perpassa na reixa
o puro anseio orando
cruzeiro do sul e de sempre
dentro do teu centro eu me nutro e expando
e vejo
e escuto
e escrevo apenas porque canto.

Lembro as terras de infância o sossego do sal
As águas lentas dos esteiros, a foz
Do Guadiana
O voo das francelhas do castelo
Cometas e morcegos, gaviões do cair da noite no
[crescer do Verão
O porto-cais de madeira com a lua cheia
... cheira a Japão e China
A rio com os tamancos mouros
A maresia
A levante
Com o sapal branco de gaivotas na tormenta
[Terra marismeña]
Piras de Sal
Nortada (restêvas)
Fadas e moiras
Quimeras (relento)
Lume brando do caldeiro
Panela de ferro
Cozido com xíxaros e peras
Toucinho amanteigando o pão
O forno de São Bartolomeu, o barrocal, o arvoredo
A feira de Setembro com os pêros, suspiros e copinhos de medronho
A corredoira
A estila
O nógado, a casa do azeite e o lagar
Avô de chapéu, cajado, barbas como vi na Índia
O prazer de um figo na ialva e
Atravessar em Monchique, a floresta do Norte
Luz que desmamou, pais
Na volta à terra pelo São João
Fogueiras, mastros, murta e alecrim, ninhos
Aldeias de laranja
Ou o Senhor Morto matraqueando a noite
A noite noite, noite de capuzes
Noite balandrau
Noite de velas incenso, damasco roxo
Noite de salmoira
Grave
Com o rosmaninho atapetando o chão
E as mulheres gritando a agonia
A infinda morte naufragada.
Perfumes de mistura, farrôba e marmelo
Arrôbe
Adega com vinho
Açôrda com poêjo
Açafates de bilros
Meias de cinco agulhas, mantas de Serra
Água do Cabeço, barca, ameijoas
Conquina, as pinhas do mirante
Um escorpião de oiro
O sussurro onde tinem todas as estrelas e
Em grandes abóboras, cintilantes
Carroças da bela adormecida...
... ai o que nos resta de um país azul
Serão os velhos livros, suas capas lindas
Ou serão histórias da Senhora dos Mártires
Promessas pagas com trigo e azeite, cera e frangos
Oiro, a marca das fitinhas
A seda de todas as cores
A prôa de Sagres
O cavaleiro andante da eterna mocidade?
O mal se espanta
Descobre-se
Que não cansa
Sempre alcança, continua
Cantado
Trauteando
Pela rua do Estácio
Atravessas Tudo.

Alvorada

Lembro as terras de infância o sossego do sal
As águas lentas dos esteiros, a foz
Do Guadiana
O voo das francelhas do castelo
Cometas e morcegos, gaviões do cair da noite no crescer do Verão
O porto-cais de madeira com a lua cheia
... cheira a Japão e China
A rio com os tamancos mouros
A maresia
A levante
Com o sapal branco de gaivotas na tormenta

Terra marismeña

  • Notas Biográficas

Fez os seus estudos em Faro e Coimbra e muito cedo emigrou. Levou consigo a cultura algarvia e em Bruxelas fez a primeira encenação mundial da obra de António Aleixo com o grupo de teatro A.P.E.B., Associação dos Portugueses Exilados em Bruxelas. Na segunda década dos anos sessenta continuou o seu trabalho no grupo Prego na Língua (Teatro Laboratório). Nessa altura encenou a peça Três Fósforos, da poetisa algarvia Teresa Rita Lopes. A partir de 1995 voltou ao seu Algarve, onde se dedica à agricultura, à poesia e ao budismo tântrico.

  • Bibliografia

- Cante Quinto, Guimarães Editores, 1981;
- Ode Imperial, Guimarães Editores, 1983;
- Onde a Terra Acaba Amar Começa, Guimarães Editores, 1985;
- Finisterra-Flash, Editorial Minerva, 1988.

Livrospalmadias.JPG

In Facebook de Fernando R. Luis de 11 de julho de 2019. CICLO DE POETAS ALGARVIOS, Nº. 77, CASTRO MARIM.

  • Veja mais sobre Francisco Manuel Palma Dias nos seguinte links

- 2015 - A Companhia das Culturas ou a celebração de um lugar Um lugar único, o Algarve d’aquém e de além-mar. Quem se sentar com o poeta Francisco Palma-Dias ouvirá logo falar nas maravilhas resultantes da fusão dos climas continental, mediterrânico e atlântico e de séculos e séculos de relações entre povos, sobretudo com os do outro lado do mar.